Não sei qual é o vosso passatempo preferido, mas o meu são piadas de Física e estudar Sexualidade. É kinky, eu sei…
Gargalho numa base regular com as piadas de Sheldon Cooper e seus amigos, da série “A Teoria do Big Bang”, que já vai na 11ª temporada, sempre com imensa imaginação e piada, principalmente para quem percebe as piadas da Física.
Os guionistas brincam obviamente com estereotipados episódios da vida de Físicos, o que deixou a comunidade científica um pouco irritada, mas os personagens são todos muito bem apanhados: Sheldon, um físico teórico que deambula entre teoria das cordas e matéria negra; Rajesh, um astrofísico que descobriu um pequeno planeta e hoje é comunicador de ciência no Observatório local; Leonard, um físico experimental que desenha e operacionaliza experiências com colegas de vários outros ramos científicos, incluindo geólogos; e Howard, um engenheiro mecânico que já foi ao Laboratório Espacial Europeu em missão e voltou, mais magro, mas inteiro; e as respectivas namoradas, Amy, uma neurocientista que começou estudando o prazer dos macacos e disseca cérebros como uma verdadeira cirurgiã; Bernadette, uma bióloga a trabalhar para um laboratório farmacêutico onde ganha várias vezes mais do que o seu marido astronauta e investigador universitário e last but not the least, Penny, uma aspirante a actriz, que resistiu enquanto pode ao romantismo de Leonard, que deixou de ser empregada de mesa para se tornar delegada de propaganda médica. Que ramalhete – qualquer um deles mais engraçado que o anterior.
Todos estes personagens têm frases de culto, que são copiosamente partilhadas por essa internet a fora, sob a forma de “memes”. Não sei bem como traduzir a palavra “memes”, mas vocês sabem o que são – uma imagem qualquer com uma frase escrita por cima.
Nesta série a personalidade do personagem Sheldon é o sujeito preferido de uma audiência fiel onde as piadas de ciência ocupam também um lugar de destaque.
“Não achas que se eu estivesse errado eu o saberia?” – Sheldon Cooper.
Infelizmente, esta frase é bastante característica da soberba de uma grande parte da comunidade científica, com ilustres excepções, que presume que só com grau académico se pode estar actualizado em descobertas e teorias recentes.
Na Física, por exemplo, presumem a iliteracia científica de “leigos”, como se ignorassem a existência do Arxiv – uma brilhante ideia de Paul Ginspark em 1991, onde todos os investigadores deste ramo científico, e não só, colocam os seus artigos em formato “pré-print”, ou seja, uma estratégia enquanto-esperamos-pela-decisão-dos-revisores-vão-lendo-aqui-e-dêem-feedback, que disponibiliza gratuitamente praticamente todos os artigos científicos de Física a qualquer interessado e que curto-circuita as mais prestigiadas e indecentemente caras revistas científicas peer-rewied.
Na Física de hoje, com o Arxiv, vive-se uma já muito boa primeira versão da verdadeira Open Science, hoje tão debatida e desejada em todos os ramos científicos, mas que nos ramos da Física, Matemática, Ciência da Computação, Estatística e Biologia, representa cerca de 6000 artigos científicos por mês e até inclui artigos de feedback assinados. Falta criar mecanismos para a publicação detalhada dos aparatos experimentais e respectivos dados brutos para verificação independente, mas enfim … mais uma vez a Física lidera a Ciência com uma muito boa ideia.
Só mesmo Sheldon Cooper teria a coragem de a dizer: “Eu nunca disse que não és bom no que fazes. Digo simplesmente que o que fazes é inútil” que, entretanto, passou a meme.
E claro que esta ideia, que Sheldon tanto gosta de aplicar a qualquer ser humano que não se dedique a estudar os mais profundos mistérios do universo, ou seja, física teórica, encontra um curioso eco na actual física teórica, hoje minada de teorias impossíveis de comprovar ou desprovar, que paralisa a Física experimental com a agradável excepção da investigação espacial. A Física teórica está em crise científica e é preciso ter a coragem para a assumir, para o bem de todos nós, desta e de todas as outras Ciências que com ela beneficiam dos seus avanços.
À medida que o tempo passa, mais e mais físicos e não-físicos se começam a preocupar com a enormidade das anomalias que minam as fundações da Física Teórica actual, sintoma que antecipa a necessidade de uma revolução científica, o mais rapidamente possível nesta ciência.
