Luís Conceição tem 45 anos e é tavirense de gema. A música tem sido uma constante na sua vida. Luís Conceição e Osmose apresentaram recentemente o seu novo trabalho “Profecias”.
Em entrevista ao POSTAL Luís Conceição fala sobre a sua formação, carreira e novo trabalho.
Luís Conceição começou na música aos quatro anos de idade. “Os meus pais tiveram o bom senso de me colocar na música porque eu gostava muito de cantar. Eu cantava afinado músicas de uma senhora chamada Cândida Branca Flor e os meus pais acharam muita piada a isso e puseram-me a aprender piano no Conservatório Regional do Algarve”, conta o músico.
O músico já sabia tocar piano antes de aprender a ler e a escrever
Luís Conceição afirma que a música o tem acompanhado ao longo da vida. “A atividade da composição começou um bocadinho mais tarde, por volta dos 17/18 anos. Este novo disco é o sétimo trabalho que estou a gravar”,
salienta.
Para além da carreira de músico, Luís Conceição é também professor. O tavirense leciona as disciplinas de piano e história da música. “Já lecionei em muitos sítios. Já fui professor em Lisboa, em Tomar, já lecionei inclusive em universidades”, refere.
Luís Conceição sublinha que “costuma dizer-se que um professor não tem de ser um grande instrumentista e um grande instrumentista pode saber tocar um instrumento de forma magistral e não saber ensiná-lo”, salientando que “são áreas completamente diferentes. Gosto de
acreditar que sou um professor bom, que dou uns toques no piano e que também canto umas coisas”.
O músico confidenciou ao POSTAL que finalmente terminou os estudos e já pode dedicar-se de forma mais completa à criação e aos concertos. Luís Conceição já tem um vasto repertório no mundo da música.
“Gravo sempre composições originais. Já gravei três trabalhos originais de piano a solo e os outros quatro trabalhos são edições de autor, que contemplam canções, em que apresento trabalhos sozinho (só piano e voz) e trabalhos em conjunto com a banda, que é o caso deste último trabalho”.
O surgimento da banda, Luís Conceição e Osmose
O primeiro trabalho gravado com o nome Luís Conceição e Osmose remonta ao ano de 2015.
“A primeira vez que toquei com estes músicos foi há relativamente pouco tempo, em 2015. O único que está comigo desde as origens da banda é o guitarrista e também produtor do disco, Valter Estevens. Os outros músicos conheci nos últimos anos”,afirma.
Luís Conceição confessou ao POSTAL que tem mais de 200 canções compostas, mas só tem cerca de 50 gravadas.
O trabalho “Profecias” é lançado oficialmente no dia 24 de agosto, no Verão em Tavira e está dividido em duas partes. A segunda parte é lançada em dezembro.
A banda já tem muitos concertos marcados para o próximo ano
“Este trabalho é uma coisa muito eclética, não se foca num estilo específico. É um trabalho um pouco multifacetado, vai desde o Rock Rápido, ao Rock Alternativo, progressivo, música quase tradicional portuguesa.
É difícil definir”, salienta o autor. Luís Conceição considera que a banda é muito sui generis. “Eu venho totalmente da música clássica, uma vez que fui educado a estudar Mozart e Bethoven. O guitarrista, o professor Valter Estevens vem do Heavy Metal mas foi também estudar música clássica. Por sua vez, o baixista, o Pedro, é um músico que aprende nas bandas. Depois, temos o Bruno Maé, baterista que é mais voltado para o rock. Por fim, o saxofonista também foi meu aluno”.
O autor considera que “neste trabalho cada um deu a sua contribuição, o que resultou num trabalho muito melhor a todos os níveis. Este trabalho é uma coisa mais íntima, pois cada um deu um pouco de si”, reforça.
“Já temos muita coisa marcada para o próximo ano. Este trabalho já foi apresentado em fevereiro na comemoração dos 100 anos do Museu Municipal de Faro e no Dia da Mulher, no entanto, a apresentação oficial acontece este sábado, 14 de agosto”.
“Atualmente, temos uma estrutura em que temos manager,
representante, editora não temos, mas também não precisamos. Fiz uma edição de autor e agora vendo o meu trabalho a quem eu quiser, como quiser. Sou dono do meu trabalho e os direitos de autor são meus”, destaca.
Luís Conceição afirma que “temos estado um pouco na estrada mas mais concentrados em acabar o trabalho, mas agora vai ser o máximo de estrada possível. Pretendemos dar a conhecer o nosso trabalho em tudo o que for rádios, televisões, palcos”.
