O Algarve perdeu com a pandemia de covid-19, entre janeiro e novembro de 2020, aproximadamente 62% das dormidas, num total de perdas de 725 milhões de euros, estimou o presidente da delegação regional da Ordem dos Economistas.
Numa conferência virtual organizada pelo Rotary Clube de Faro, Luís Coelho destacou que o número de dormidas na região baixou de “20,2 milhões” em 2019 para “7,7 milhões” em 2020, entre janeiro e novembro, segundo dados do Instituto Nacional de Estatística (INE).
Segundo aquele responsável, trata-se de uma quebra de “62% na procura turística”, decorrente da “ausência de turistas internacionais” na região, no decurso do ano passado, devido à pandemia de covid-19.
Financeiramente, a quebra traduziu-se numa redução de “1,2 milhões de euros” em 2019 para “475 milhões” em 2020, que correspondem a um total de perdas estimado em 725 milhões, equivalente a “62% dos rendimentos” perdidos pela região nos estabelecimentos hoteleiros classificados.
Para o economista, a “não existência de uma época estival” traduziu-se na incapacidade de absorção dos desempregados sazonais na região e na existência de “33 mil inscritos” no Instituto de Emprego e Formação Profissional (IEFP), um aumento de “60% face a 2019”.
Presente na conferência, a delegada de Saúde de São Brás de Alportel – quando questionada sobre uma eventual recuperação conseguida através da vacinação e a criação de uma imunidade de grupo – defendeu que apenas deverá ser conseguida com “mais de 70%” da comunidade, algo que poderá não chegar já em 2021.
“Setembro é muito cedo [para uma eventual recuperação]. Desde o ano passado que digo que não vai ser setembro. Se em 2021 conseguirmos um Natal mais tranquilo acho que já vamos bem e podemos relaxar medidas”, afirmou Filomena Horta Correia.
A médica de saúde pública destacou que as recentes variantes demonstram que dificilmente se poderá “ficar descansado” e que vai ser necessário “tentar prever algumas destas mudanças”, o que, somado à capacidade de vacinar “quase toda a população”, possibilitará “voltar a uma vida novamente”.
Isso só será conseguido se “ao longo dos anos” houver a capacidade de “produção de vacinas” utilizando as estirpes “existentes em circulação nos anos anteriores” e houver planeamento nos serviços de saúde, apontou.
A responsável considerou essencial que a região consiga melhorar a capacidade de captação dos profissionais que forma, o que se consegue com o “rendimento adequado” e dando “qualidade de trabalho”, afirmou, sublinhando saber “onde está o problema” na sua área.
“Continuo a dizer que é preciso comando, capacidade de liderança e uma excelente comunicação. Parte muito do homem ou mulher que vai ao leme, as parcerias que escolhe fazer, se ouve ou não todos os que estão à sua volta e se sabe traçar o rumo correto, sendo proativo”, advertiu.
No ponto de vista de um cenário pós pandemia, o terceiro orador, o antigo deputado e parlamentar europeu José Mendes Bota, destacou que o Algarve “está preparado para um turismo de luxo”, mas também para “acolher um turismo de massas” já que não vão “destruir e deitar a baixo” os grandes prédios.
No entanto, Mendes Bota notou que “deveria haver uma reflexão” sobre o porquê de “ainda se aprovar e construir” edifícios que “favorecem sobretudo o mercado turístico de massas”.
Recordando que “esta não é a primeira crise do turismo algarvio”, das quais a região conseguiu sempre reerguer-se, o ex-deputado comparou a situação atual a uma guerra.
Apesar de ser uma guerra “sem bombas”, “põe em causa muitos milhões de vidas”, contudo, “a seguir às grandes guerras” seguiram-se grandes ‘booms’”, algo que acredita que virá a acontecer.