Esta história merece ser contada. O Brasil é o quinto maior país do mundo. Tem 26 Estados e nos últimos censos, em 2017, tinha 209,3 milhões de habitantes. Rodrigo Silva tem 27 anos e nasceu em Bauru, uma pequena cidade no interior de São Paulo.
Numa visita a Portugal, onde veio apenas tratar de assuntos pessoais, o jovem decide conhecer os bares farenses e, num deles, encontrou Andrei Serotini, que estava a tocar. Rodrigo Silva ficou a apreciar o concerto e admite que “ele estava a cantar em inglês mas eu percebi logo que era brasileiro”. Em seguida decide pedir uma música. A resposta que obteve de Andrei Serotini foi negativa, pois ele não tocava aquela música.
Em seguida, Andrei convida Rodrigo para tocar a música que ele havia pedido. Nisto, o recém-chegado a Portugal sobe ao palco. No final do concerto, os dois trocaram algumas impressões, nomeadamente, as suas origens. Rodrigo confessa que “eu disse-lhe que era de Bauru, mas que ele não deveria conhecer, pois é uma cidade no interior”. A surpresa vem quando Andrei responde que era exatamente da mesma cidade. E foi assim que o caminho dos dois jovens se cruzou.
Andrei Serotini tem 27 anos e fez a sua licenciatura em Portugal. Ingressou no curso de Ciências da Comunicação, com o sonho de ser jornalista. Uma das suas paixões é a banda Beatles. Desde que chegou a Portugal que o músico tocava em alguns sítios da “Rua do Crime”.
Em conjunto com Allan Abade, já tinham pensado criar um projeto musical, mas o primeiro ensaio nunca tinha chegado. Allan tem 26 anos e também é brasileiro. Nasceu em Santos, uma cidade no sul de São Paulo. Para aumentar as coincidências, Rodrigo passava férias na sua cidade com frequência e diz “talvez já nos tenhamos cruzado ou até tenhamos saído juntos lá”. Se pensarmos, os três já se podem ter cruzado no Brasil, mas foi Faro e a música que os uniu.
Formação da banda aconteceu de forma natural
A formação da banda acontece de forma natural. A voz principal é de Andrei, que também toca violão ou guitarra. Rodrigo assume a voz secundária e toca baixo. Já Allan toca cajon. A escolha do nome, porém, “foi para despachar, não sei se amamos o nome ou não”, como assume Andrei Serotini entre risos.
A formação das palavras “The Threw” é difícil de pronunciar e de escrever. Allan Abade vai mais longe e diz que “não nos acostumámos e as pessoas erram muito”. A verdade é que nos cartazes já foi escrito o nome de diversas formas, o que não é problema para a banda e até lhe causa alguma piada. Com o nome decidido, o próximo passo foi encontrar um reportório que representasse os três. A tarefa não foi difícil e a sintonia dos jovens brasileiros notou-se mais uma vez, pois os estilos musicais e os gostos são parecidos. Das suas músicas, fazem parte “A Hard Day’s Night” e “Eight Days a Week”, ambas dos Beatles. Existem também algumas músicas em português do cantor Gilberto Gil.
Os ensaios da banda decorrem precisamente durante os concertos e esse é dos maiores segredos do grupo. O improviso marca as atuações e vinca a naturalidade como a energia passa para o público. Há cerca de de 3 anos e meio que a banda se juntou. Rodrigo Silva deu o mote para começarem a atuar na rua, pois ele já o fazia quando viveu em Dublin.
Os “The Threw” assumem- -se com uma banda de rua e assim querem continuar. São felizes a tocar na Marina de Faro, com o pôr do sol atrás. Andrei Serotini diz que “quando tocamos em bares noturnos, tocamos para um público específi co” e Allan Abade completa em tom de brincadeira “que no noutro dia nem se lembra do que aconteceu”.
Tocar na rua é estar em contacto direto com as pessoas
Tocar na rua é para os três estar em contacto direto com as pessoas. Admitem sentir-se muito acarinhados pela população algarvia. A verdade é que já conhecem muitos moradores e até enumeram alguns nomes. Durante os concertos interagem muito com o público. Allan conta que “existe uma senhora que tem uma quinta e quando nos ouve tocar traz sempre três bananas”. É esta a interação de que falam e que talvez em palco não seria possível, pois estariam “acima do público” e o contacto iria ser menor, uma vez que “não consegues transmitir a energia quando tocas num palco”, diz Allan.
Graças às suas atuações na Marina, os “The Threw” foram convidados pelo Café do Coreto para tocarem mais vezes na Baixa de Faro, o que deixou a banda muito contente. Numa das suas atuações, uma senhora pediu- -lhes o contacto mas, como referem “não esperamos nada em troca quando nos pedem o contacto”. Contudo, dois meses depois foram convidados para a apresentação de um relógio da marca Channel, em Madrid. Os convites começaram a surgir e a levá-los mais longe. O próximo objetivo é lançar alguns originais, em plataforma digital ou mesmo nos concertos.
A banda confessa que a história mais engraçada que lhes aconteceu foi quando, durante uma atuação, uma cegonha voou perto da caixa que eles usam para o público deixar dinheiro e deixou uma carcaça de peixe lá dentro, como se fosse a sua oferta pela atuação. É uma história curiosa, se atendermos também ao facto de que a cegonha já foi o símbolo ofi cial de Faro. Para além desta história, os “The Threw” já serviram de banda sonora para um pedido de casamento.
São histórias que marcam a banda e que os vão acompanhar pela estrada. Se encontrar Andrei Serotini, Rodrigo Silva e Allan Abade nas ruas a tocar, lembre-se que é lá que eles são felizes e que os “The Threw” querem continuar. As ruas algarvias continuarão a ser o palco destes jovens músicos.