Luís Conceição inspira-se na vida em geral
Luís conceição referiu ao POSTAL que “se inspira na vida em geral”.
Por norma, “estou sempre inspirado. Já me inspirei no meu gato, em relações amorosas, em relações conflituosas, em pessoas que odeio, em pessoas que adoro, livros, poemas, quadros”.
O músico disse ao POSTAL que a mãe faleceu há dois anos e que o pai escreveu um poema para ela. “A partir desse poema fiz um fado ‘A minha mulher’ que é uma das músicas que tem tido mais sucesso na internet”.
“Eu nunca divulguei muito o meu trabalho mas vou começar a fazê-lo porque, de facto, acho que já cumpri tudo o que tinha a cumprir na vida, à exceção de divulgar o meu trabalho”.
Luís Conceição é filho de Tavira
Luís Conceição já viveu um pouco por toda a Europa. O POSTAL perguntou ao músico se teria mais oportunidades numa grande cidade como, por exemplo, Lisboa ou Porto. “Eu acho que existe muito o preconceito de que quando se é de uma terra pequena não se conseguem fazer muitas coisas e isso é mentira”, frisa.
“É um orgulho para mim ser de Tavira. Não considero que seja limitador, de forma alguma”.
Quanto aos principais obstáculos enquanto músico, o autor afirma que “o primeiro obstáculo é o consumismo exacerbado do povo português de música que lhe é impingida à força.
Hoje em dia temos uma liberdade e uma variedade de opções que não existiam. O que é certo é que as pessoas continuam a ver os mesmos canais de televisão e são influenciados de uma forma muito concreta para aquele género musical”.
Se for ligar a televisão, num canal generalista, numa festa de verão, só se vê pimba”, lamenta.
A cultura do nosso povo foi esmagada por anos de ditadura
Luís Conceição refere que ficou “impressionado porque na Volta a Portugal em Bicicleta apareceram os Perfume, que era uma coisa que eu nunca tinha visto. Só via o Quim Barreiros e outros artistas semelhantes”.
Outro dos obstáculos é por exemplo “tocar em feiras da serra, primeiro porque não conhecem a música, logo, não conseguem cantar o refrão. Eu diria que a música que nós fazemos, excetuando a faixa número um que é uma música comercial, as pessoas não se identificam muito,
pessoas de uma faixa etária mais de 40, 50, 60, 70 anos”.
Quanto aos jovens que consomem música “é uma incógnita porque este trabalho nunca esteve nas plataformas online, só vai começar a estar agora”.
Luís Conceição defende que “o maior obstáculo é a formação, as escolhas das pessoas, a cultura do nosso povo, que foi uma cultura esmagada, anos e anos, por uma ditadura”.
Noutros países, como França ou países nórdicos, por exemplo, “as pessoas têm uma capacidade de absorção cultural diferente. Na minha opinião,ainda estamos a pagar o preço de 40 e tal anos de uma forte ditadura, onde os hábitos culturais e as tradições se mantiveram um pouco”.
Para terminar, existe a “questão da dimensão do país. É muito bom ser português, eu tenho um grande orgulho, mas só temos 11 milhões de habitantes. Isso é muito importante a nível de limitações de mercado”.
Imaginemos o exemplo do Brasil com 160 milhões de habitantes. É inequívoco que “são 160 milhões de consumidores e isso faz diferença”.
O músico salienta ainda o facto de “em Portugal a música estar muito ligada à voz, à canção. No nosso país, a música tem de ter uma voz”.
O projeto Luís Conceição e Osmose já “tem um tema instrumental e no segundo vai ter outro. A música e a letra são coisas diferentes. A música pode existir por ela só como um poema existe por ele só, sem ter música. É o mesmo princípio na minha opinião”, acrescentou.
O tavirense refere que se considera um “canta-autor”, pois gosta de cantar os seus temas.
Quanto às ambições futuras, Luís Conceição salienta que “temos de trabalhar na vida sem expetativas. Temos de dar o nosso melhor. Acho que o mais importante é realizar um trabalho e ter consciência de que está bem feito e mostrá-lo à família, amigos, seguidores e fãs”.
“Para mim, enquanto músico, o mais importante é ter a consciência tranquila de que fiz tudo o que podia para que aquilo resultasse. Penso que gostar do que faço é essencial”.
(Stefanie Palma / Henrique Dias Freire)