A expectativa era alta: Portugal poderia vir a integrar a lista de destinos seguros para os britânicos poderem viajar sem a obrigação de quarentenas no regresso, na nova revisão do processo. Mas o Governo de Boris Johnson voltou a dar cartão vermelho a Portugal, à semelhança do que fez da primeira vez, a 6 de julho, deixando o país de fora dos destinos para onde os britânicos podem viajar sem restrições, noticia o Expresso.
À lista de 59 destinos que já tinham “luz verde” do Reino Unido para ponte aérea, juntaram-se mais cinco países (Estónia, Letónia, Eslováquia, Eslovénia e São Vicente e Granadinas), mantendo-se Portugal de fora. As reavaliações são feitas semanalmente (pode haver por isso mudanças nas medidas se houver novos dados) e as medidas de controlo de fronteiras são atualizadas de 28 em 28 dias (neste caso, até 24 de agosto), pelo que o verão turístico português pode ficar praticamente perdido em relação aos britânicos.
Esta quinta-feira, o jornal “The Times” tinha avançado que Portugal estava bem encaminhado para entrar na lista de corredores aéreos com o Reino Unido nesta segunda fase, frisando que o Governo britânico estava em vias de ceder à “pressão poderosa” por parte da diplomacia do Governo português neste sentido.
Também o jornal britânico “Daily Telegraph” tinha avançado que o levantamento das restrições a Portugal podia eventualmente ser feito através de “corredores aéreos regionais”, destacando que as regiões portuguesas da Madeira, Açores e Algarve tinham um número reduzido de casos em comparação com Lisboa, sendo os destinos mais populares do país para os turistas ingleses.
“As pontes aéreas regionais são uma opção para países com surtos localizados”, tinha dito ao “Daily Telegraph” uma fonte do Ministério dos Transportes do Governo britânico na quarta-feira.
MADEIRA E AÇORES NÃO SÃO DESACONSELHADOS PARA VIAGENS PELO GOVERNO BRITÂNICO
Para a Madeira e os Açores, a expectativa era que passassem a ser oficialmente integrados na ponte aérea com o Reino Unido com esta revisão, no mínimo através de corredores regionais, tendo em conta que a situação epidemiológica está controlada nestes arquipélagos, e que são feitos testes de rastreio aos passageiros ao chegar ao destino.
Os governos regionais da Madeira e dos Açores estão ainda a aguardar esclarecimentos sobre a sua inclusão ou não na lista dos destinos considerados seguros para corredores aéreos com o Reino Unido sem os cidadãos britânicos terem de fazer quarentenas no regresso, segundo avançaram ao Expresso.
Já no primeiro chumbo do Reino Unido a Portugal, com efeitos a partir de de julho, gerou confusão aos Governos da Madeira e dos Açores o facto deste processo envolver duas listas. A primeira lista excluía declaradamente Portugal da lista de destinos aprovados pelo Reino Unido, mas na segunda lista a Madeira e os Açores figuravam como destinos onde as viagens não eram desaconselhadas pelo Governo britânico por terem números baixos de casos de covid-19.
Na altura, as regiões autónomas portuguesas tinham dito que queriam ver esta situação melhor esclarecida pelas autoridades britânicas, no sentido de apurar se os viajantes ingleses que chegassem à Madeira ou aos Açores por voos diretos ou ‘charters’, sem terem de passar por outros aeroportos como Lisboa ou Porto, ficavam isentos de quarentenas no regresso ao Reino Unido – o que, afinal, não se concretizou.
ALGARVE DIZ ESTAR A SOFRER POR CAUSA DE LISBOA
Para o Algarve, onde o turismo britânico representa cerca de um terço do total e é responsável por 50% dos passageiros no aeroporto de Faro, as perspetivas são desanimadoras.
“É mais do que um ano perdido”, garante Elidérico Viegas, presidente da Associação de Hotéis e Empreendimentos Turísticos do Algarve, enfatizando que “o certo é que o Algarve ficou praticamente fora da pandemia, e foi fortemente prejudicado por critérios que não levam em consideração outras realidades”.
Já em relação ao primeiro chumbo do Reino Unido a Portugal, “nunca escondemos a desilusão com esta decisão”, salienta o presidente da AHETA. “Estávamos confiantes que este ano faríamos receitas que ajudassem a esbater os meses de pandemia, que obrigou a 100% de paragem em março, 90% em abril e maio, e a nossa esperança eram julho e agosto”.
Segundo o responsável da associação hoteleira do Algarve, os critérios que levaram o Reino Unido a excluir Portugal, já da primeira vez a 10 de julho eram “incompreensíveis, tiveram como base as infeções por cada 100 mil habitantes, que ocorrem sobretudo na zona da cintura de Lisboa, e que acabou por afetar o resto do país”.
O presidente da AHETA sustenta que neste processo deveria ter sido feita uma avaliação por região, e não por país, “como acontece em Espanha, há zonas turísticas espanholas com regras diferentes do resto do país, como por exemplo as ilhas Baleares”.
Elidérico Viegas sublinha ainda que “alguns ingleses acabaram por vir na mesma ao Algarve, mas dá para ver o impacto negativo que isto está a ter”. O responsável da AHETA salienta que “os meses de julho, agosto e setembro são os meses do turismo por excelência e muita gente que tinha marcado viagem ao Algarve cancelou, muitos já não vieram e foram para outros destinos”, conclui o Expresso.