Poète maudit… existe um inexorável romantismo nestas palavras. Quem consegue resistir-lhe? Facilmente a nossa mente viaja para terras distantes e surgem nomes como Rimbaud, Van Gogh, Genet… Nem todos foram poetas mas todos foram, à sua maneira, grandes artistas.
O cimento que os une é o de vidas corrosivas e autodestrutivas à margem de uma sociedade encarada como alienante. E fotógrafos? Quem são os fotógrafos malditos? Entremos, sem receio, numa categoria hermética e empírica e deixemos o contributo de alguns nomes. Sally Mann: entre 1984 e 1991 Sally fotografou os seus três filhos de uma forma desconcertante, bela e, para alguns, obscena. Uma marca indelével num grande artista é não ser consensual. “Immediate Family” é tudo menos consensual. Pode, e talvez deva, ser visto como um trabalho magistral sobre a beleza e o mistério do transitório. Diane Arbus: Arbus seguiu um conceito pela primeira vez explorado por Jacob Riis em 1880. Ver e mostrar “o outro lado”. Enquanto Riis fotografou os miseráveis, Diane entrou na intimidade dos “inadaptados”. Volátil, tímida e susceptível a episódios de depressão, que acabariam por conduzi-la ao suicídio, atingiu a maioridade artística na década de 60 com trabalhos, hoje absolutamente icónicos, sobre os marginalizados ou simplesmente “diferentes”. Masahisa Fukase: Fukase é menos conhecido do que as anteriores.
Muitas vezes um único trabalho define um artista, e os fotógrafos não são exceção. “Corvos” (ou “A Solidão dos Corvos”), de 1986, puxa-nos até aos limites do isolamento enquanto explora novos níveis de abstração. Fukase disse sobre este livro: “Estou a desejar poder parar o mundo. Este ato [o da fotografia] pode representar o meu próprio exercício de vingança contra a vida e talvez seja isso o que eu mais gosto”. No final do projeto escreveu “tornei-me um corvo”.
(Artigo publicado no Caderno Cultura.Sul de Fevereiro)