O sonho de Sónia Luz era apoiar a população mais vulnerável da freguesia de Quarteira, a sua cidade natal. Para ela, foi um “chamamento” conseguir empoderar as populações excluídas, estigmatizadas e vulneráveis.
A “Associação Akredita em Ti” foi criada com elevado sentido de missão e compromisso, para apoiar a população mais carente. O primeiro passo foi inserir-se num bairro social. Contudo, para conseguir realizar um verdadeiro trabalho de intervenção, seria preciso um apoio maior, que foi conseguido através do financiamento do Programa Escolhas, que é promovido pela Presidência do Conselho de Ministros e integrado no Alto Comissariado para as Migrações – ACM, IP. Assim foi durante dois anos.
Sónia Luz acredita que “as desigualdades, são a causa de pessoas com imenso potencial acabarem quebradas e seguirem caminhos que nada têm a ver com o seu real propósito de vida”. A sua infância não foi fácil, “sobretudo por ter sido pautada por negligencia e maus tratos”. A forma que encontrou para não cair no abismo, foi querer lutar para conseguir apoiar todos aqueles que se encontram em situação de vulnerabilidade social, especialmente crianças e as suas famílias. No final do curso de Educação Social, Sónia Luz foi convidada pela Fundação António Aleixo a criar a Associação Juvenil Akredita em Ti, entidade esta que hoje é a entidade gestora do Projeto Akredita+ E7G.
Quando abraçou e fundou a associação, foi com “elevado sentido de missão e compromisso”. A missão, contudo, faz-se de altos e baixos e o mundo precisa mais do que nunca da união e solidariedade de todos. A pandemia de covid-19 está a encher hospitais e é preciso material para salvaguardar a proteção dos profissionais de saúde, que lutam diariamente para combater o vírus que nos colocou a todos confinados em casa.
O Hospital de Faro pediu a colaboração à comunidade para conseguir materiais de proteção para combater o covid 19. Neste sentido, Sónia Luz explica que “contactei as meninas e mulheres ciganas no sentido de perceber se estariam dispostas a ajudar, tendo elas aceite com entusiasmo e ânimo este desafio”. Desta forma, a atividade seguiu para a etapa seguinte: a compra de materiais e verificação dos moldes, validação dos mesmos junto do hospital. Neste momento, as voluntárias encontram-se a confecionar botas de acordo com o solicitado pelo hospital. “Talvez este vírus seja uma lição para todos nós”
A missão destas mulheres está a decorrer a todo o gás e tem o apoio do programa governamental de âmbito nacional, promovido pela Presidência do Conselho de Ministros e integrado no Alto Comissariado para as Migrações – ACM, IP, Câmara Municipal de Loulé e Junta de Freguesia de Quarteira. Sónia Luz apela que “os custos inerentes a projetos como este são sempre elevadíssimos, e aceitamos donativos de particulares ou empresas para este fim”. Os resultados estão a surpreender todos.
O projeto é, no entanto, composto por outras mulheres que não são de etnia cigana. A colaboração de todas está a ser positiva a nível educacional, onde partilham conhecimentos, e nível cívico e emocional, uma vez que estão a lutar por uma causa social, que ultrapassa raças e etnias. Sónia destaca que este ano, pela primeira vez, houve representação ativa da comunidade cigana no desfile do Carnaval (evento que contribui para a economia local) e que este vírus “está a apelar para uma maior cooperação social e comunitária, ou seja em colaboração e sem julgamentos”. A população de etnia cigana encontra-se, muitas vezes, excluída e não lhes é dada condições para desenvolverem a consciência de que podem ajudar e que podem ter um importante papel no desenvolvimento da sociedade, o que mudou com a pandemia do novo coronavírus e comprova que todos são capazes e válidos para a sociedade.
Talvez este vírus seja uma lição para todos nós. Quem o diz, é Sónia Luz, que reflete que “não adianta pensar que os problemas dos outros não nos baterão à porta, pois a doença não tem estrato social ou económico”. A fundadora do projeto Akredita+ E7G diz que no fim de tudo isto, “vamos sair daqui mais unidos, mais iguais e com mais cooperação e amor entre todos”. Esperemos que o covid-19 que hoje nos afasta e obriga a uma distância social de 2 metros, no futuro possa ser a aproximação de pessoas.