O urbanismo como arte
Poder-se-á entender o urbanismo como uma arte? Dificilmente, o estudo da cidade é aceite como tal, porque normalmente decorre de iniciativas pontuais e de um normativo legal, ou seja, de algo que está imposto e ainda pela contingência do espaço e do seu aproveitamento.
Porém, a intervenção de um urbanista como artista do espaço à escala macro irá proporcionar qualidade de vida aos utentes e construir uma simbiose entre a ciência e aquilo que é um desenho urbano equilibrado e belo. O urbanismo é uma ciência, uma técnica e uma arte, que elevará as cidades num mundo cada vez mais competitivo. A administração de uma cidade deverá conceber uma visão global, adequada à sua identidade cultural, social e económica, mas com uma ambição de desenho que seja forte, lógica e clara.
Porém, quem valoriza os urbanistas no nosso país? Facilmente são confundidos com os juristas de direito de urbanismo, porque, reduziu-se praticamente os planos às normas, antes mesmo de se perceber o conceito, ou aquilo que será a correta distribuição das funções no espaço.
Se compreendermos o desenho de Paris, este é forte e marcante, em que as singularidades dos monumentos marcam eixos longos na cidade, traduzidos em espaços de parques urbanos ou em avenidas, ou seja, os “Boulevards”.
Outro exemplo de grande peso no urbanismo é Barcelona como uma cidade com um modelo forte. Foi Ildefonso Cerdá o urbanista que esteve por detrás dos desenhos, em 1859, e que produziu um plano estratégico com manifestação de diversos espaços públicos.
O urbanismo como solução para um problema social
O urbanismo deve também ser entendido como uma forma de resolução de problemas concretos de uma cidade, incluindo os problemas sociais existentes. Será relevante perceber como funciona a economia urbana e qual a leitura dos problemas atuais, propondo soluções que mesmo que sejam micro, poderão ser um grande sinal de estímulo ou de avanço.
As áreas urbanas desqualificadas, como antigas áreas industriais, merecem que seja efetuado um tratamento urbanístico por parte do Estado ou de uma Autarquia que, por vezes, exigem abertura de vias, ou construção de espaços verdes, assim como habitação de diversa natureza. Procura-se um crescimento sustentável, baseado no respeito pelo ambiente, pela segurança e sã convivência entre as diversas partes da cidade.
As artes urbanas como ferramenta do urbanismo
As artes urbanas são outra forma de gerar pontos singulares de interesse numa cidade, em que o edifício devoluto é já bastante patente e comum nos nossos centros históricos. As paredes envelhecidas e abandonadas, de repente ganham vida e criam forma numa arte sublime, tendo como exemplo o artista plástico Vhils, nascido em Lisboa e que já deixou obra pelo mundo inteiro.
Outro exemplo são os espaços livres abandonados que poderão ser temporariamente utilizados, como sejam um pátio ou um recanto, que possa recriar um ponto de estadia ou de palco para animação.
As empenas cegas dos prédios, as quais nada contemplam, ou por vezes, só publicidade, poderão ser uma das telas de uma criação a realizar. Bastaria estimular concursos de ideias para tal situação, com prémios a atribuir pelo valor artístico.
Não confundir com o graffity gratuito e de marcação de território, que normalmente, acontece em zonas mais urbanas e que não valoriza nada os nossos territórios. Faro tem potencialidades para recriar espaços próprios para esta expressão artística e, por outro lado, estimular a realização de exposições temporárias e rotativas em áreas públicas, valorizando as artes urbanas e, por outro lado, qualificando espaços urbanos pouco aproveitados. As nossas cidades merecem uma melhor atratividade, crescendo com um desenho urbano, lógico e claro, mas também artístico e belo.
(Artigo publicado no Caderno de Artes Cultura.Sul)
(CM)