Num mundo cada vez mais digital, os esquemas de burla evoluem e ganham novas formas, sendo a clonagem de voz em chamadas um dos mais recentes truques utilizados pelos burlões. A inteligência artificial, que há pouco tempo parecia apenas uma inovação interessante, está agora a ser usada de formas inesperadas e perigosas, sendo capaz de recriar vozes humanas com uma precisão assustadora.
Imagine receber uma chamada de um familiar ou amigo a pedir ajuda financeira. A voz soa familiar, o pedido é urgente, e sem desconfiar, sente-se inclinado a ajudar. O problema? Pode não ser essa pessoa do outro lado da linha. Com a clonagem de voz, alimentada pela inteligência artificial, estas situações estão a tornar-se cada vez mais frequentes e difíceis de detetar.
O perigo da inteligência artificial
O uso de inteligência artificial para clonar vozes não é uma realidade distante. O avanço tecnológico já permite criar réplicas virtuais da voz de qualquer pessoa, desde celebridades até ao cidadão comum, utilizando apenas pequenos fragmentos de gravações. A ameaça é ainda maior quando aplicada ao contexto de fraudes telefónicas, onde a confiança no reconhecimento vocal é um fator decisivo. Como alerta Mark Zuckerberg: “Estamos numa era em que a tecnologia evolui mais rápido do que a nossa capacidade de perceber os seus impactos”.
Como é que os burlões conseguem a sua voz?
As fraudes podem começar de formas aparentemente inofensivas. Um exemplo comum são as chamadas automáticas fraudulentas. Ao atender, pode ouvir frases como “Estou a ter problemas com o meu auricular, consegue ouvir-me?”. Esta estratégia desarma as pessoas, levando-as a responder “sim”, confirmando não só que o número está ativo, mas também oferecendo material de voz que poderá ser utilizado mais tarde para clonagem. Este é o início de esquemas mais elaborados, que podem incluir pedidos de ajuda de familiares ou amigos com voz clonada, tentando extrair dinheiro ou informações sensíveis.
Além disso, uma simples resposta positiva pode ser reutilizada para autorizar compras ou assinaturas não solicitadas. Como revela um estudo recente, “as burlas telefónicas são cada vez mais sofisticadas, misturando tecnologia e engenharia social para enganar até os mais cautelosos”.
Como se proteger?
A primeira linha de defesa é a precaução. Se não reconhecer o número, deixe a chamada ir para o voicemail. Mesmo que a chamada não seja marcada como suspeita pelo seu operador, há um risco crescente de que estas tentativas sejam fraudes. As chamadas automáticas de marketing, sem consentimento prévio, são ilegais, e muitas vezes os burlões utilizam números com o mesmo prefixo que o seu, para parecerem locais e menos suspeitos.
Outra estratégia útil, como sugere o Leak, é bloquear números desconhecidos ou usar aplicações que detetam e bloqueiam chamadas de spam. “Ignorar ou bloquear chamadas não reconhecidas é uma medida simples, mas altamente eficaz na luta contra fraudes”, como indicam especialistas em cibersegurança. Se for necessário atender, tenha sempre em mente que não deve responder a perguntas diretas com “sim” ou “não”, e nunca deve fornecer informações pessoais.
Em última análise, numa era de crescente sofisticação tecnológica, o melhor conselho continua a ser a vigilância constante. Lembre-se: nem todas as chamadas que recebe são de humanos, e o som familiar de uma voz pode já não ser garantia de autenticidade.
Leia também: A praia espanhola mais próxima do Algarve, um pequeno paraíso aqui ao lado