Edgar Morin, com 98 anos de idade, permanece um dos mais respeitados intelectuais, reconhecido pelas análises sobre a complexidade, autor de “O Paradigma Perdido: a Natureza Humana”, uma das obras mais importantes sobre a epistemologia e da análise das ciências. Teceu recentemente um fundamentado elogio à cultura portuguesa.
E que disse Morin? Que Portugal é um país extraordinário, simultaneamente mediterrânico e atlântico, com uma influência mundial, acredita o filósofo que a lusofonia está a desempenhar um papel importante no mundo, sobretudo pela presença da língua como património vivo.
Morin vê na lusofonia e nas culturas de expressão portuguesa um instrumento de aproximação e cooperação humanista entre continentes e povos.
O português e a cultura portuguesa deveriam ser em Portugal componentes centrais nas políticas pública- Porquê?
Por ser um idioma pluricontinental, língua materna em Portugal, Brasil, São Tomé e Príncipe. Em Angola, Moçambique é o idioma de ligação ou veicular e em outros países convive com dialectos e crioulos, como são os casos da Guiné-Bissau, Cabo Verde e Timor-Leste. Mas o português é também falado em outras regiões do mundo caso de Macau, no Japão existem meio milhão de falantes e em muitos lugares com herança cultural portuguesa é usado por pequenas comunidades.
São 17 países do mundo que utilizam o subsistema de ensino da língua e cultura portuguesas dirigido a luso-descendentes, 33 países oferecem o português nos currículos do ensino secundário e 74 integram estudos portugueses e literaturas lusófonas em universidades e escolas superiores.
Por outro lado, a economia da cultura é extremamente deficitária, a importação de bens e serviços de matriz anglo-saxónica (cinema, musica, tradições como o halloween,…) supera largamente a débil exportação nacional. Há estatísticas oficiais disponíveis que poucos analisam…
O potencial da cultura portuguesa é enorme. No domínio da história, do património material e imaterial, inúmeros acontecimentos seriam fonte de inspiração e originalidade nas artes e indústrias culturais de internacionalização ou em programas educativos dirigidos às novas gerações.
Este ano comemoram-se os 500 anos da viagem de circum-navegação do português Fernão de Magalhães ao serviço do Imperador Carlos V, que levanta diversas questões.
Desde logo o termo “descobrimento”. Descobre-se o que não se conhece e Magalhães sabia da existência de outro mar situado na costa ocidental sul-americana porque ele próprio nele tinha navegado vários anos ao serviço da coroa portuguesa e sob o comando de Afonso de Albuquerque na zona das Molucas.
A viagem de circum-navegação não seria possível sem os conhecimentos matemáticos, astronómicos e cartográficos da elite científica portuguesa com quem Magalhães preparou o seu plano e itinerários, que apresentou a D. Manuel I. Este recusou e Carlos V aceitou…
O descobrimento existiu mas do ponto de vista europeu. Em muitas regiões da Ásia sabia-se da existência da Europa e da Africa, mercadores de múltiplas origens apareciam em regiões longínquas para comprar produtos e depois os vender utilizando a via terrestre mas também marítima. A rota da seda ia da China até à Ásia Menor. Foi a maior e mais extensa rede comercial do Mundo Antigo, no período romano muito utilizada.
Hoje a “globalização” é um termo ambíguo com significados contraditórios, transmite a ideia de um mundo que se estrutura como um todo para responder às necessidades da humanidade, mas na realidade dominam macropolíticas financeiras, económicas, tecnológicas e comunicacionais uniformizadoras, claramente desintegradoras dos países e inigualitárias no plano social.
Aprendemos muito com o estudo das civilizações mediterrânicas e nas informações resultantes das viagens dos nossos antepassados pelo mundo, são lições fundamentais sobre a biodiversidade planetária, de gestão da terra e dos recursos hídricos, sobre a diversidade cultural, ensinamentos que se mantêm actuais.
A UNESCO decidiu recentemente que 5 de Maio será o DIA MUNDIAL DA LÍNGUA PORTUGUESA, compete aos portugueses assinalá-lo no quotidiano, promover e defender este património vivo.
É neste correcto sentido da História e utilização das Convenções da UNESCO que Edgar Morin nos falou e chamou a atenção para a importância actual da língua e cultura portuguesas.
(Artigo publicado no Caderno Cultura.Sul de dezembro)