O LAC – Laboratório de Atividades Criativas é uma associação cultural sem fins lucrativos com sede em Lagos, e que, este ano, assinala uma data histórica: 25 anos de existência.
“O LAC está sediado na antiga cadeia de Lagos, que por si é um espaço emblemático, pois revela uma dicotomia interessante entre prisão/ reclusão vs criatividade/liberdade, e que é um ponto de partida para muitos projetos que desenvolvemos aqui”, começa por referir Nuno Pereira, diretor da associação, em entrevista ao POSTAL.
Nuno Pereira fala sobre os principais projetos desenvolvidos pelo LAC
Nuno Pereira revelou ao nosso jornal os projetos que estão a ser desenvolvidos pela associação. “Neste momento desenvolvemos projetos em quase todas as disciplinas das artes. Temos duas grandes áreas: as artes performativas que englobam a música, as artes de rua e o novo circo e as artes visuais que integram as artes plásticas, a fotografia e a arquitetura”, conta.
A associação é um espaço de residências artísticas que tem como prioridade desenvolver e alargar o PRALAC – Programa de Residências Artísticas no LAC, com o objetivo de promover e dinamizar a criação artística no Algarve.
Nuno Pereira explicou que “dentro do PRALAC existem duas grandes tipologias: as residências de longa duração e as de pequena duração”.
“As residências de longa duração são dirigidas aos artistas de Lagos que cá trabalham o ano todo, enquanto que as de curta duração são dirigidas a todos os artistas que cá queiram fazer uma residência, que sejam de fora da cidade e que cá queiram permanecer até três meses”, acrescentou.
Durante o ano, o espaço é usado por 50 pessoas, quer nas artes plásticas, quer nos estúdios de música. O diretor reforça que “uma residência artística é um trabalho artístico que é desenvolvido durante um determinado tempo, num determinado espaço”.
Nas residências de curta duração, existe um espaço cedido pela Câmara Municipal de Lagos no centro da cidade – o edifício LAR – onde os artistas ficam hospedados.
“Lá existem 10 quartos, onde eles podem ficar e cozinhar, com custos bastante reduzidos”, evidenciou.
Nuno Pereira revela que dentro das residências existe um projeto pioneiro de arte urbana que é contínuo no tempo. “Normalmente desenvolvemos este projeto em setembro e convidamos cinco artistas de renome internacional para vir trabalhar no LAC durante duas semanas com o objetivo de conceberem uma exposição num espaço tão particular como é a cadeia”, explica.
“A questão que diferencia este de outros projetos é o facto dos artistas trabalharem em conjunto, no sentido de haver uma troca de experiências, uma troca de conhecimento e intercâmbio entre eles”, destaca.
A exposição fica patente no LAC, todos os anos, até ao final de outubro.
LAC está muito próximo da comunidade escolar
O LAC está muito próximo da comunidade escolar e tem regularmente visitas de escolas, visitas guiadas e workshops dentro da temática da arte urbana para mostrar aos alunos tudo o que é inerente ao universo das artes.
“Temos ainda uma componente de formação que integra pequenos workshops, de curta duração de fotografia, de arte urbana, música, pintura, escultura, artes plásticas, teatro, entre outras disciplinas artísticas”, conta.
Nuno Pereira salienta que existem dois públicos distintos: “temos formações direcionadas para a comunidade local, que fazemos aqui na nossa sala de formação e outras mais específicas com as escolas, onde muitas vezes somos nós que vamos lá dar pequenos workshops”.
“As formações são dadas por artistas especializados em cada uma das áreas e podem ser frequentadas por qualquer pessoa, com um custo simbólico de 15/20 euros”, esclarece o responsável.
Nuno Pereira diz que “existe um outro projeto de exposições na galeria. Numa sala temos um ciclo de exposições temporárias e na outra sala temos os trabalhos dos artistas que cá estão em residência”.
O LAC atingiu recentemente um novo patamar bastante importante: a participação em projetos internacionais. “Nós já estamos envolvidos em projetos internacionais. Fomos a única associação a sul do Tejo a ser apoiada no âmbito do Europa Criativa, que consiste numa parceria alargada entre países como os Barbados, Reino Unido, Espanha, Itália, Chipre e nós”, explica.
“Em todos os países foram criadas parcerias com associações semelhantes à nossa. Esse projeto pressupõe o intercâmbio, a experiência e a capacitação de técnicos, nós e os artistas que estão no projeto”, reforça.
“Neste momento temos três artistas em residência no âmbito desse projeto e vamos ter uma exposição que inaugura a 13 de março e que vai até ao final de abril”, refere.
Nuno Pereira recorda ainda que existe anualmente um evento muito importante para a associação: O LAC Dia Aberto.
“Este é o maior evento anual da associação e que agora em 2020 foi financiado pelo 365 Algarve”, realça.
Nuno Pereira é peremptório: “o que se pretende é que seja uma mostra coletiva dos trabalhos resultantes da residência artística. Temos exposições, concertos, aulas abertas, workshops, performances, distribuídos por dois dias intensivos de programação”.
Nuno Pereira está no LAC há cerca de duas décadas
Nuno Pereira está na associação praticamente desde que ela foi criada. “Comecei a envolver-me porque também sou artista, pois para além de diretor, também sou músico”, conta.
“O objetivo do LAC – Laboratório de Atividades Criativas é atingir todas as camadas da população. É difícil abranger todos os gostos porque, para já, nós trabalhamos naquela parte mais alternativa, não trabalhamos na parte mais comercial”, salienta.
O responsável afirma que a “associação tenta atingir um grande leque da população, desde as pessoas que gostam de exposições, as pessoas que gostam de concertos, de workshops em determinadas áreas, pessoas que vêm ter aulas, encontros e debates informais que também promovemos na galeria. Para cada uma há pequenos nichos em que tentamos inseri-los”.
A Câmara Municipal de Lagos é o principal parceiro do LAC. “O município dá-nos os espaços e todas as condições para desenvolvermos esta atividade”, salienta. O LAC está aberto 24 horas por dia durante 7 dias por semana. “Todos os artistas têm a chave e podem vir trabalhar à hora que quiserem. Considero que este ambiente de prisão/ reclusão vs liberdade/criatividade acaba por ser um ponto de partida para a criação artística, onde os próprios artistas cooperam, ajudam-se, descobrem coisas novas e partilham o conhecimento”, conclui.