A história de Portugal não se cinge a grandes figuras que realizaram feitos que as engrandeceram. Ao longo dos diversos séculos de existência do país, muitas personalidades se distinguiram por realizarem ações que permitiram que fossem recordadas pelo povo.
Foi o que aconteceu com Zé do Telhado. Apesar de ter sido um dos salteadores do período pós guerra civil, ele ficou para a história como uma figura acarinhada pelo povo, devido ao facto de fazer sempre por partilhar com os pobres parte do saque que garantia nas suas ações menos nobres.
Ora, este gesto permitiu que fosse identificado como Robin dos Bosques português.
Quem foi “Zé do Telhado”?
O seu nome era José Teixeira da Silva (1818-1875). O seu nascimento ocorreu em Penafiel, mais precisamente na aldeia do Telhado. Ele provém de uma família que apresentava parcos recursos.
Aos 14 anos, ele foi viver com um tio em Caíde de Rei, Lousada. Ele aprendeu o ofício de tratador de animais e castrador com o seu tio. “Zé do Telhado” teve cinco filhos gerados pela mulher com quem casou, uma prima sua, Ana Lentina de Campos. Ele casou-se com a prima aos 27 anos.
Carreira militar
A sua vida tem um novo rumo quando começa a carreira militar nos Lanceiros de Lisboa, também designados de “Lanceiros da Rainha”. Foi na primeira metade do século XIX que surgiu um conflito que teve absolutistas e liberais em campos opostos. Por isso, ele acaba por envolver-se no processo da guerra civil que colocava liberais e absolutistas em complexa oposição.
Após a sua fação ter sido derrotada, ele acaba por sair de Portugal. No entanto, com o fim da guerra civil, em 1837, e a caminho do exílio, tem autorização do tio para casar com a prima Ana com quem constitui família.
Posteriormente, ele regressou a casa após o exílio de D. Miguel que José Teixeira da Silva.
Em 1846, com a Revolução da Maria da Fonte, “Zé do Telhado” integra a revolta popular. Ele acaba por salvar a vida ao general Sá da Bandeira durante os confrontos, feito que o leva a ser condecorado por ele, tendo recebido a medalha de Cavaleiro de Torre e Espada.
O salteador
Após a Convenção de Gramido, que decorreu em junho de 1847, a “Revolta de Maria da Fonte” cessa. A família de “Zé do Telhado” debatia-se com sérias dificuldades financeiras nesta altura.
Neste contexto, “Zé do Telhado” liderou uma quadrilha que realizou vários assaltos no norte de Portugal. É após assumir a liderança desta quadrilha que começa a ser conhecido como “Zé do Telhado”. Como ele fazia questão de partilhar com os pobres parte dos ganhos que conseguia com as suas ações, foi reconhecido pelo povo.
O grupo passou a ser procurado pelas autoridades com maior ênfase a partir do momento em que um dos elementos da quadrilha matou um criado. O seu bando foi perseguido depois desse episódio trágico.
“Zé do Telhado” pretendia escapar à caçada que estava montada para o apanhar. No entanto, quando se encontrava a bordo do navio destinado ao Brasil, ele foi apanhado e preso.
Um encontro na prisão
Após ter sido preso, “Zé do Telhado” estava destinado a ser esquecido para sempre, mas
teve a oportunidade de privar com alguém especial, Camilo Castelo Branco. O escritor encontrava-se na mesma prisão por ter sido detido por adultério. A tentação trouxe-lhe problemas, após se ter apaixonado por Ana Plácido, casada com Manuel Pinheiro Alves, um comerciante rico.
Após ter privado com “Zé do Telhado”, na Cadeia da Relação do Porto, eles formaram uma amizade. O escritor Camilo Castelo Branco acabou por prestar homenagem ao Robin dos Bosques português na sua obra “Memórias do Cárcere”. Ele criou outra memória da história, o que contribuiu para atenuar os crimes de “Zé do Telhado”.
Com o contributo de Camilo, o homem que podia ter sido um ferrabrás foi transformado num herói romântico, alguém que roubava aos ricos para dar aos pobres, como Robin dos Bosques, um mítico herói inglês.
Esta figura inglesa que teria vivido no século XII, no tempo do Rei Ricardo Coração de Leão e das grandes Cruzadas, também foi um fora da lei que dava aos pobres parte do que roubava à nobreza.
O julgamento
Após ser preso em 1859, “Zé do Telhado” foi julgado no Tribunal Judicial de Marco de Canaveses. O seu julgamento começou a 25 de abril de 1859 e estendeu-se até 1861. No entanto, este encontro acabou por ter um papel determinante na sua vida. Acabou por ser o advogado de Camilo Castelo Branco que lhe salvou a vida com o seu desempenho em tribunal.
Era provável o “Zé do Telhado” ser condenado à morte, devido aos seus feitos menos nobres. No entanto, a defesa do advogado impediu esse destino. Contra todas as expectativas, “Zé do Telhado” apenas foi condenado ao degredo na costa ocidental de África para toda a vida.
Apesar da pena ter sido comutada mais tarde para 15 anos de degredo, ele ficou em território angolano. Foi neste país que ele teve a oportunidade de reconstruir a sua vida. Além de se ter tornado num negociante reconhecido e estimado pela população local, “Zé do Telhado” casou-se novamente. Deste casamento ainda teve mais 3 filhos.
Por aqui, viveu até ao fim dos seus dias. “Zé do Telhado” morreu neste país aos 57 anos, em 1875. Ele encontra-se sepultado num pequeno mausoléu, presente na aldeia de Xissa, que se situa a cerca de 100 km de Malanje. Este espaço tornou-se numa atração local.
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