O Orçamento Participativo de Portugal, conhecido como OPP, é «um processo democrático deliberativo, direto e universal, através do qual as pessoas apresentam propostas de investimento e que escolhem, através do voto, quais os projetos que devem ser implementados em diferentes áreas de governação. Através do OPP, as pessoas podem decidir como investir 5 milhões de euros», pode-se ler na página https:// opp.gov.pt/.
Os cidadãos podem votar num projeto nacional e num projeto regional. Em 2017, o projeto Hemeroteca Digital do Algarve foi o mais votado no OPP 2017 da região, com 703 votos, o que indica uma forte mobilização de todos aqueles que perceberam a importância da existência de um arquivo digital, acessível universalmente.
A Ideia
Luís Guerreiro, engenheiro de formação, foi um homem de Letras e um Humanista que teve a ideia de criar e disponibilizar todos os jornais e revistas que o Algarve produziu desde o séc. XI, até aos nossos dias, em formato digital, através de uma plataforma de acesso fácil, universal e gratuito. O seu conhecimento da história do Algarve e da importância da imprensa regional para a reconstituição desta foram motores para esta candidatura. Com o apoio de Patrícia de Jesus Palma, doutorada em Estudos Portugueses (História do Livro e Crítica Textual), o projeto foi fundamentado, realçando os aspetos de natureza cultural, patrimonial e de investigação científica nele envolvidos: na verdade, a história desta região encontra-se espelhada em tantos artigos publicados nos mais de 400 títulos de publicações periódicas que surgiram na região, com tipologias muito diversas, tais como o desporto, o turismo, a política, a religião, o associativismo, o comércio, etc. Daí também se consegue aferir as relações que o Algarve foi estabelecendo, a vários níveis de envolvimento, com o resto do país e mesmo com o estrangeiro, sendo bastante relevante para quem investiga ou simplesmente tem curiosidade sobre estes assuntos.
A realização
A Direção Regional de Cultura do Algarve, reconhecendo na Universidade do Algarve a capacidade para a coordenação da execução do projeto, fez um protocolo com esta entidade, permitindo a materialização da ideia no prazo de 24 meses, como estava estipulado. A maioria destas coleções encontrava- se apenas na Biblioteca Nacional (muitas delas em elevado estado de degradação), e noutras bibliotecas e arquivos do país, ou pertença de alguns particulares, o que dificultava – e, em alguns casos, até impedia – o acesso a quem tem de recorrer com frequência a estas valiosas fontes. Para a concretização do projeto, foram feitos contactos com bibliotecas e arquivos públicos e particulares para empréstimo das coleções e todos gentilmente acederam. A Biblioteca Nacional de Portugal aceitou ser parceira desde o primeiro momento, não só facultando os exemplares que tinha, como ficando a seu cargo a digitalização de mais de 400 títulos de jornais editados no Algarve desde 1810, num total de mais de 200.000 imagens. A 8 de dezembro iniciou-se uma primeira fase, em que ficaram disponíveis 49 títulos. A fase de carregamento continua, sendo os restantes títulos disponibilizados o mais breve possível, pretendo-se, ainda, que o utilizador venha a ter a possibilidade de pesquisar, por palavra ou assunto, no texto integral. Em cumprimento do Código dos Direitos de Autor e dos Direitos Conexos, em 2019 ficarão disponíveis as publicações entre 1810 e 1949, sendo as restantes incluídas nos anos subsequentes. No entanto, o leitor pode consultar a totalidade da coleção digital nas instalações físicas da Biblioteca da Universidade do Algarve – António Rosa Mendes, entidade que fará a coordenação executiva, científica e de sistemas desta coleção digital. A Hemeroteca Digital do Algarve vem permitir a reunião e a salvaguarda deste valiosíssimo património do Algarve que servirá a memória de todos.
(Artigo publicado no Caderno Cultura.Sul de dezembro)