Faro: Capital Europeia da Cultura 2027
A Capital Europeia da Cultura é uma iniciativa da União Europeia que tem por objectivo a promoção de duas cidades europeias, por um período de um ano, durante o qual cada cidade tem a oportunidade de mostrar à Europa a sua vida e desenvolvimento cultural, permitindo um melhor conhecimento mútuo entre os cidadãos da União Europeia.
Esta iniciativa começou em 1985 com o nome de Cidade Europeia da Cultura. Apenas uma cidade era nomeada por ano, sendo a responsabilidade da organização do evento do Estado-membro ao qual pertencia essa cidade e sucediam-se por ordem alfabética dos países.
Em 1999, o Conselho de Ministros e o Parlamento, decidem mudar o nome de Cidade Europeia da Cultura para Capital Europeia da Cultura e mais tarde passaram a ser nomeadas duas cidades por ano em vez de uma.
O turismo cultural é um mercado turístico muito importante. É visto como uma forma de salvaguarda do património, da preservação da identidade, cultura, tradição e herança de um povo. As cidades são parte crucial neste cenário, pois têm um papel importante na história e na cultura, possuem a capacidade de envolver a comunidade e promover a coesão social.
São muitas as cidades europeias que redefinem o seu futuro apostando na cultura e nas artes, como um meio de regeneração do espaço urbano e do desenvolvimento económico da cidade. Apostam assim em eventos culturais e desportivos. Ser Capital Europeia da Cultura é um de entre os grandes eventos culturais internacionais que atraem a atenção dos turistas.
Sugestões para Faro Capital Europeia da Cultura 2027
No caso da cidade de Faro sair vencedora nas candidaturas a Capital Europeia da Cultura, gostaria muito de ver a nossa capital algarvia como uma capital europeia que apostasse numa forte articulação com a Universidade do Algarve.
Gostaria que existisse uma programação que valorizasse os recursos da cidade de Faro em particular e da região em geral. Uma programação dirigida a diversos públicos com projectos originais e com co-produções e pelo menos um megaevento de referência.
Uma programação que apostasse em propostas artísticas de valorização da visão histórica do Algarve, mas que ao mesmo tempo trouxesse leituras contemporâneas com o uso artístico das tecnologias de informação e comunicação.
Uma programação que fizesse a ligação com as periferias de forma a incorporar as comunidades rurais e a divulgação de tradições e pudesse atrair novos investidores.
Seria importante capitalizar o investimento e os contactos que serão gerados pela Capital Europeia da Cultura, de modo a manter a população com vontade de se envolver em novos projetos.
Nestas alturas há sempre oportunidade para a reabilitação de espaços públicos e investimentos em infraestruturas culturais, pelo que a cidade pode sair muito reforçada e rejuvenescida.
Uma cidade que tenha o estandarte de Capital Europeia da Cultura desenvolve o tecido cultural da região em que se insere, para além de ter projecção a nível nacional, europeu e internacional.
Em Portugal temos exemplos de cidades que foram Capitais Europeias da Cultura e o resultado para essas cidades foi multiplicador. Concretamente podemos perceber isso em cidades como Lisboa, que foi Capital Europeia da Cultura em 1994. Porto, que foi Capital em 2001, e Guimarães, Capital em 2012.
2027 será o ano em que Portugal volta a ter uma Capital Europeia da Cultura. Será a quarta vez que uma cidade portuguesa acolhe aquele que é um dos eventos europeus com maior impacto cultural. As cidades interessadas em ser capitais da cultura têm agora quatro anos para preparar as candidaturas.
O município de Faro manifestou interesse. O processo de candidatura a ser entregue em 2021 implica uma equipa interdisciplinar e dinâmica para criar uma programação que mexa não só com Faro, mas com o panorama cultural de toda a região algarvia, em que todas as autarquias se sintam empenhadas, dando principal destaque à cultura.
Faro, se for escolhida como Capital Europeia da Cultura, terá certamente todas as possibilidades para se afirmar no mapa cultural nacional e internacional.
Como já referi, em cada ano existem sempre duas cidades capitais europeias em simultâneo, no ano de 2027 será Portugal e a Letónia.
Este ano a Capital Europeia da Cultura é partilhada entre estas cidades: Valeta (Malta) e Leeuwarden (Holanda).
Visita à Capital Europeia da Cultura 2018
Recentemente estive em Leeuwarden (Região da Frísia no norte da Holanda) e foi interessante ver a dinâmica da cidade. Tudo gira em torno da emblemática figura nascida nesta cidade a 7 de Agosto de 1876, Margaretha Gertruida Zelle, conhecida por Mata Hari. Essa enigmática mulher, que foi bailarina e espia (fuzilada pelos franceses a 15 de Outubro de 1917) tem uma história de vida intensa e que está retratada de forma muito completa e pormenorizada na exposição no Fries Museum ou Museu da Frísia, patente até 2.4.2018 com o título: “Mata Hari, a mulher e o mito”.
Existem muitas visitas guiadas pela cidade, nomeadamente à casa onde nasceu Mata Hari e quase todos os souvenires à venda em Leeuwarden têm referência a esta emblemática figura. A organização distribuiu por todos os locais informação e brochuras e nas zonas de restauração distribui bases para copos com o logotipo desta Capital Europeia da Cultura. Nessas bases, para além de aparecer o logotipo de um lado, aparece a foto de Mata Hari do outro, o que reforça a sua importância enquanto figura associada à cidade.
Reparei que os menus nos restaurantes recomendados nem sempre estão em inglês e algumas brochuras e informação útil está em holandês e alemão e não em inglês, o que me parece ser uma lacuna de organização nesta Capital Europeia da Cultura. Situação que certamente não se verificaria em Faro.
No geral foi muito gratificante conhecer a dinâmica de Leeuwarden enquanto Capital Europeia da Cultura e sentir que viajar é uma das formas mais interessantes de enriquecermos culturalmente.
Por fim, de referir que existem mais algumas cidades portuguesas a preparar candidaturas, mas como algarvia gostaria que Faro fosse a cidade escolhida, porque seria uma grande oportunidade para esta cidade e um bom desígnio regional.
(Artigo publicado no Caderno Cultura.Sul de Março)