Uma passagem pela maioria das ruas da Urbanização Cerro Azul, em Olhão, pode rapidamente tornar-se num verdadeiro calvário para os automobilistas que não disponham de um jipe verdadeiramente resistente.
O estado do piso das ruas da urbanização faz lembrar um cenário de guerra e torna o trânsito numa gincana que, ainda que esforçada, de pouco serve para fugir aos imensos buracos tal é a sua quantidade.
O drama afecta em particular os habitantes que fazem desta urbanização a sua morada situada no concelho de Olhão, entre Moncarapacho, Estoi e Brancanes, e que são obrigados a enfrentar a situação sempre que querem entrar ou sair de casa.
Construída há cerca de 30 anos por vários empresários do norte do país – Óscar da Silva Cruz, Álvaro Resende, José Amorim e Manuel Fonseca Sardão – e um olhanense – José Firmino Martins – a urbanização apresentava-se como “um empreendimento turístico de altíssima qualidade, estudado e planeado criteriosamente, perfeitamente integrado na paisagem rural”.
Na apresentação do projecto, feita em 1994 e que compreendia todas as infra-estruturas, um hotel com 200 camas, 150 moradias, um campo de futebol com pista de tartan e cortes de ténis, o investimento anunciado era de 20 milhões de contos (cerca de 99,7 milhões de euros). Deste valor e de acordo com o que foi veiculado à data pela comunicação social, 500 mil contos (cerca de 2,4 milhões de euros seria o investimento em infra-estruturas.
Uma obra que nunca ficou terminada
Certo é que apesar das infra-estruturas, nomeadamente os arruamentos, terem sido executadas, a Câmara de Olhão nunca considerou que os trabalhos acordados ao nível da infra-estruturação da urbanização tivessem sido concluídos, razão pela qual nunca aceitou a entrega das infra-estruturas pelo empreiteiro.
Adiada a situação durante o consulado de Francisco Leal por anos sem fim, o tema regressa ao debate político em Olhão, pelo menos em 2013, pela mão do vereador da CDU Sebastião Coelho, que alerta para a situação dos arruamentos.
António Miguel Pina responde ao vereador, em reunião de Câmara a cuja acta o POSTAL teve acesso, que a Câmara pretende executar uma garantia bancária do empreiteiro para proceder à recuperação dos arruamentos.
A situação herdada e a resposta da actual Câmara liderada por António Miguel Pina
Contactado pelo POSTAL o autarca sublinha que “a Câmara efectivamente tentou executar a garantia bancária junto do banco, que não a satisfez, alegando que não se destina a dar cobertura a estes trabalhos de infra-estruturas”.
O presidente recorda que “este é um processo com cerca de 30 anos e que esteve parado durante décadas sem acção da autarquia e que só já na minha presidência se avançou para a execução da garantia bancária, situação cujo impasse levará Câmara e banco para os tribunais”.
Reconhecendo a “situação difícil dos moradores do Cerro Azul”, António Pina considera que “apesar de estarem em causa obras de cerca de 200 mil euros e de as mesmas resultarem de um processo em que a autarquia nunca chegou a aceitar a entrega das infra-estruturas, a situação não se pode prolongar indefinidamente”.
“Espero que as intervenções necessárias possam ser enquadradas no plano de requalificação da rede viária do concelho que estamos a preparar para levar a cabo com recurso a um empréstimo bancário, cuja aprovação deverá ser submetida à Assembleia Municipal em Abril”, diz o autarca, que conclui que “uma vez aprovado este empréstimo as obras poderão então ser enquadradas dentro do possível neste plano que vai intervir em várias zonas do concelho e cujos concursos e adjudicações seguirão a normal tramitação nestes casos”.