Num país onde a fome é cada vez mais uma realidade Olhão não foge à regra e também no concelho o drama alastra a olhos vistos perante um desemprego galopante e uma cada vez menor capacidade de resiliência das populações.
“Há fome em Olhão”, quem o diz é António Pina, e não espanta que o assuma desassombradamente quando tem de lidar com ela todos os dias e encontrar resposta para mitigar os seus efeitos.
Sendo sempre um drama de difícil aceitação, a fome ganha outra dimensão quando afecta os mais pequenos. Quando aqueles que não têm qualquer capacidade de se prover são também eles atingidos pelo flagelo da falta de comida a situação ganha contornos de violência intolerável.
Num país onde a resposta social é muitas vezes escassa, quando se trata de apoio alimentar aos lactentes a inexistência de um sistema de apoio é a realidade com que nos deparamos. Só agora se dão os primeiros passos nesta área mesmo por instituições fortemente implantadas como é o caso do Banco Alimentar.
Perante um problema encontrar uma solução
Perante o problema de não existirem respostas efectivas às necessidades alimentares dos lactentes em famílias de acentuadas carências alimentares, a equipa da ACASO liderada por Célia Branco, assumiu há cinco anos uma batalha, a de garantir a criação de um Banco do Bebé, capaz de prover aos mais pequenos uma resposta social na área alimentar e das necessidades mais básicas.
Assim nasceu o SOS Miminhos que ajuda hoje 92 crianças de tenra idade contando para o efeito apenas com o apoio de mecenas privados, desde empresas a particulares, passando por movimentos associativos que se envolveram neste projecto arrojado.
Galardoado com o Prémio de Mérito e Excelência da Administração Regional de Saúde do Algarve, o SOS miminhos garante apoio alimentar, nomeadamente papas e leites específicos, a 92 duas crianças do concelho de Olhão. Mas vai mais longe, do pacote de apoio constam também as fraldas, os cremes, e todos os outros produtos de caracterizam as necessidades básicas dos pequenotes, numa ajuda que marca a diferença.
Ao POSTAL, quando se pergunta o que comeriam estas crianças se não fosse a ajuda do SOS Miminhos”, Célia Branco afirma sem rodeios “leite de vaca do pacote” e pouco mais, ou mesmo, nada mais.
Noventa e duas famílias encontram assim resposta para o desespero de não poder alimentar os filhos naquela que é mais uma das muitas ajudas que a ACASO presta dia após dia.
Perfeitamente implantado o SOS Miminhos despista com ajuda dos serviços de Saúde, da Segurança Social e da autarquia olhanense os casos de carência nesta área. Analisa as situações e desenha um projecto de apoio para cada situação que implica tanto quanto possível a própria família da criança e que pretende agora, com o “atelier para os afectos” reforçar a resposta social.
Nesta nova faceta do SOS Miminhos a ACASO aposta em envolver cada vez mais o agregado familiar e ensinar as mães a criar de raiz um enxoval para os seus bebés, desde a confecção até ao produto final. Ao mesmo tempo enquadra-se o apoio com formações na área da puericultura e da educação para a infância, ajudando a reforçar a estrutura social primária de apoio à criança, a família.
Perto de 900 pessoas apoiadas em comida
A ACASO enquadra ainda cerca de 900 pessoas no âmbito do apoio alimentar diário. São 240 agregados familiares apoiados com os alimentos do Banco Alimentar do Algarve, a que se somam 100 agregados que recebem ajuda do Fundo Europeu de Auxílio às Pessoas Mais Carenciadas e 80 pessoas que todos os dias comem na cantina social que a instituição possui com o apoio da Segurança Social.
Um quadro que angustiante que só peca por defeito, uma vez que, no concelho de Olhão a ACASO, não obstante ser a maior instituição de apoio social, não é a única. Há mais gente a necessitar e a receber apoio alimentar noutras instituições sociais, nomeadamente associadas à Igreja Católica, e por isso as 900 pessoas apoiadas pela ACASO são apenas parte do problema.
A par dos apoios alimentares e porque nem só de pão vive o homem, a ACASO disponibiliza no centro comunitário uma lavandaria social, um cabeleireiro social, e uma loja social onde as pessoas podem adquirir bens necessários ao seu bem-estar a preços reduzidos ou mesmo gratuitamente.
“Há quem já só possa lavar roupa na lavandaria social porque ou já não tem água, ou já não tem luz”, recorda Célia Branco e uma vez mais, também aqui, a ACASO tem uma resposta para quem mais precisa.
Uma realidade transversal à região, a pobreza está aí a crescer a olhos vistos
O POSTAL visitou a ACASO (VER) como poderia ter visitado tantas outras instituições na região que todos os dias sem excepção ajudam os algarvios a ultrapassarem as suas dificuldades, em particular aqueles que mais precisam.
Estas instituições prestam à sociedade algarvia um serviço inestimável, evitando a sua desagregação, lutando contra a miséria humana e, pelas piores razões, fazendo a cada dia um pouco mais pela manutenção da paz social.
O Algarve, como um pouco todo o país, debate-se com uma crise longa de mais que atira para as margens da sociedade milhares de portugueses, sem olhar a idade, formação ou nível social. É a este flagelo que os milhares de pessoas, profissionais e voluntários dão resposta numa luta constante que importa reconhecer, mas que urge acima de tudo não deixar esquecer, porque é desta triste realidade que, também, se faz a região e o país.
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