O dinamarquês Kasper Asgreen (Deceuninck-QuickStep) venceu hoje o contrarrelógio individual da quarta etapa da Volta ao Algarve em bicicleta, em Lagoa, com o britânico Ethan Hayter (INEOS), que caiu, a reforçar a liderança da geral.
Asgreen, bicampeão dinamarquês do ‘crono’, cumpriu os 20,3 quilómetros do ‘crono’ em Lagoa em 23.52 minutos, batendo por três segundos o português Rafael Reis (Efapel), segundo, e por nove o francês Benjamin Thomas (Groupama-FDJ), terceiro.
Nas contas da geral, Hayter caiu, mas conseguiu recompor-se e terminar o exercício no nono lugar, reforçando a liderança da geral, colocando 12 segundos de vantagem para o segundo classificado, João Rodrigues (W52-FC Porto), hoje 11.º. Asgreen subiu a terceiro, agora a 21 segundos do camisola amarela.
A 47.ª edição da Volta ao Algarve termina no domingo, com a quinta etapa, que liga Albufeira ao alto do Malhão em 170,1 quilómetros, decidindo o sucessor do belga Remco Evenepoel (Deceuninck-QuickStep), vencedor em 2020.
O recorde de Asgreen e a queda de Hayter marcaram ‘crono’ de Lagoa
Kasper Asgreen beneficiou hoje dos caprichos do vento para pulverizar o recorde dos 20,3 quilómetros do contrarrelógio da Lagoa, numa etapa da Volta ao Algarve em bicicleta marcada pela queda de Ethan Hayter, que ainda assim reforçou a amarela.
Não fosse a queda do jovem britânico da INEOS, que, apesar do percalço, ainda conseguiu distanciar-se do português João Rodrigues (W52-FC Porto), com quem estava empatado na geral, e o dinamarquês da Deceuninck-QuickStep teria ‘honras’ de protagonismo solitário na quarta tirada, ou não tivesse o recente vencedor da Volta a Flandres pedalado a uma média de 51,034 km/h para fixar em 23.52 minutos o novo recorde no circuito de Lagoa.
Mas Ethan Hayter, que já vinha a marcar o segundo melhor tempo no primeiro ponto intermédio, caiu e o suspense da tirada aumentou, com o camisola amarela a cortar a meta, ensanguentado, com o nono lugar na jornada, a 01.02 minutos do vencedor, mas com uma vantagem de 12 segundos sobre o vencedor da Volta a Portugal de 2019.
Ao longo da tarde, as surpresas foram-se sucedendo em Lagoa, precisamente no mesmo circuito de 20,3 quilómetros percorrido nas três edições anteriores, com o recorde estabelecido no ano passado por Remco Evenepoel, rumo ao triunfo na 46.ª edição da ‘Algarvia’, a ser sucessivamente melhorado.
Décimo nono a sair para a estrada em Lagoa, Benjamin Thomas foi o primeiro a ‘apagar’ o nome do ‘prodígio’ belga do livro dos recordes, ao parar o cronómetro nuns impressionantes 24.01 minutos, retirando seis segundos ao tempo de Evenepoel.
O tempo do campeão francês da especialidade em 2019 e atual campeão mundial de omnium parecia imbatível até Rafael Reis baixar a marca do ciclista da Groupama-FDJ no segundo ponto intermédio, uma superioridade confirmada na meta: o melhor contrarrelogista português a alinhar nas equipas nacionais cumpriu a etapa em 23.55 minutos.
“Não estava à espera de bater o recorde do percurso, mas também estamos numa altura diferente do ano. O vento estava ligeiramente diferente das outras vezes: estava a bater meio de lado na primeira parte do percurso, e nos outros anos estava de frente. […] Na subida do Carvoeiro, estava de costas”, detalhou o corredor da Efapel, para justificar o ‘desfile’ de recordes.
Quarto no ‘crono’ sub-23 dos Mundiais de 2014 e ‘rei’ dos prólogos na Volta a Portugal (venceu em 2016 e 2018 e foi segundo no ano passado), aquele que é um dos mais subvalorizados ciclistas nacionais ainda sonhou com o triunfo, mas viu o campeão dinamarquês da especialidade (e também de fundo) negar-lhe a festa por apenas três segundos.
“Sabia de antemão que o Benjamim Thomas tinha o melhor tempo do percurso e, quando bati o seu registo, sabia que agora o recorde era meu”, contou à Lusa o novo terceiro classificado na geral, a 21 segundos de Hayter, que provavelmente até teria estado na luta pelo ‘crono’ caso não tivesse caído.
Mas o camisola amarela entrou mal numa curva, perdeu o controlo da bicicleta e foi embater nas baias da estrada: “Estou bastante maltratado, para ser honesto. Foi uma queda a alta velocidade: Abordei mal a curva e havia um pouco de areia, perdi a aderência e fui a deslizar pelo asfalto. Felizmente, não perdi muito tempo a verificar que estava ok, e, felizmente também, não bati com a cabeça com muita força”.
Com sangue a manchar-lhe a amarela, o jovem de 22 anos não desistiu e fez “o que podia para limitar as perdas e salvar a camisola amarela”, pedalando em sofrimento até à meta.
Enquanto João Rodrigues aguardava, expectante, para ver o tempo do seu maior adversário aparecer no quadro eletrónico, o britânico passou ‘disparado’ para a ambulância, onde recebeu assistência durante largos minutos, obrigando a um longo compasso de espera na cerimónia protocolar.
