“Encontrámos algumas estruturas pertencentes ao que julgamos ser o hospital do convento do Carmo, uma estrutura [do século XVIII] que teria bastante impacto naquela zona da cidade, mas da qual não existe qualquer tipo de vestígio por ser anterior ao terramoto”, disse à agência Lusa a arqueóloga Raquel Santos.
A especialista da empresa Neoépica, que realizou este trabalho em parceria com o Centro de Arqueologia de Lisboa (do município), acrescentou que nos Terraços do Carmo, onde houve uma escavação de cinco metros de profundidade, foram descobertos vestígios de um jardim ali existente no século XIX, um troço da designada Muralha do Carmo, alicerces da Igreja do Carmo e, ainda, o que resta dos edifícios da Guarda Nacional Republicana do século XX.
Nesta parte tardoz do convento foram também descobertas “outras estruturas anteriores ao terramoto, mas de menor relevância”, adiantou Raquel Santos.
O miradouro dos Terraços do Carmo, que liga o Largo do Carmo à Rua Garrett, foi inaugurado em Junho passado pelo presidente da Câmara de Lisboa, Fernando Medina, representando a conclusão do plano de recuperação do Chiado, quase 27 anos depois do incêndio de 1988.
A construção deste jardim suspenso da autoria do arquiteto Siza Vieira iniciou-se em Setembro de 2009 e só terminou no ano passado devido a problemas na obra, orçada em dois milhões de euros.
Segundo Raquel Santos, o atraso nada teve a ver com os trabalhos arqueológicos, que se iniciaram em 2008 com sondagens e escavações prévias.
Os resultados agora divulgados devem-se, contudo, à análise arqueológica feita entre Julho de 2013 e Abril de 2015, que assentou também sobre a fachada sul dos Terraços do Carmo, junto à Travessa D. Pedro de Menezes, entre o pátio B e a Igreja do Carmo.
Neste local, encontrou-se um “número muito elevado” de enterramentos (169), que revelaram duas fases da necrópole, entre o século XIV ao século XVIII.
Raquel Santos esclareceu que esta situação “tem a ver com a igreja”, junto à qual existia um cemitério dos pobres e peregrinos.
Descobriram-se, ainda, ossários possivelmente provenientes de obras anteriores, apontou.
Ao mesmo tempo, foi possível identificar a calçada do século XVI, que constituía a antiga rua em época pré-terramoto, e redescobrir a capela do Santo Cristo Cativo, intervencionada em campanhas anteriores, frisou a responsável.
Entre outros achados da intervenção, que envolveu cerca de uma dezena de arqueólogos, estão moedas, cerâmicas, vidros, metais e artefactos em madeira.
Os resultados vão ser divulgados no sábado, às 15 horas, durante a apresentação de “Terraços do Carmo (2013/2015), dinâmicas urbanas: aterros, desaterros e os finados vivos”, por Raquel Santos, na sede do Grupo Amigos de Lisboa, na Rua Portugal Durão.
Agência Lusa