O trinar das doze cordas de uma guitarra portuguesa, donde a arte dos guitarristas arranca os acordes de um fado, tem sobre os portugueses um efeito intangível, um misto de história e identidade, de alma e sentir.
Um sentir que cala em cada português com a força bruta das trepadeiras, que o envolve sem pedir licença e o deslumbra sem remédio. Está-nos no sangue, é parte integrante do nosso património genético identitário.
Mas o fado é hoje, mais do que nosso, e sem deixar de ser só nosso, património imaterial da humanidade. Levado ao mundo, quebrando todas as fronteiras, pela voz de Amália Rodrigues e feito world music por nomes como Carlos do Carmo e por toda uma nova geração de fadistas desde os finais do século passado, o fado é alma de um povo feita notas de música bordadas a poemas de excepção.
É esta marca da identidade lusa que a Associação Cultural ‘Fado com História’ mostra desde Outubro na nova sede em Tavira, junto à Igreja da Misericórdia, em pleno casco antigo da cidade do Gilão.
O espaço que será inaugurado oficialmente no próximo dia 5, permite aos visitantes conhecer o fado de forma diferente, percebe-lo em toda a sua plenitude, ouvi-lo, senti-lo e, acima de tudo, experimentar-lhe a sensação penetrante que faz deste género um ícone do soar português.
Fado trocado por miúdos
No espaço Fado com História, muito mais do que ouvir fado – a canção nacional nascida na Lisboa dos primórdios de oitocentos – o que se pretende é trocar o fado por miúdos para que portugueses e turistas de todas as idades possam percebê-lo melhor.
Para isso entre as 10.15 e as 17.15 horas, seis sessões de espectáculos aguardam pelos espectadores de segunda-feira a sábado para lhes mostrar o fado em toda a sua amplitude.
Um remake do vídeo da candidatura do fado a património imaterial da UNESCO (VER ORIGINAL) antecipa as guitarradas e as vozes com uma curta viagem pela história do fado. Das lides da Severa, com paragem obrigatória em Alfredo Marceneiro e Hermínia Silva, passando pelos salões nobres na voz de Maria Teresa de Noronha e pela enorme Amália, para terminar nos novos caminhos do fado traçados por vozes como Marisa, Carminho, Cuca Roseta, Camané e Cátia Guerreiro entre tantas outras, fechando com o inolvidável Carlos do Carmo.
Ali se mostra o fado feito canção popular, expressão de resistência ao regime apropriada pelo mesmo para efeitos de propaganda, ali se convida a assomar-se a ruas, a espreitar vielas e sentir o ambiente de uma casa de fados.
O filme porta estandarte da candidatura portuguesa à UNESCO mostra como o fado se fez de Portugal depois de ser lisboeta e se massificou com o advento da rádio e da discografia e é o ponto de partida para uma sessão de fados e guitarradas que dá a conhecer o melhor que a canção nacional tem para mostrar.
A aposta no público diurno
Embora para muitos portugueses o fado seja contranatura quando o sol ainda vai alto, a aposta do espaço Fado com História vai para o público nacional e estrangeiro de visita a Tavira, também ela cidade emblemática da classificação da dieta mediterrânica como património imaterial da humanidade.
As sessões de fado decorrem durante todo o dia e destinam-se a turistas e residentes, terceira idade e escolas que querem numa curta visita a um espaço que respira fado compreender todo o alcance desta forma a artística de ser português.
Assim cada fado é acompanhado de uma pequena introdução explicativa e daqui se parte para a partilha da identidade nacional portuguesa com todos aqueles que a querem perceber melhor, com o fado como anfitrião de uma viagem pelo genoma cultural luso.
Agora já não há razão para não conhecer em profundidade a canção nacional e a raiz donde lhe vem a força inigualável de marcar gerações de portugueses e estrangeiros pelos quatro cantos do mundo. Uma visita a Tavira garante-lhe isto mesmo pela mão do espaço Fado com História a inaugurar na próxima sexta-feira, pelas 17 horas, num dia que conta ainda com um espectáculo de comemoração agendado para na Igreja da Misericórdia, em Tavira, pelas 21 horas, numa gala com os fadistas Sara Gonçalves, Teresa Viola, Raquel Peters, e, Pedro Viola, que vão ser acompanhados por Miguel Drago (guitarra portuguesa), Virgílio Lança (viola clássica) e Tó Correia (contrabaixo).