Hoje recebi um convite para uma inscrição early bird para o World Science Festival 2018, em Nova Iorque. Até ia tendo um orgasmo.
O World Science Festival é um grande, grande, evento anual dedicado à Ciência. Na edição de 2017, mais de 628 mil pessoas assistiram aos mais de 70 eventos que decorreram durante seis dias em todos os cinco bairros de Nova Iorque. É assim como uma Web Summit de Lisboa, mas dez vezes maior. A edição de 2018 irá decorrer entre 29 de Maio e 3 de Junho.
Não fosse um pequeno detalhe, particularmente o preço da entrada do Jantar de Gala do primeiro dia variar entre os 1.000 e os 100.000 dólares ao qual haverá de somar custos de deslocação e estadia, eu estaria certamente na primeira fila. O tema do Jantar de Gala será uma celebração do passado e do presente das mulheres na ciência. A boa notícia é que todos os contributos – afinal não são preços, são contributos – irão ser emparelhados por igual valor generosamente doados pela Simons Foundation, um dos patrocinadores do evento.
Saltando o jantar, outras palestras do evento, apresentam preços bem mais acessíveis, que vão dos 100 dólares para uma entrada VIP Premium que inclui um “World Science Festival Planetary Level Membership”, que não faço ideia o que será, mas tem um bom nome e um lugar sentado nos lugares destinados a Very Important Persons; a um valor de 40 dólares para pessoas normais e de 20 dólares para portadores de cartão de estudante. [Seja como for, nada que se compare com a nossa very hype Web Summit 2018, Lisbon que apresenta uma maravilhosa promoção de dois bilhetes por 680 euros.]
O tema da sessão de quarta-feira dia 30 de Maio, às 20 horas, horário nobre, é chamativa: “Escuridão visível: lançando uma nova luz nos buracos negros”, animado por Brian Green e outros físicos e astrónomos de relevo.
“Com o poder da matemática, os cientistas vão ainda mais longe [do que com telescópios], usando equações para ‘ver’ buracos negros por dentro, espreitando a singularidade central onde a relatividade geral e a mecânica quântica colidem”. Lindo… orgásmico, mesmo.
Na quinta-feira dia 1 de Junho, haverá mais uma grande uma sessão – sobre o Cérebro, ‘Nuts and Bolts’ para melhores cérebros – potenciando o poder da neuro plasticidade”. Cheia de neurocientistas de renome, seria mais uma sessão que eu não perderia.
Se estiver em Nova Iorque no dia 2 de Junho, não perca uma destas duas sessões que ocorrem em simultâneo, uma sobre Inteligência Artificial, com a presença de especialistas AI, neurocientistas e filósofos e outra sobre Anti-Matéria “Você existe! Mas não devia!”
Oh, dúvida cruel.
Sábado, logo de manhã, um convite difícil de recusar – Traga as crianças, vamos contar peixinhos para a beira-rio – é a proposta para uma actividade divertida e gratuita. “Não é necessária rede. Nós fornecemos tudo, incluindo as perneiras. Apenas apareça e ajude-nos a contar”. Parece divertido.
Mais ofertas ao ar livre, irão animar Nova Iorque, todo o fim-de-semana, de manhã, à tarde e à noite, como a visita a um barco baleeiro do século XIX ou olhar para as estrelas junto à ponte de Brooklyn; enquanto na City of Science haverá a possibilidade de conhecer um cientista forense, um herpetologista amante de veneno de cobras, um engenheiro da NASA e inventores que estão a mudar o futuro do desporto, no âmbito da sessão sobre as novas profissões cool ligadas à ciência.
Os Micróbios atacam ao meio dia de sábado. “Muito de si, não é você. Por cada célula do seu corpo, há uma outra minúscula criatura unicelular que também chama lar ao seu corpo”, onde um painel de microbiologistas se propõe fazer zoom in até ao mundo micro e zoom out para as suas influencias macro.
Se a Big Tech o preocupa, ela vai ser discutida na sessão: “Pode a Big Tech crescer e começar a tomar responsabilidade?”
No Domingo, dormir até tarde, vai ser difícil. Logo às dez da manhã, e até às cinco da tarde a City of Science, o equivalente ao Pavilhão do Conhecimento em Nova Iorque, abrirá as portas gratuitamente para todos os visitantes; e a sua criança interior não o vai deixar passar sem assistir à sessão sobre livros de ciência para os mais novos ou a sessão onde a convidada especial será a finalista do concurso “Flame Challenge” – ou como explicar conceitos científicos que miúdos de 11 anos consigam perceber que teve a ideia vencedora para a pergunta “O que é o Clima?”.
E lá mais para o fim do dia, para os sobreviventes, haverá ainda uma sessão sobre Seres Extraterrestres e outra sobre Percepção, neurociência e espiritualidade. Spooky …
O tema geral do festival de 2018 é Rethinking Science, repensando a Ciência. Uau! Mais dia ou menos dia, a maior parte das palestras estará disponível em vídeo no canal Youtube do evento.
Por falar em Uau, mudemos de assunto e falemos agora de outros orgasmos.
Apesar de haver abundante investigação, relativamente recente, sobre orgasmos femininos esta ainda não tem sido eficazmente difundida junto ao público em geral, provavelmente devido ao tabu que a nossa sociedade, mas também a comunidade científica, tem relativamente a tudo diz respeito à sexualidade.
