Na história ainda recente do Aconselhamento Filosófico podemos facilmente distinguir dois grupos: aqueles que consideram que o objectivo da actividade filosófica é alcançar a Felicidade, e aqueles que se decantam pela Verdade.
Esta temática preocupou os filósofos desde sempre. Quando Sócrates, filósofo ateniense da Grécia Antiga, nos diz que uma vida sem reflexão não merece ser vivida, provavelmente tem como pano de fundo precisamente a relação entre verdade e felicidade. Já Platão, discípulo de Sócrates, empenha-se fortemente em distinguir o sonho da realidade. No filme Matrix, essa versão cibernética da Alegoria da Caverna de Platão, apresenta-se a escolha entre uma vida maravilhosa mas sonhada ou uma vida, com todas as suas adversidades, mas real. O núcleo do argumento do filme revela a ânsia de realidade que subjaz a todo o ser humano.
Tudo isto nos leva a perguntar: será possível a felicidade sem verdade?
Alguns dizeres populares sugerem que sim: “a ignorância é felicidade”, ou “olhos que não vêem coração que não sente”. Algumas práticas sociais concordam com esta visão e até mesmo algumas canções dos tops musicais da actualidade a reiteram.
No entanto, dir-se-ía que uma certa qualidade da existência somente se pode predicar de uma vida vivida em verdade. Quer dizer, independentemente do percurso de vida ser feliz ou infeliz, a vivência dessa vida em verdade parece ser primordial.
Com o método de aconselhamento filosófico RVP© (Raciovitalismo Poético) inspirado na filosofia de María Zambrano incluo-me, sem sombra de dúvida, no grupo daqueles que buscam a verdade. O método RVP© pretende alargar o horizonte filosófico para lá da fronteira da racionalidade, para lá desta ilha de claridade, embrenhando-se em territórios de penumbra, sombra, e até mesmo escuridão. Considera que razão e coração devem trabalhar juntos para alcançar a verdade, e que a razão é uma razão criadora, poética, que permite ao homem reinventar-se à medida que se vai descobrindo. Busca-se, portanto, a verdade da pessoa inteira, não apenas a verdade racional. A pessoa inteira inclui as suas aspirações mais profundas, aquilo que ainda não é mas que está em vias de ser, aquilo que já deixou de ser… Percebo-me como ser constitutivamente inacabado e actuo em consequência. Não há que ficar atado a padrões de conduta que já não fazem sentido, por muito que o tenham feito no passado, há que estar atento ao novo eu que a cada momento nasce. Só assim se conseguirá propiciar a vivência da pessoa em autenticidade.
Zambrano afirma: “o homem respira no tempo e alimenta-se de verdade.” Não é pois, possível, ser feliz na mentira. A mentira não alimenta, a verdade sim. A verdade constitui o alimento da alma e, como diz o evangelho, nem só de pão vive o homem…
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