Em 1988, Anthony Smith chegou a Portugal pela primeira vez. Ao longo dos anos, as idas e vindas levaram-no a residir em diversos países como a Áustria, Frankfurt, os Balcãs e o Brasil, até que decidiu fixar-se na região do Douro, onde é produtor de vinhos na Quinta do Covelo. Nascido em Inglaterra há 62 anos, viveu 12 anos no norte de Portugal, mas em 2022, decidiu que era altura de “abrandar um pouco e mudar-se para o sul”, como contou na reportagem ao site Nit.
Anthony escolheu Tavira, uma cidade onde costumava passar férias e que não foi afetada pelo turismo em massa, mantendo a sua imagem tradicional. Com uma boa base de amizades na cidade e procurando uma casa maior para acolher a família e amigos, Anthony encontrou uma casa senhorial de 1909 no centro histórico de Tavira. A propriedade, com cerca de 600 metros quadrados divididos por dois andares e dois espaços exteriores, estava fechada há dez anos e necessitava de uma renovação completa.
“A renovação foi feita do zero, mas mantivemos tudo o que era original, da estrutura ao layout dos quartos. A casa pertencia a uma família numerosa, que apenas vinham aqui de férias. Não era habitada de forma permanente, o que conduziu a alguma deterioração”, explicou Anthony.
O objetivo era preservar ao máximo a traça original. A casa precisava de novas instalações nas casas de banho e na cozinha, além de resolver problemas de infiltrações no telhado e substituir as janelas deterioradas. “Grande parte das madeiras estava em ótimo estado, porque estava coberta de muitas camadas de verniz, tudo castanho escuro — o que tem pouco a ver com a ideia que temos da arquitetura do Algarve”, contou Anthony.
Desafios da Renovação
A casa, sendo património histórico, tinha de ser recuperada fielmente. Anthony recorda à Nit a dificuldade em encontrar as telhas Marselha, necessárias para manter a autenticidade, e que tiveram de ser encomendadas do norte do país. O friso superior, ornamentado com azulejos da antiga Fábrica de Loiça de Sacavém, foi outro desafio, obrigando Anthony a procurar por produtores capazes de reproduzir fielmente os originais.
“Reconstruir o friso superior, ornamentado com azulejos da antiga Fábrica de Loiça de Sacavém, que já não existe, obrigou-me a fazer uma espécie de caça ao tesouro. Falei com diversos produtores até encontrar alguém em Barcarena que conseguiu reproduzir fielmente o original — depois foi só fazer uma série de réplicas”, explicou Anthony. A segunda fachada, na rua de trás, segue um estilo mais alentejano: branca, com uma faixa amarela e pilares.
No total, a casa tem 36 janelas que foram todas substituídas, implementando soluções energeticamente eficientes como vidros duplos e painéis solares. As portas, com quase quatro metros de altura, também foram restauradas, removendo o verniz e lixando novamente, num processo demorado.
Um Ano e Quatro Meses de Trabalho
A renovação da casa senhorial durou um ano e quatro meses, um tempo relativamente curto para este tipo de projetos. Anthony misturou vários estilos decorativos, refletindo a sua experiência internacional. “Em termos de mobília e decoração, é uma combinação de coisas, de épocas diferentes e de vários locais, que fomos acumulando. É uma questão de conseguir misturar esses estilos e peças de forma orgânica e eclética. Acredito que a casa tem uma personalidade muito própria, sinto que tudo está no sítio certo”, concluiu Anthony.
A casa senhorial de Anthony Smith, com “uma das fachadas mais fotografadas de Tavira”, é um exemplo brilhante de como é possível renovar e preservar a história, criando um espaço harmonioso e acolhedor.
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