As redes sociais encarregaram-se de divulgar alguns factos importantes: que, nas mulheres, o orgasmo clitoriano é muito mais frequente que o orgasmo vaginal. Números apontam percentagens à volta dos 80%, para mulheres adultas que já experienciaram orgasmos clitorianos, enquanto que somente 30% sabem na prática o que é um orgasmo vaginal. [E se somarem estas duas percentagens para virem depois protestar que 110% não é um valor credível, eu dou-vos um tiro … porque estes dois valores não se podem somar. Há mulheres que têm orgasmos clitorianos; outras que os têm vaginais; umas, sortudas, têm os dois e ainda outras não têm nenhum].
A razão desta diferença brutal é simples de explicar: o clitóris está anatomicamente muito mais acessível à estimulação e proporciona um orgasmo mais fácil devido ao número elevadíssimo, entre 6000 e 8000, de terminais nervosos que o irrigam. Tanto homens como mulheres, com um bocadinho de pratica e dedicação, compreendem o mecanismo da excitação clitoriana nas mulheres e que há movimentos que, quando realizados de forma ritmada e sem muita alteração de movimento, potenciam o aumento da excitação sexual que leva ao orgasmo.
Dentro do canal vaginal, tudo está mais escondido e é, portanto, menos conhecido, mas há um orgasmo excelente, um orgasmo que tem origem na estimulação do cérvix, ou colo do útero, que até é chamado de orgasmo de corpo inteiro, em que não há orgasmo de clitóris que lhe chegue aos calcanhares.
A diferença de sensações entre estes dois orgasmos foi explicada pela neurociência. Pelo clitóris passa o nervo pudendo e pelo cérvix passam dois nervos o hipogástrico e vago e cada um destes nervos estimula regiões diferentes no cérebro, como podem ver na imagem que a equipa liderada por Barry Komisaruk publicou no Journal of Sexual Medicine, em 2011.
“Visualização dos locais de ativação clitoridiana, vaginal e cervical, todos situados no lóbulo paracentral medial, mas diferenciados regionalmente”. Os autores do estudo publicado no Journal of Sexual Medicine, em 2011, interpretam esta diferenciação, devido à inervação sensorial diferencial dessas estruturas genitais, ou seja, clitóris: nervo pudendo, vagina: nervo pélvico e colo do útero: nervo hipogástrico e nervo vago.
O nervo Vago é responsável pela inervação de praticamente todos os órgãos abaixo do pescoço, pulmão, coração, estômago, órgãos sexuais, intestino delgado, parte do intestino grosso (exceto a partir do segundo terço) e para cima do pescoço, ainda vai até às orelhas.
Já o nervo Pudendo primeiro enerva a região perineal, antes de continuar para o dorsal do nervo do pénis ou a dorsal do nervo do clitóris.
Para o estudo, os pesquisadores recrutaram 11 mulheres saudáveis, não grávidas, com idades entre 23 e 56 anos. Enquanto dentro do scanner cerebral, fMRI [functional Magnetic Ressonance Imaging], cada mulher estimulava o clitóris, a vagina, o colo e o mamilo tocando ritmicamente com um dedo ou, no caso da vagina e colo do útero, usando um dildo de plástico.
Para quem quiser testar, tipo hipótese científica, se há efectivamente diferença nas sensações orgásmicas, há uma técnica óptima para se conseguir atingir este orgasmo cervical, de corpo inteiro e lamento informar, mas não é a técnica tradicional mais utilizada de penetração preferida pelos homens. É aliás, pouco intuitiva e necessita, da parte dos homens, de uma vontade e controlo forte para a concretizar.
Acontece que o cérvix é uma zona muito sensível, que estimulada repetidamente por embate peniano forte pode, e muitas vezes provoca dor o que faz reduzir o nível de excitação na mulher e dificulta este orgasmo. A técnica sugerida por especialistas empíricas, não é necessariamente rocket science, mas implica um esforço consciente e controlado para favorecer um contacto continuo e com pouco impacto, que é o segredo para despoletar este poderoso orgasmo feminino. Deixarei nas leituras recomendadas, duas receitas empíricas que explicam e se complementam muito bem.
Vale a pena fazer a experiência e estimular as várias regiões do lóbulo paracentral medial do cérebro, nem que seja pela Ciência. Para não mais se esquecer, KISS – keep it slow and steady, é um bom acrónimo para quem quer ter ou provocar um orgasmo feminino, seja ele clitoriano ou cervical, em que keep it, quer dizer com paciência e sem pressa; slow, em tradução para castelhano é despacito; e steady, em ritmo constante.
[Sobre orgasmos de Ponto G – ficará para uma outra crónica. Pode ser?]
Bons orgasmos.
Leituras recomendadas:
- Video: https://www.youtube.com/watch?v=PbDxa4JE8V8
- Video: https://www.youtube.com/watch?v=ZEjP4wkx5l8
- Women’s Clitoris, Vagina And Cervix Mapped On The Sensory Cortex: fMRI Evidence. Barry R. Komisaruk, Nan Wise, Lcsw,1 Eleni Frangos, Ba,1 Wen-Ching Liu, Kachina Allen, and Stuart Brody. J Sex Med. 2011 Oct; 8(10): 2822–2830. https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC3186818/