E foi sem camisola, com os rasgões na pele em evidência, que apareceu para envergar uma nova amarela, que escondeu momentaneamente as mazelas, também visíveis nas pernas, antes de novas manchas vermelhas começarem a denunciá-las.
“Ainda não pensei muito bem como farei amanhã [no domingo]”, reconheceu um ainda atordoado Hayter, que tem ‘apenas’ 170,1 quilómetros, com partida em Albufeira e chegada ao Malhão, entre si e a vitória final na 47.ª ‘Algarvia’, numa luta que deverá reduzir-se aos três primeiros da geral.
Volta ao Algarve: 4.ª etapa – Declarações
Declarações após a quarta etapa da 47.ª edição da Volta ao Algarve em bicicleta, um contrarrelógio de 20,3 quilómetros em Lagoa vencido pelo dinamarquês Kasper Asgreen (Deceuninck-QuickStep):
Kasper Asgreen, Din, Deceuninck-QuickStep (vencedor da etapa): “Penso que a equipa apresenta um bom nível nos contrarrelógios, temos um longo historial neste tipo de provas. Temos ciclistas que gostam de se focar nesta especialidade, é fantástico.
Sabia de antemão que o Benjamim Thomas tinha o melhor tempo do percurso e, quando bati o seu registo, sabia que agora o recorde era meu.
Mais importante, no entanto, foi ter salvaguardado o longo historial de vitórias da equipa nesta especialidade e conseguir mais um triunfo aqui no Algarve.
Este é um contrarrelógio de força, de potência, mas no qual é muito difícil encontrar um bom ritmo, porque há muitas curvas, é muito técnico e realmente faz a diferença reconhecer o percurso. Tive a sorte de termos estado aqui em estágio por várias vezes nos últimos anos e, apesar de correr pela primeira vez a Volta ao Algarve, conhecia muito bem o percurso.
Tive um bom ‘feedback’ dos meus colegas que fizeram primeiramente a prova e optei, na segunda metade, por acelerar a fundo e, sinceramente, acho que foi aí que ganhei”.
Rafael Reis, Por, Efapel (segundo na etapa): “Não estava à espera de bater o recorde do percurso, mas também estamos numa altura diferente do ano. O vento estava ligeiramente diferente das outras vezes: estava a bater meio de lado na primeira parte do percurso, e nos outros anos estava de frente.
Estou bastante contente com este contrarrelógio e com a oportunidade que a Efapel me deu para estes próximos dois anos. Acho que as coisas podem correr muito bem.
Estamos a falar de fevereiro, e agora estamos a falar de maio. O vento estava realmente diferente. Na subida do Carvoeiro, estava de costas, o que não acontecia em fevereiro, nos outros anos.
Eu preparei-me muito bem para este contrarrelógio, a equipa acreditou em mim. O meu principal objetivo era o ‘crono’, e estou bastante orgulhoso”.
Ivo Oliveira, Por, UAE Emirates (sexto na etapa): “Fiz o meu melhor, estamos perto dos tempos do ano passado. É óbvio que o vento também é um fator a ter em conta.
Foi um dos melhores ‘cronos’ que fiz até hoje, mesmo não tendo referências, porque perdi o meu computador no primeiro quilómetro. Fui sem referências o contrarrelógio inteiro, fui um bocado por sensações, o que eu não gosto muito, mas teve de ser. Tendo conta esse percalço, fiz um muito bom ‘crono’.
[Camisola de campeão nacional] ajuda sempre. Adoro fazer contrarrelógio, ainda por cima tendo a camisola de campeão nacional. É sempre uma motivação extra e correr em casa ainda mais, ouvir o meu nome na estrada… foi bestial.
Não quero ser o melhor português, eu queria ser o melhor da etapa. Isso é o que me interessa a mim. Ser o melhor português da etapa dá-me igual, sinceramente”.
Ethan Hayter, GB, INEOS (líder da geral individual): “Estou bastante maltratado, para ser honesto. Foi uma queda a alta velocidade: Abordei mal a curva e havia um pouco de areia, perdi a aderência e fui a deslizar pelo asfalto. Felizmente, não perdi muito tempo a verificar que estava ok, e, felizmente também, não bati com a cabeça com muita força.
Fiz o que podia para limitar as minhas perdas e salvar a camisola amarela.
Ainda não pensei muito bem como o farei amanhã [domingo, no Malhão]. Quem é o segundo classificado? [João Rodrigues]… ok. Acho que se resumirá à última subida. Espero poder estar ao mesmo nível que na Fóia e segurar a camisola”.
João Rodrigues, Por, W52-FC Porto (segundo na geral individual): “Não correu como queria ou como era expectável. Nunca consegui fazer um bom contrarrelógio neste circuito, mas, pronto, estou a 12 segundos.
Amanhã [domingo], é uma etapa dura, no alto do Malhão, que conheço bastante bem e, claro, estando atrás, vamos tentar atacar para tentar vencer a classificação geral.
Estamos perto do camisola amarela, vamos tentar fazer tudo por tudo para vencer. Se não for possível, vamos de consciência tranquilo porque demos tudo na estrada.
Só lhe tenho de dar os parabéns [a Ethan Hayter] por ter conseguido manter a camisola amarela. Infelizmente, teve aquele azar [queda], o que é sempre mau para um atleta. Se calhar, amanhã [domingo] vai acordar um pouco durinho, que pode influenciar um bocadinho.
[Tática para o Malhão] Ainda é algo que vamos falar na reunião da equipa e delinear uma estratégia para tentar vencer. Ainda está tudo em aberto”.