As questões ambientais estão cada vez mais na ordem do dia, fazendo parte do discurso político e das preocupações das pessoas em geral.
As expressões artísticas têm acompanhado estas preocupações, procurando alertar e contribuir para a tomada de consciência das pessoas relativamente às questões ambientais e para a importância da prevenção através de comportamentos mais adequados, enquadrados numa economia circular, assente nos 3R:Reduza, Reutilize e Recicle!
Assim, já anteriormente alertámos para o problema da poluição e para a importância da descarbonização, fazendo referência ao trabalho do artista chinês Nut Brother que, em 2015, passou 100 dias a aspirar o ar das ruas de Pequim, durante cerca de 4 horas diárias, tendo no final fabricado um tijolo a partir da poluição aspirada, procurando consciencializar para o problema da poluição do ar em Pequim.
Num outro artigo, alertámos para o problema do plástico no Oceano, constituindo cerca de 85 % do lixo encontrado nas zonas costeiras de todo o mundo. A dimensão deste problema é visível pelo facto da “ilha de plástico” flutuante no Pacífico Norte ocupar já 1,6 milhões de quilómetros quadrados, o que equivale a mais de 17 vezes o tamanho de Portugal. A maior parte do material que existe chega como detritos grandes, que se degrada ao longo do tempo em partículas nocivas cada vez mais pequenas, microplásticos que, além de contaminarem o ambiente, entram na cadeia alimentar, vindo a afetar a saúde humana. A este propósito fizemos referência à exposição “Over Flow”, da autoria do artista japonês Tadashi Kawamata, patente na Galeria Oval do MAAT, no início deste ano, bem como à exposição intitulada “Keep The Oceans Clean”, da autoria dos artistas e surfistas João Parrinha (português), Xandi Kreuzeder (alemão) e Luis de Dios (espanhol), que ocorreu no Oceanário de Lisboa, reunindo nove instalações artísticas feitas com lixo encontrado tanto em praias como no mar.
A vastidão de área ardida com os recentes incêndios na Amazónia, cerca de 30 mil km2 só no mês de agosto, o equivalente a 4,2 milhões de campos de futebol, veio “reacender” o debate político e a preocupação em torno do estado e da sustentabilidade do nosso planeta e do rumo que estamos a ter.
Esta é realmente uma preocupação da nova geração, sendo a jovem sueca Greta Thumberg, com apenas 16 anos de idade, o rosto com maior visibilidade mediática em torno das questões ambientais.
Mas, mesmo com o contributo de todos através de comportamentos mais “amigos” do ambiente, não conseguiremos alterar a situação se os líderes dos principais países não estiverem alinhados nesse sentido e contribuírem com medidas concretas que permitam uma real diminuição da emissão de CO2, entre outros aspetos a ter em conta para a preservação do ambiente. Por exemplo, é essencial que o presidente dos EUA valorize a importância da descarbonização através duma indústria menos poluente e que o presidente do Brasil valorize a importância da floresta amazónica para a oxigenação do planeta.
No sentido de alertar para a importância da floresta e para consciencializar a população sobre o desmatamento e as mudanças climáticas, recentemente o artista suíço Klaus Littmann concretizou o projeto “For Forest” (“Pela Floresta”), tendo sido plantadas 300 árvores, de 16 espécies, vindas da Itália, Alemanha e Bélgica, no estádio de futebol Wörthersee, na cidade de Klagenfur, na Áustria. No seu site, Klaus refere que “este projeto é um aviso de que a natureza, que agora não é valorizada, algum dia só poderá ser encontrada em espaços especialmente designados, como já é o caso dos animais no zoológico”. O artista inspirou-se num desenho feito em 1970 pelo arquiteto austríaco Max Peintner, que mostra árvores no meio de um estádio de futebol.
Esta exposição decorre até 27 de outubro, sendo depois retiradas as árvores que serão replantadas em áreas próximas do estádio.
Por seu turno, em Portugal, no passado dia 24 de agosto, mais de 400 pessoas concentraram-se na Serra da Estrela para uma manifestação artística contra a exploração de lítio. A mineração deste tipo ocorre principalmente a céu aberto e utiliza explosivos e agentes químicos com grande risco para o ambiente, como a contaminação da água e a poluição atmosférica.
Os participantes distribuíram-se de forma a criarem uma imagem aérea em que surgia a árvore da vida ao centro, e um círculo à volta, sendo escrita a mensagem “Não às minas” e “Água é vida”. Desta forma, alertaram que há pedidos para concessão de exploração mineira em cerca de 10% do território nacional, sendo isto incompatível com o objetivo da neutralidade carbónica.
Neste âmbito, aproveitamos para referir que, até 20 de outubro estará presente, no MAR Shopping Algarve, uma exposição dedicada ao problema dos plásticos marinhos no Algarve, em que se distinguem duas partes: “Plásticos à Vista” e “8 Famílias, 8 Pegadas”. Esta exposição foi concebida pelo CCMAR, Centro de Investigação da UAlg, tendo contado com a colaboração de estudantes da Escola Secundária Tomás Cabreira de Faro e de crianças da I Secção do Corpo Nacional de Escuteiros do Algarve.
Como tem referido a jovem Greta Thumberg, “ouçam os cientistas”; e, já agora, apreciem as produções artísticas e adotem comportamentos que contribuam para a preservação do ambiente!
(Artigo publicado no Caderno de Artes Cultura.Sul)
(CM)