O novo coronavírus atinge os humanos, mas os animais também estão a sofrer consequências da pandemia. O mês de março ficou marcado pela chegada a Portugal da doença SARS-CoV-2 e também pelo aumento do abandono de animais que, por diversas razões, perdem o lar que outrora era seu.
Desde março, Portugal e vários outros países têm registado um aumento exponencial do número de abandonos de animais, com chamadas de atenção de algumas associações que, ainda assim, não conseguem ter a sua voz completamente ouvida. Apesar da pandemia estar “mais controlada”, continuam a ser deixados de lado, principalmente, cães e gatos, que ficam nas ruas, sentindo a tristeza do abandono.
A região algarvia não contraria a tendência de abandonos de animais e os efeitos colaterais são inúmeros. A Bem Estar Animal é uma associação sem fins lucrativos, situada no Esteval, em Loulé, que dá um lar a animais carenciados, quer tenham sido abandonados, maltratados ou colocados em canis por serem idosos ou deficientes. Alexandra Costa Pinto, responsável pelo espaço, explica que durante a pandemia se registaram mais abandonos “sem justificação”. Para a responsável pela associação, a crise é o principal fator que liga a pandemia ao abandono. Por semana, a Bem Estar Animal recebe uma média de três a quatro pedidos para ficar com cães. A situação piora quando existem “menos donativos, uma vez que as pessoas estão com dificuldades económicas”. Muitos dos que apadrinharam animais, deixaram de contribuir devido à crise que já se faz sentir, depois de mais de dois meses de confinamento, em que a economia parou quase por completo. Em termos de ração, por mês, são gastas cerca de três toneladas.
Falta de possibilidades financeiras na origem dos abandonos
A falta de possibilidades financeiras que se vive em Portugal acaba por fazer alguns donos abandonarem os seus animais, que precisam, muitas vezes, de tratamento para doenças como a leishmaniose e a sarna. Alexandra Costa Pinto conta que muitos cães são abandonados porque as pessoas não querem gastar dinheiro com os animais. Cães idosos e bebés são os que mais aparecem na Bem Estar Animal, por exigirem também mais cuidados financeiros. O “flagelo” dos abandonos, como refere a responsável pela associação, acabaria com a esterilização e castração dos animais. O mesmo defende Marta Correia, da Pravi – Núcleo de Faro, que explica que tudo isto é “uma bola de neve” que irá certamente estragar o trabalho que as associações fizeram até agora.
A não esterilização e castração dos animais está a gerar novas ninhadas que, por sua vez, geram mais abandonos. Marta Correia confidencia que as associações estão aflitas e que desde o início do desconfinamento houve um aumento dos animais na rua. A Pravi está em Faro desde 2008 e não tem um espaço físico, mas faz resgate de animais e tem, até à data de publicação do artigo, 27 gatos e 12 cães, que estão também em associações colaboradoras. Um dos objetivos da Pravi – Núcleo de Faro é esterilizar colónias, algo que não é bem aceite pela maioria das pessoas, mas que, como afirma Marta Correia, é essencial para resolver este problema.
A experiência da representante da Pravi Núcleo de Faro, neste tempo de pandemia, leva-a a relatar que muitos canis ficaram vazios, pois as pessoas adotaram animais devido à saturação que estavam a sentir com o confinamento. Os animais foram utilizados para passar algum tempo e também realizar passeios higiénicos, tornando “o escrutínio de adoções maior do que o Natal”. Contudo, Marta Correia já previa estes abandonos, agora que a crise chegou e também a época de praia e férias, que é sempre uma altura em que as pessoas deixam os animais nas ruas.
O “desespero” das associações levou a vários apelos por parte de Marta Correia, que já fez um relatório sobre os gastos durante a pandemia covid-19 e espera que a voz das associações de animais seja ouvida e até que venham a receber mais apoios financeiros.
Dinheiro à parte, o certo é que os animais continuam a ir para rua e toda esta situação vai gerar problemas em termos de doenças, acidentes na estrada e novas ninhadas. O trabalho das associações que protegem cães, gatos e outros animais está cada vez mais complicado, mas Alexandra Costa Pinto e Marta Correia fazem uma questão: “abandonaria um membro da sua família?”. Depois da resposta dada, repense o abandono dos seus animais.