Os produtores de vinhos de várias regiões de Portugal estão a apostar no “difícil” mercado espanhol e da América Latina, através de um concurso ibérico que anualmente se realiza na aldeia raiana de Trabanca, na província espanhola de Salamanca.
Os produtores nacionais, principalmente, os de menor dimensão, garantem que o certame é uma porta aberta para os mercados internacionais como Espanha, Estados Unidos ou os países latinos da América do Sul.
Para a Câmara de Provadores do Concurso Ibérico Vindouro/Vinduero, que é constituída por cerca de 60 pessoas, repartida em partes iguais por homens e mulheres, há a garantia de que os vinhos portugueses “estão em crescendo em qualidade”.
Porém, os especialistas deixam a certeza de que “há néctares dos deuses” desde a Região Demarcada do Douro, passando pelo Dão, ou da região de Lisboa e Vale do Tejo, Beira Interior, Trás-os-Montes, Bairrada, sem esquecer os vinhos verdes e os vinhos produzidos nas ilhas dos Açores e Madeira.
“Ainda não temos os resultados dos vinhos provados. Contudo, posso antecipar que provámos vinhos do Douro que vão pontuar muito alto. O que está claro é que o Douro é a espinha dorsal no que respeita à qualidade, rivalizando com o que de melhor se faz em Espanha”, exemplificou à Lusa, a enóloga internacional Isabel Mijares.
A especialista, que já ocupou um lugar de conselheira nas Nações Unidades para área da alimentação, vincou que “Portugal é um país com um leque de vinhos diversificado e está conseguir conservar as suas variedades autóctones”.
“Portugal está a proteger as suas variedades autóctones, o que tem um grande interesses no mundo dos vinhos. É preciso animar os produtores portugueses a levar em frente este trabalho. Por outro lado, os vinhos portugueses, devido aos efeitos da pandemia, estão a aproximar-se mais dos consumidores”, indicou a especialista.
Para Isabel Mijares, para conquistar os mercados internacionais, os portugueses estão a fazer mais vinho para consumo do que para “filosofar”.
“Como os hábitos de consumo de vinho estão a mudar, os produtores portugueses estão no bom caminho. Este novo mundo teve um grande influência tantos nos produtores como nos consumidores, e os vinhos mais jovens e menos elaborados vão ganhado mercado”, concretizou a também investigadora.
Acreditando nesta oportunidade lançada pela Rota Internacional dos Vinhos, integrada no Agrupamento Europeu de Cooperação Territorial (AECT) Duero/Douro, os produtores portugueses fizeram-se representar com 53% das mais de 900 amostras que estiveram ao alcance dos especialistas internacionais.
Por seu lado, Jorge Alvares, um provador da região do Douro, avançou que este concurso é uma “competição magnífica” entre os vinhos portugueses e espanhóis.
“Estavam muitos vinhos em prova. Nota-se que há vinhos ambiciosos que pretendem ir mais além, sendo natural que este tipo de evento traga oportunidades de promoção no mercado internacional para os vinhos portugueses. E nós precisamos de promoção dos nossos vinhos em Espanha, já que os espanhóis conhecem pouco os portugueses”, enfatizou o também membro do júri deste concurso ibérico.
Já o presidente da Comissão Vinícola da Beira Interior, Rodolfo Queirós, afiançou que faz todo o sentido fazer um concurso de vinhos no interior peninsular, sendo um território de baixa densidade.
“Este tipo de iniciativa também ajudar a promover o território raiano, já que há pessoas que vieram um pouco de toda a península ibérica e ilhas, para conhecer o que de melhor se faz no mundo dos vinhos quer em Portugal quer em Espanha”, frisou.
Rodolfo Queirós disse que com a pandemia provocada pelo novo coronavírus, praticamente não se realizaram outros concursos internacionais, o que vai dar novas oportunidades aos provadores que arrecadarem uma das três medalhas dos prémios Vindouro/Vinduero.
“À semelhança de outros setores de atividade, também a produção de vinhos está a passar por dificuldades. Mas, um vinho premiado internacionalmente tem sempre outro destaque no mercado e aos olhos dos consumidores”, vincou o também provador.
Helena Mira, que foi a primeira mulher portuguesa a integrar o júri deste concurso internacional de vinhos, acredita que esta iniciativa está em franco crescimento, tornando-se numa janela de oportunidades para o mercado de vinhos nacional.
Como se trata de um concurso que tem por base uma “prova cega” ainda não há pontuações conhecidas, o que deverá ser acontecer dentro de uma ou duas semanas.
PRODUÇÃO DE VINHOS NO ALGARVE TRIPLICOU
A produção de vinhos algarvios já ultrapassa um milhão de garrafas e numa década o número de produtores triplicou, após o abandono quase total das vinhas na região devido ao ‘boom’ turístico a partir da década de 1970, avançou em março a Lusa.
No Algarve, estimam-se que existam 1.500 hectares de vinha cultivada, mas “apenas 800 são controlados pela comissão e inscritos para a produção de vinho de indicação geográfica e denominação de origem Algarve”, havendo ainda uma parte da vinha que “não é canalizada para a produção de vinho de qualidade”, informou na altura a presidente da Comissão Vitivinícola do Algarve (CVA), Sara Silva.
No entanto, a previsão é de crescimento, já que existem “vários projetos” para novas plantações.
CAP DEFENDE COMPENSAÇÕES AOS PRODUTORES
A Confederação dos Agricultores de Portugal (CAP) tem vindo a defender junto do Ministério da Agricultura a necessidade de serem adotados mecanismos de compensação financeira aos produtores vinícolas, dando-lhes oportunidade de mitigar a crise, marcada por uma deterioração do preço e por dificuldades no escoamento.
Em comunicado, publicado há sensivelmente um mês, a CAP anunciou que “foi aprovado o reforço do pacote de medidas de crise de apoio ao setor dos vinhos para 18 milhões de euros, verificando-se um incremento de 10 para 12 milhões de euros para a medida de destilação e de 5 para 6 milhões de euros para o armazenamento”.