Nos dias de hoje, o telemóvel tornou-se um companheiro constante, acompanhando todas as gerações em quase todas as atividades diárias. A proliferação desses dispositivos suscitou preocupações acerca dos possíveis riscos associados à radiação que eles emitem, e os riscos associados a transportá-los no bolso das calças.
No entanto, existe uma questão controversa que se destaca: o impacto que a radiofrequência, usada para a comunicação nos telemóveis, pode ter na fertilidade dos homens, especialmente daqueles que carregam os seus aparelhos no bolso frontal das calças.
Neste tópico, a ciência ainda não forneceu uma resposta definitiva. De acordo com Mário Pereira-Lourenço, urologista credenciado pela Sociedade Europeia de Medicina Sexual, especialista no IPO de Coimbra e na clínica Montes Claros, em declarações ao Viral, não há “evidência científica de alta qualidade” que permita afirmar “com segurança” que colocar o telemóvel no bolso frontal das calças afeta negativamente a qualidade dos espermatozoides.
O especialista adverte contra atitudes alarmistas e esclarece que, embora exista uma probabilidade teórica, a literatura científica sobre o assunto é contraditória. Alguns estudos alegam que pode haver um impacto na morfologia e mobilidade dos espermatozoides, enquanto outros não encontram qualquer efeito.
João Pereira, urologista na unidade local de saúde do Alto Minho, concorda para a mesma fonte que o tema é controverso e afirma que não se pode afirmar com certeza que a radiofrequência de baixa intensidade emitida pelos telemóveis no bolso frontal das calças tem impacto na fertilidade.
Menciona, no entanto, que existem suspeitas nesse sentido, associadas ao potencial aumento de temperatura nos órgãos genitais devido à radiação.
Ainda assim, não está comprovado que o uso regular de telemóveis cause um aumento substancial da temperatura ou que a distância entre o bolso e os órgãos genitais seja suficiente para influenciar a temperatura dos testículos.
João Pereira também menciona que “estudos in vitro [em laboratório] sugerem que a exposição à radiação dos telemóveis pode causar fragmentação do ADN dos espermatozoides”, o que pode estar associado a um maior risco de aborto ou infertilidade. No entanto, em “estudos in vivo [em humanos], os resultados são conflituantes, com alguns a mostrar uma perda de qualidade do sémen e outros não”.
Uma revisão sistemática que analisou 18 estudos, tanto in vitro como in vivo, concluiu que o uso de telemóveis pode ser prejudicial para a qualidade do sémen. Os autores salientam contudo que os estudos in vivo têm limitações, como a incapacidade de isolar variáveis que podem interferir nos resultados.
Em relação à fertilidade masculina, a única certeza é que não há uma ligação definitiva entre o uso de telemóveis no bolso e a capacidade de conceber uma gravidez.
Quando se trata do potencial impacto das radiações dos telemóveis no risco de cancro dos testículos, a conclusão é mais clara. Especialistas concordam que não há evidências científicas que relacionem o uso de telemóveis no bolso frontal com um aumento do risco de cancro no testículo.
Instituições de renome, como o Centro de Investigação para o Cancro do Reino Unido e a agência norte-americana FDA, realçam que a radiação dos telemóveis não possui energia suficiente para causar danos diretos ao ADN e, portanto, não tem capacidade de causar cancro.
Embora existam preocupações sobre os potenciais riscos associados ao uso do telemóvel no bolso, a ciência ainda não forneceu evidências conclusivas para estabelecer uma ligação direta entre o uso de telemóveis no bolso e problemas de fertilidade ou cancro nos testículos.
Não é necessário entrar em pânico, mas é importante continuar a acompanhar as pesquisas nessa área em constante evolução.
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