… Desidério Lázaro
Teve um filho, escreveu música para vários discos, plantou uma editora (Sintoma Records). Embora Lisboa seja a eterna capital de sonhos e aprendizagens, o centro nevrálgico de experiências e experimentações, o palco mais visível para pautas e sons, o músico/compositor tem o desiderato de voltar à sua terra natal. A fuga para o sul, esse espaço aberto mas íntimo, que continua a ser o sempre abrangente horizonte de inspiração azul sem fim. Na capa (um passadiço de acesso ao areal de uma praia) do recente disco ‘Moving’, o saxofonista tavirense desloca-se para um novo nível, levando o filho pela mão, como quem leva a sua obra a crescer para o futuro. Toca a 2 de junho (22h) no Ciclo Serões da Primavera, na Casa do Povo de Santo Estevão, Tavira.
… Artur Aleixo
Depois de terminada essa experiência inigualável, impagável que é ser editor de música pop, que viveu entre 2010-2016 com a LebensStrasse Records, Artur Aleixo continua agora pelas bandas do Algarve, de sotavento a barlavento, numa outra missão também ela nobre, desgastante e pouco reconhecida – é professor do ensino básico. Mas esse vício de arriscar, não o deixa. Um dia jogou borda fora tudo o que tinha escrito. Agora voltou à literatura com o livro ‘AEVUM’. O próprio autor faz a analogia da edição deste conto com os discos, dizendo tratar-se como que de um EP, o qual se juntando a outros, poderá formar um LP mais uniforme, revelador, completo, no que já traz de aliciantes pistas narrativas e temáticas. A leitura pode comprová-lo.
«Sentiu que vira o ocaso do universo. Um registo prévio a qualquer memória, que impediu a existência de ser mais que uma remota sensação».
… Filipe da Palma
Costuma dizer que basta o céu se abrir de azul para o impelir a sair à rua de máquina em riste e captar o que é o ‘Algarve’, com o que tem de positivo e negativo. A verdade está lá fora. A vida como ela é.
Daí desenvolve as séries de composições que vai apresentar na exposição que inaugura a 13 de Abril, pelas 18 horas, na Galeria da Casa Álvaro de Campos – Tavira (rua da galeria, 9-C, junto à igreja da misericórdia). São: «Composições de imagens que remetem para uma recolha fotográfica de elementos ainda pulsantes, ainda tangíveis, de uma certa Arquitectura produzida na região Algarvia. Composições temáticas que se caracterizam pela unicidade de cada elemento, erigidos ao longo de todo o território, durante décadas, marcando-o de forma indelével com suas formas, cores e ostentação. Composições de conjuntos temáticos de um património que não sendo reconhecido enquanto tal, tem nestes resilientes vestígios o testemunho não somente de o ser mas de existir ainda, contrariando as tendências com que se vai revestindo o conceito Património. Composições cujo conteúdo – por se constituir em matéria e orgânico legado – se relacionado com um passado recente nos oferece no presente um número já residual de exemplares necessitando para sua sobrevivência de ser compreendido, vivido e acarinhado; estudado e divulgado.».
… Joana Rosa Bragança
Qualquer artista é um produtor de personagens e ambientes, um criador de sonhos e exposições. E ele há artistas que se sobrepõem em carácter e imagem pública à sua própria obra, mesmo se em detrimento dessa ou não.
No caso de JRB, na sua timidez natural, ela dá mais espaço e visibilidade ao que pensa ser mais importante na sua arte – a sua expressão artística, que importa mais que a popularidade, tal como se define nestes dias. Não gosta de grandes discursos e apresentações ou de falar muito de si e explicar a sua obra, que temos de concordar, fala por si, e bem. A acompanhar em joanarosab.com .
… João de Deus
Nasceu a 8 de Março de 1830, na terra algarvia de São Bartolomeu de Messines, como filho de modestos comerciantes aquele que viria a ser considerado o poeta do amor: «Vi esse corpo de ave,/ Que parece que vai/ Levado como o Sol ou como a Lua/ Sem encontrar beleza igual à sua; /Majestoso e suave,
Que surpreende e atrai!» (Adoração). Mas a sua obra mais conhecida viria a ser a Cartilha Maternal (1886), destinada a ajudar a aprendizagem da Arte de Leitura, onde demonstra a sua sensibilidade para com os problemas da educação: «(…)offerecemos neste systema profundamente prático o meio de evitar a seus filhos o flagello da cartilha tradicional.» (Cartilha Maternal). Para isso muito terá contribuído o sonho tornado real na vida do poeta nascido no Algarve, de um país onde o analfabetismo era uma tragédia.
… João Miguel Pereira / Pedro Oliveira Tavares
A dupla regressa aos livros em comum, agora com ‘Ruas’ (Arandis Editora), e desta vez em prosa muito poética apresentam um roteiro de impressões, vivências ficcionadas ou não, nas suas variantes mais sentimentais ou apenas de constatação material ou física. Dos textos introdutórios destapam-se aqui dois pequenos apontamentos para criar a expectativa da leitura, até ao lançamento do livro a realizar no dia 21 de Abril (16h), na Biblioteca Municipal Vicente Campinas em Vila Real De Santo António. Escreve Manuel Neto dos Santos: «Se, no plano geral da escrita, João Miguel Pereira faz “incursão” rumo ao universal… partindo da sua postura cívica, ética, cultural, Pedro Oliveira Tavares remete-nos para a sua “convivência” com materialidade da linguagem física estabelecendo a relação interior com os afectos, com o amor, ou antes com a desilusão pelas azinhagas de um sonho.»; Refere ainda Fernando Cabrita: «Um livro que é, pois, e simultaneamente, um exercício de memória, de ficção e de literatura. E que cada um, lendo-o, encontre, a cada texto, a rua que traz para sempre no seu coração.»
(Artigo publicado no Caderno Cultura.Sul de Abril)