Na segunda parte da entrevista a TSF, “Diário de Notícias” e “Jornal de Notícias”, o primeiro-ministro disse que o líder da oposição “odeia jornalistas e magistrados” e que, apesar ter surgido para discutir o Centro com o PS, o PSD está a disputar a Direita com o Chega.
“Um cata-vento tem uma grande vantagem sobre o dr. Rui Rio: é que um cata-vento ao menos tem pontos cardeais, o dr. Rui Rio não tem”, disse António Costa quando questionado sobre eventuais pactos com o PSD para as grandes reformas no país. “O dr. Rui Rio diz coisas que nem tem noção, presumo eu, do que está a dizer em matéria de Justiça. Como sabe, há duas categorias profissionais que ele odeia: uns são os senhores, os jornalistas, e a seguir são os magistrados. E a verdade é que um político num regime democrático pode até não gostar muito das coisas que os senhores escrevem, eu muitas vezes não gosto, mas temos de respeitar e não temos de desenvolver ódio relativamente à Comunicação Social. Assim como temos de respeitar as decisões judiciais. O dr. Rui Rio apareceu na liderança do PSD como querendo disputar o Centro ao PS e agora já está naquela fase de disputar a Direita ao Chega. E muito mais perigoso do que o Chega é a contaminação do PSD pelas ideias do Chega.”
Costa negou que a Operação Marquês, cuja fase instrutória culminou na acusação de seis crimes contra José Sócrates, seja um elefante na sala. “Seria sempre difícil para qualquer partido lidar com a existência de um seu antigo líder, um anterior primeiro-ministro, que está a ser objeto de investigação, acusação e pronúncia sobre criminalidade. Acho que o PS fez o que é correto porque qualquer coisa que o PS fizesse, das duas uma, ou seria uma pressão inadmissível sobre a Justiça ou seria uma desconsideração inaceitável do princípio da presunção da inocência.”
O PM continua a defender o lema “à política o que é da política e à justiça o que é da justiça”, proferido aquando da detenção de Sócrates, e diz que o mesmo não desresponsabiliza a política: “É uma forma de respeitar o princípio da separação de poderes. Imagine o que era eu, como líder da oposição ou como primeiro-ministro, permitir-me opinar sobre esta ou aquela decisão judicial. Há uma enorme diferença entre mim e o dr. Rui Rio. O dr. Rui Rio proclama à segunda, quarta e sexta grandes princípios e depois à terça, quinta, sábado e domingo esquece-se dos princípios e lá vai na onda”.
E acrescenta: “O discurso dele do 25 de Abril, que felizmente poucas pessoas repararam porque a sessão foi obviamente marcada pela excelência do discurso do Presidente da República, é da maior gravidade. Porque dá voz ao populismo contra a impunidade e a conclusão que tira é que é necessário dar uma machadada na independência das magistraturas, com aquela peregrina perseguição que faz ao Ministério Público e à necessidade de os políticos terem uma maioria no Conselho Superior do Ministério Público”.
António Costa chegou a admitir na entrevista a TSF, “DN” e “JN” que seria benéfico para o seu partido ver o PSD encostar-se tanto à Direita, pois “mais campo livre fica para que o Centro se sinta inclinado para o PS”, mas deixa um alerta: “Mas não acho que seja bom para a democracia que o PSD entre nesta deriva de namoro com o Chega e de esbatimento daquilo que são cordões sanitários que têm de existir entre a Direita democrática e a extrema-direita. Preferia ter menos votos ao Centro e um PSD que se mantivesse no seu lugar de sempre, na Direita democrática, do que esta deriva insana em que o PSD agora entrou, porque não é saudável para o futuro da democracia”.
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