Enquanto as pessoas pelo mundo fora ouvem o estalido das pipocas que preparam, enquanto aguardame expectantes a longa e arrastada agonia do rescaldo das eleições americanas, há uma revolução silenciosa a fermentar. Uma revolução do pensamento racional e do poder feminino, onde a escolha já não está nas mãos de homens séniores elitistas envolvidos em batalhas de egos.
A escolha silenciosa dos lituanos pode não dominar o mundo, como aparenta, ou sequer o rumo da Europa, mas é uma esperança para as pessoas, que já não querem votar no mal menor. Eis que, no turbilhão da época eleitoral, o resultado desta escolha foi uma coligação formada por três partidos, todos liderados por mulheres.
O caso da Lituânia é, de facto, muito interessante. Apesar de séculos de opressão e anexação estrangeira, é um país que nos curtos intervalos entre múltiplas intervenções estrangeiras hostis, conseguiu produzir uma das mais antigas Constituições nacionais codificadas do mundo. Considerada a mais antiga da Europa e a 2ª mais antiga a nível mundial, assinada a 3 de maio de 1791, foi uma das primeiras a conceder o direito de voto às mulheres em 1918. Com a adoção deste direito na constituição temporária após a declaração de independência apenas meses antes. A Lituânia é um país onde as mulheres fizeram parte do primeiro parlamento eleito pelo cidadão em 1920, ao qual presidiram na tomada de posse. Duas mulheres também se apresentaram como candidatas durante as eleições presidenciais de 1926. E num país onde o poder matriarcal é considerado influente na vida familiar e comunitária, isto naõ passa de uma ligeira surpresa, ainda que num tom jocoso mas bem humorado.
O caminho das mulheres lituanas na liderança, como é o caso mundial, não foi nem provavelmente nunca será fácil. É um exemplo claro do Efeito Abismo de Vidro, um fenómeno do mundo real em que as mulheres são mais propensas a serem nomeadas para cargos precários de liderança, em unidades de baixo desempenho, enquanto os homens são mais propensos a serem nomeados para cargos de liderança estáveis em organizações bem sucedidas. Uma mulher foi eleita presidente à luz de uma recessão em 2009 (juntamente com mulheres que assumiram cargos ministeriais estratégicos como as Finanças e a Defesa, nas eleições parlamentais em 2008). Em comparação, os lituanos pré-COVID19 elegeram um presidente que foi descrito como “alto e bonito”. Um presidente que acatou o apelo para se isolar, e mal foi visto durante os meses da primeira vaga da pandemia.
Apesar do longo reinado das senhoras nas famílias e nas comunidades, as escolhas de voto tendem geralmente a ser divididas no país: por um lado, os centros urbanos tendem a votar de forma mais consistente para o centro-direita (consoante as sondagens liberais e conservadoras) e, por conseguinte, em mulheres. Enquanto as regiões inclinam-se para a esquerda (social-democrata e, nas últimas eleições, camponeses-verdes) com o perfil de candidato típico que é homem, com mais de 50 anos e possui valores católicos rígidos. Ao passo que no panorama nacional interno, isto possa parecer um sistema algo confuso, os lituanos sofreram sob de um regime soviético, e o sistema partidário evoluiu para algo bastante único e singular.
E eis que, quando chegaram os resultados da segunda volta, estavam previstos uns parcos 74 mandatos (em 141) para uma coligação conjunta da União Interna conservadora (50 mandatos), Movimento Liberal (13 mandatos) e Partido da Liberdade (11 mandatos). O acordo foi anunciado na passada quinta-feira, 5 de novembro, após duas semanas de negociações entre os líderes do partido, alguns dos quais em sério isolamento devido ao COVID-19.
O anúncio do acordo de coligação surgiu como uma representação dos próximos quatro anos. E foi glorioso. À medida que as três principais senhoras, foram assumindo uma posição de frente unida perante a conferência de imprensa, apanhou-me de surpres:, este equilíbrio entre experiência, racionalidade e ambição jovem. A líder experiente. A campeã mundial e mestre de xadrez. E provavelmente a líder de um partido maioritário mais jovem da história do país. E numa clara representação da diversidade do poder feminino, formaram em conjunto uma estratégia baseada na realização de objetivos em vez de divisão de poder. Um plano que aborda questões profundas, que têm vindo a dividir o país ao longo de décadas de poder de alternado. E esperemos que, à medida que os 4 anos terminam e o poder volte aos homens em posições de liderança estáveis, as senhoras terão concretizado o que se proposeram fazer. Garantir um futuro de estabilidade, racionalidade e esperança para as mulheres que gostam de pensar por si mesmas. Sem abismos de vidro à vista.
(Tradução de Marta Costa Lima)
* Augustė Taruškaitė é coordenadora de projectos na Out of The Box International e na OTB Europe, repartindo o seu tempo entre Bruxelas e Faro. Uma Lituana a viver no Algarve desde 2018, é graduada pela Universidade de Londres com formação académica base em história e cultura, comunicação organizacional e especializada em impacto de organizações sem fins lucrativos e angariação de fundos.
Atualização Europe Direct Algarve
A Lituânia (em lituano: Lietuva; pronunciado: [lʲɪɛtʊˈvɐ] ()), oficialmente República da Lituânia (em lituano: Lietuvos Respublika), é uma das três repúblicas bálticas. Limita ao norte com a Letônia, ao leste e ao sul com a Bielorrússia, ao sul com a Polônia, ao sul e ao oeste com o exclave russo de Kaliningrado e ao oeste com o mar Báltico. A capital é a cidade de Vilnius, no leste do país. É um dos países-membros da União Europeia (UE) desde 2004. É atualmente um país desenvolvido, possuindo bons indicadores sociais, refletindo no fato do país possuir o 35.° mais alto Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) em 2013, e o 41° maior PIB PPC per capita entre os países do mundo segundo dados do Banco Mundial para o ano de 2013.
Informação Europe Direct Algarve
A Estratégia para a Igualdade de Género 2020-2025 define as principais ações a realizar nos próximos 5 anos e compromete-se a assegurar que a perspetiva de género seja integrada em todos os domínios de intervenção da UE. A Estratégia descreve a forma como a Comissão irá cumprir concretamente a promessa feita pela Presidente Ursula von der Leyen segundo a qual a Europa oferece oportunidades iguais para todos aqueles que partilham as mesmas aspirações. Apesar de terem sido realizados alguns progressos significativos, embora irregulares, em matéria de promoção dos direitos das mulheres e das raparigas, nenhum país do mundo está no bom caminho para alcançar a igualdade de género e assegurar o empoderamento de todas as mulheres e raparigas até 2030. Para combater o problema, o novo Plano de Ação da UE em matéria de Igualdade de Género e de Empoderamento das Mulheres no contexto da ação externa 2021-2025 (GAP III) visa acelerar os progressos em matéria de empoderamento das mulheres e das raparigas e salvaguardar os progressos alcançados em matéria de igualdade de género durante os 25 anos subsequentes à adoção da Declaração de Pequim e da sua Plataforma de Ação.
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