João Lima integra a Versus Tuna desde 2013 e ocupa o cargo de Magister Tvnae. Em entrevista ao POSTAL revela os desafios que a pandemia trouxe para a tuna, fundada em 1991, numa mesa do Seu Café por três estudantes da academia: João Catarino, Rogério Leal e José Artur Melo
Versus Tuna é uma referência dentro da comunidade académica. Qual é o conceito deste grupo? Em que locais já atuaram?
O conceito era o mesmo que se observava na altura a nível nacional no dito boom tuneril: um grupo musical com base no cancioneiro popular português e no cancioneiro tuneril espanhol – por vezes audaciosamente passando pelo fado coimbrão e pela música clássica. A verdade é que num ápice de 3 passaram a 17 elementos e bastou pouco mais de um mês de ensaios para uma primeira aparição – ainda sem traje – na forma de uma serenata da Residência Feminina do Campus da Penha na noite de 28 para 29 de novembro de 1991. Volveram-se meses de ensaios, mas também de intervenção académica. A tuna pautava-se pela música e pela proatividade dos seus tunos no meio estudantil e por isso mesmo desempenhou um papel fulcral em várias iniciativas, uma delas o Traje Académico da Universidade do Algarve.
No dia 7 de maio de 1992 chegaram ao Campus da Penha os primeiros trajes, que tinham sido feitos à medida para os integrantes da tuna com o aval do Prof. Dr. Jacinto Montalvão Marques, na altura reitor da Universidade do Algarve. Nesse mesmo dia a tuna atuou no Restaurante Porto-fino, na baixa de Faro, consagrando a primeira aparição de facto da tuna e do traje, ficando este dia relembrado como data de fundação, dada a magnitude da sua importância para a tuna e para a academia.
Ao longo das últimas três décadas, a tuna passou pelos principais palcos nacionais, desde coliseus aos mais emblemáticos teatros. Contudo, não atuamos só em salas de espetáculo e por entre arruadas, serenatas, eventos culturais e populares, certames tuneris e académicos e outros tantos acontecimentos, já percorremos Todo o território nacional, incluindo as ilhas. Tivemos ainda algumas internacionalizações, já passámos por Espanha, França, Suíça, Alemanha, Países Baixos e Luxemburgo. No total, contávamos com cerca de 50 atuações da mais variada índole por ano antes do início da epidemia.
Considera que os alunos reconhecem cada vez mais a importância da ‘marca’ Versus Tuna dentro da comunidade académica? O grupo tem recebido sempre elementos novos ao longo dos anos?
O reconhecimento que nos é dado deriva em primeira instância de uma importância histórica da tuna, isto porque mantivemos uma participação constante nas lides académicas, sendo assim impossível falar do passado da academia sem falar do passado da tuna. Ainda assim, o fator social prevalece no dia-a-dia. Continuamos a ser uma tuna com expressividade nos campi por contarmos sobretudo com estudantes de 1.o e 2.o Ciclo e alguns recentes alumni – é normal, e bom sinal, todos os estudantes conhecerem ou terem um colega da tuna.
Esta consonância passado-presente acaba por ser uma identidade que nos permite manter as nossas tradições e evoluir também com a chegada de cada novo tuno. Temos por isso tido uma renovação plena, sempre com novos elementos, mas gostaríamos sempre de receber mais.
Com a chegada da pandemia, todas as possíveis atuações foram canceladas. Como lidou a Versus Tuna com a situação? Os ensaios foram cancelados?
Os ensaios foram cancelados de imediato e consequentemente foram também as atuações que tínhamos agendadas. A verdade é que foi inicialmente frustrante. Seria um segundo semestre bastante fruitivo, com participações em muitos certames tuneris e muitas atuações na região inclusive as habituais performances na Semana Académica do Algarve.
Acabamos por nos adaptar, dentro do possível, ao convívio virtual. No fundo a tuna entrou em teletrabalho. Não é possível ter um ensaio pleno através do zoom ou do discord mas dá para manter o contacto e desenvolver outros aspetos da tuna. Focamo-nos assim no dito trabalho invisível, nos aspetos associativos, musicais e históricos da tuna. Pode dizer-se que estivemos a trabalhar atrás do pano à espera que ele abra e possamos atuar outra vez.
Neste momento, o grupo está a ensaiar. Numa altura em que os casos covid-19 voltaram a aumentar, quais são as perspetivas de futuro?
Vamos ensaiar seguindo todas as normativas da Direção-Geral da Saúde e da Reitoria da Universidade do Algarve, enquanto nos for possível. Dependo da evolução da epidemia poderemos ter de voltar a suspender os ensaios. Por muito que seja inglório, especialmente para aqueles que terminam os seus percursos académicos e tuneris neste ano letivo, temos sempre de agir de forma consciente. Continuamos, apesar de tudo, motivados e expectantes por voltar em pleno aos palcos.
“Poderemos ter de voltar a suspender os ensaios, dependo da evolução da epidemia”
O facto de não existirem este ano eventos académicos (traçar das capas, bênção das pastas, serenata e até as praxes) pode ser uma forma de estas tradições caírem no ‘esquecimento’ ou perderem força junto de novos alunos?
As tradições e os fenómenos sociais que as acompanham não se extinguem com tanta facilidade. Podem eventualmente transformar-se e serem adaptados ao “novo normal” mas duvido muito que caiam em esquecimento. Pode acontecer até o efeito contrário e por este ano não existirem voltarem no próximo em força. No que nos toca, temos feito por desempenhar o nosso papel, ainda que virtualmente. Ainda assim queremos trabalhar no sentido de fazer chegar à comunidade académica um pouco mais de nós nos próximos meses. Uma serenata na janela da internet não é o mesmo que uma serenata à janela de casa, mas podemos sempre tentar.
Qual é o espírito da tuna?
O espírito da tuna é a irmandade criada em torno da música. A prova disto é que somos uma tuna heterogénea com estudantes dos mais variados cursos e vindos um pouco de toda a parte, mas que se unem por terem em comum a música. Acreditamos que a nossa música é também a música de todos os estudantes da Universidade do Algarve, portanto fica o convite a todos aqueles que queiram participar num dos nossos ensaios, às terças feiras, pelas 21:00 horas, no Campus da Penha. Em caso de dúvida basta contactar-nos através das nossas redes sociais.