O ex-primeiro-ministro José Sócrates defendeu no passado sábado a necessidade de o PS tomar posição a favor de um candidato para as eleições presidenciais, considerando esse apoio “decisivo” para um triunfo à esquerda.
José Sócrates falou durante perto de uma hora numa conferência sobre Justiça, realizada em Vila Real de Santo António, na qual participou a convite do presidente da câmara local, Luís Gomes (PSD), e disse que chegou a pensar só participar na iniciativa após a campanha eleitoral para as Presidenciais, mas reconsiderou porque percebeu que “falta a política” na campanha.
“Todos os que gostam da política, da diferença, da acção, de escolher, de ter opinião, o que estão à espera é que nesta campanha presidencial regresse a política. E regresse o confronto, porque não há política sem confronto, sem escolhas, sem alternativas, não há campanhas sem isto, sem o sal da política”, afirmou José Sócrates.
O antigo primeiro-ministro disse desejar que “esta campanha recupere o seu ânimo e deixe de ser um festival de presenças na televisão, como alguém disse um festival de concurso de popularidade, para passar a ser uma escolha política sobre aquilo que é o futuro”.
“O que está a faltar nesta campanha presidencial é não apenas as questões políticas, mas também o empenhamento de todos os protagonistas políticos. Lamento que os principais partidos políticos não tenham o empenhamento que deviam ter nesta campanha, por razões diversas”, acrescentou.
Sócrates disse que Rebelo de Sousa ‘quer ser e esconder’
Por isso, José Sócrates defendeu que “o Partido Socialista devia-se empenhar nesta campanha e fazer uma escolha, porque isso é absolutamente decisivo para a vitória de um candidato presidencial de esquerda”, mas sem referir um nome como preferência.
“Mas vejo também que à directa as coisas ainda são mais confusas, porque não são apenas os partidos que parece que não querem, e apenas recomendam o voto, como o próprio candidato também parece não querer, porque quer distanciar-se desses partidos”, afirmou ainda José Sócrates, referindo-se à postura de PSD e CDS-PP quanto à candidatura de Marcelo Rebelo de Sousa.
Sócrates disse que Rebelo de Sousa “quer ser e esconder” e considerou que “um combate político tem que ter sempre um ingrediente político, naturalmente”, mas deve também ser feito “à volta de pessoas que assumam o seu passado, as suas convicções e as suas referências e famílias políticas”.
“Este jogo de enganos, em que toda a gente pretende não ser o que é, parece ser absolutamente detestável para a democracia portuguesa”, disse ainda José Sócrates, sublinhando que “é também à volta da Constituição” e daquilo que as pessoas “intuem que o Presidente vai fazer em momento de crise” que se joga uma campanha presidencial.
José Sócrates fez estas declarações depois de ter reiterado a sua inocência no processo judicial em que é suspeito de corrupção e criticado as autoridades judiciais por o terem detido e colocado em prisão preventiva sem provas ou factos para apresentarem uma acusação após mais de um ano.
Sócrates agradeceu a “coragem” do presidente da Câmara de Vila Real de Santo António ao “não ser indiferente” e tomar posição contra a detenção de um cidadão sem factos que a sustentem e assegurou que vai continuar a lutar pela sua defesa e contra os “abusos” do ministério público neste caso, que disse ter “motivações políticas”.
(Agência Lusa)