“Ser feliz” é o principal objetivo da maioria das pessoas, sintetizando desta forma vários aspetos que, subjetivamente, contribuem para a felicidade de cada um, desde objetivos mais materialistas e longínquos, como ter um bom carro ou uma boa casa, até objetivos mais intrínsecos e imediatos, como aproveitar cada momento.
Considera-se impossível alcançar uma felicidade permanente, pois como quase tudo na vida é cíclico, começando desde logo pelo bio-ritmo do sujeito, também a perceção de felicidade implica o sujeito já ter tido também a perceção de alguma infelicidade. É por isso que a felicidade é uma construção subjetiva, sendo que o que faz feliz uma pessoa não é o mesmo que o que faz feliz outra. Há medida que o tempo de vida passa, tornamo-nos mais especialistas da nossa própria felicidade, pelo que podemos aprender a avaliar o que nos faz bem. Embora possa haver alterações no estado de felicidade do sujeito, não sendo possível encontrar-se constantemente num estado de felicidade absoluta, pode aprender a desenvolver um estado de maior felicidade geral pela aproximação àquilo que começa a considerar ser a sua vocação ou o sentido da sua vida.
Sendo uma expressão muito usada na linguagem do dia a dia, o conceito de felicidade só recentemente começou a ser objeto de investigação científica pois, até final do século XX, o estudo da felicidade estava muito associado ao esoterismo. Só no início do século XXI, com o incremento da Psicologia Positiva, a felicidade começa a ser avaliada e estudada com rigor metodológico.
Até aí, a investigação em Psicologia tinha-se centrado mais sobre os aspetos negativos do ser humano do que sobre os positivos, tendo-se verificado, por exemplo, através duma meta-análise dos artigos referenciados no “Psychological Abstract”, entre 1987 e 1999, que foram publicados mais artigos sobre emoções negativas do que positivas, na ordem de 14 para 1.
A influência do modelo médico encontrava-se bem presente nesta abordagem, sobrevalorizando-se a identificação e a resolução de situações de doença.
A Psicologia Positiva emerge da constatação de que era necessário alterar a tendência predominantemente negativa. Assim, dever-se-ia estudar o lado positivo do ser humano e intervir no sentido de ajudar as pessoas a aumentar as suas forças e a desenvolver o seu potencial para uma maior alegria, satisfação com a vida, bem-estar e felicidade.
No âmbito das artes visuais, a felicidade tem sido sobretudo analisada na perspetiva de ser o resultado da prática da produção artística, sendo que a realização de obras artísticas pode constituir um meio para a felicidade de quem as produz. Inclusive, no artigo “Onde está a “pureza” na produção artística?”, analisámos a questão da “liberdade” do artista e fizemos referência à teoria de Csikszentmihalyi. De acordo com esta teoria, quando se encontram em estado de fluxo, as pessoas apresentam um sentimento de total envolvimento e têm a consciência totalmente focada na atividade em si. A motivação intrínseca e a felicidade do artista estão relacionados com este estado de fluxo.
Além disso, conforme explicitámos no artigo “Pode a arte motivar?”, para além da felicidade de quem produz arte, esta questão também pode ser analisada na perspetiva da mensagem visual poder ter impacto na própria felicidade de quem aprecia a arte.
A este propósito, fizemos referência à obra que realizámos em 2018 intitulada “Secrets for a happy life (Homage to Banksy and Einstein)”, em que uma mão segura dois balões, cada um deles com uma frase que constitui um segredo para uma vida com mais qualidade ou mais feliz. Das duas frases, destacamos aquela que é considerada o segredo da felicidade de Einstein, escrita em 1922 e leiloada em 2017 por 1,3 milhões de euros, sendo considerada a frase mais cara de todos os tempos: “A quiet and modest life brings more joy than a pursuit of success bound with constant unrest” (“Uma vida calma e humilde traz mais felicidade do que a busca pelo sucesso numa agitação constante”).
Nesta perspetiva da abordagem da felicidade através das artes visuais, destacamos a exposição “The Happy Show”, de Stefan Sagmeister, a qual poderá ser visitada no MAAT (Lisboa), até ao dia 4 de junho. Esta é a décima apresentação, tendo a primeira sido realizada em 2012, no Instituto de Arte Contemporânea da Universidade da Pensilvânia, nos EUA.
Através de vídeo, infografias, esculturas e instalações interativas, bem como de humor e interação, esta exposição convida os participantes a pensarem sobre a felicidade de uma forma geral e sobre a sua própria felicidade em particular. Trata-se duma viagem pela mente de Sagmeister e pelas suas visões inovadoras, aparentemente simples, sobre como sermos mais felizes. Apela a uma atitude mais participativa na busca dessa felicidade, afirmando inclusivamente que esta se treina, tal como treinamos o nosso corpo.
Durante mais de dez anos, Sagmeister realizou uma intensa pesquisa sobre o conceito de felicidade, tendo inclusivamente passado por três atividades: meditação, terapia cognitiva e produtos farmacêuticos que alteram o humor. Assim, fez três meses de meditação baseada em mantras budistas na Indonésia; três meses de terapia cognitiva com uma psicóloga em Nova Iorque; e três meses de medicação antidepressiva. Das três experiências, a terapia cognitiva terá sido a que mais o marcou, levando-o agora a aventar a hipótese de que podemos treinar o cérebro para que este sinta felicidade. Compara até este treino a uma ida ao ginásio, no sentido em que quanto mais vezes se pratica, e de forma mais convicta, melhores são os resultados. Conforme ele próprio refere, “estudo o tema da felicidade há vários anos e percebei que 15 minutos de exercício matinal fazem a diferença”.
Nesse sentido, quis ter na exposição um elemento que remetesse para a atividade física. Trata-se da “bicicleta mensageira”, em que o visitante é convidado a pedalar uma bicicleta estática frente a um grande letreiro de néon. Até que se acendam luzes. Qualquer pessoa pode sentar-se e pedalar e, enquanto o faz, tem um painel de néons que vai mudando a mensagem, sendo visualizadas mensagens inspiradoras, do que se pode fazer para ser mais feliz, ou pelo menos tentar.
Tendo em conta que o sorriso é contagiante, nesta exposição também pode ser vista a instalação de cubos de açúcar que reagem ao sorriso das pessoas, ficando os cubos iluminados quando as pessoas sorriem.
Além disso, na exposição também podem ser vistas frases escritas na parede, como por exemplo: “Se eu viver nos EUA e ganhar mais de 85 mil dólares por ano, qualquer dólar a mais não faz praticamente diferença nenhuma. Para o meu bem-estar geral, não interessa se ganho 100 mil, 100 milhões ou 10 mil milhões de dólares por ano.”
A própria avaliação da felicidade de cada visitante pode ser feita nesta exposição, através de rebuçados. São dez tubos gigantes cheios de rebuçados numerados de 1 a 10. Seguindo as instruções, o participante deve retirar apenas um bombom que corresponda ao nível da sua felicidade naquela escala.
“The Happy Show” conta já com um total de mais de meio milhão de visitantes em todas as cidades em que esteve presente.
Aproveite para visitar esta exposição agora em Lisboa. Vale a pena…
(Artigo publicado no Caderno Cultura.Sul de Maio)