Uma dessas anomalias é a exagerada diferença entre o valor calculado pela teoria quântica para a constante cosmológica e o valor “observado”, calculado através da Teoria da Relatividade, que divergem por muitas ordens de grandeza. E quando digo muitas é mesmo muitas, do tipo 10 elevado a 120. O valor da constante cosmológica, que representa o mesmo conceito de uma densidade de energia intrínseca do vácuo, que está relacionada com o cálculo da quantidade de energia negra no universo, necessária para compensar a gravidade e explicar a observada e inquestionada expansão do universo. De acordo com as mais recentes teorias, o universo é constituído por 4% de matéria visível, 22% de matéria negra e 74% de energia negra. You don’t say …
Para muitos esta discrepância no cálculo do valor da constante cosmológica é apelidada como a pior previsão teórica da história da Física.
E enquanto por exemplo, na Wikipedia, a versão inglesa da entrada “constante cosmológica”, descreve este facto acompanhado de um texto demasiado técnico para iniciados, mas a versão portuguesa, nem a menciona.
Só mesmo os mais jovens teriam o desplante de colocar um meme destes na internet.
Mudando de assunto, alguns desses memes incluem piadas internas da Física: Iam dois átomos a passear na rua quando um deles diz: Espera … acho que perdi um electrão. Diz o outro: Tens a certeza? Responde o primeiro: Claro. Estou positivo. Uma expressão anglo-saxónica que quer dizer – tenho a certeza. [A tradução destas piadas tira a piada toda, vou deixar de o fazer.]
Sobre a ida de outras partículas elementares a bares, temos também a indecente benesse dada aos neutrinos, porque para eles as bebidas são “free of charge”, ou ainda a falta de reactividade do elemento Helio, quando o bartender lhe recusa uma bebida, “He didn’t react”.
Eu sei … não são piadas absolutamente hilariantes, mas eu acho graça.
Absolutamente não correlacionado, lembrei-me de uma anedota, muito antiga, que rezava assim: Iam duas pilas a descer a Avenida da Liberdade quando uma se virou para a outra e sugeriu: e se fôssemos até ao Politeama ver um filme? Responde a outra: Hoje, não, desculpa, não me apetece passar duas horas de pé.
Esta é uma anedota para maiores de 50 anos, ou para alfacinhas de gema, porque não é expectável que muitos saibam que o Politeama, antes de ser o local onde La Feria apresenta hoje os seus famosos musicais, já foi um Cine-Teatro que exibia filmes eróticos e pornográficos.
Voltando à Ciência, há umas datas históricas que necessitam alguma reflexão.
Em 1969, um homem pisou a lua. Em 1982, inventámos a internet. Mas somente em 1998 foi descoberta a completa anatomia do clitóris. E, entretanto, já passaram vinte anos.
E porque tal informação não lhe foi propriamente ensinada na escola, vamos comemorar essa efeméride.
Sabia que o clitóris tem muito mais terminações nervosas do que a glande do pénis numa superfície muito mais pequena?
O pénis masculino médio tem cerca de 10 centímetros de comprimento e 3,2 cm de circunferência e quando erecto incha de 10 a 15 cm de comprimento e atinge 7 a 8 cm de circunferência. A glande tem cerca de 4000 terminações nervosas.
A parte externa do clitóris médio feminino tem cerca de 0,5 cm de comprimento e 0,25 cm de perímetro e pode duplicar de tamanho quando excitado. A glande tem entre 6000 e 8000 terminações nervosas.
Para não se esquecer e criar alguma empatia, poderá pensar que um pénis é um clitóris gigante e a parte externa do clitóris não é mais do que um pénis pequenino, mas muito mais sensível, 100 vezes mais sensível. À volta do 14º dia do período menstrual este pequeno grande órgão, que tem como única e exclusiva função o prazer sexual, cresce mais do que nos outros dias, proporcionando orgasmos mais intensos.
Saber não ocupa lugar e talvez seja agora a altura de saber o que não sabe sobre o clitóris.
E para um verdadeiro mini-curso prático, passe a publicidade gratuita, não deixe de dar uma olhada ao folheto deste produto bem recente, um vibrador com sucção, que certamente foi inventado por uma mulher, porque, para além de excitação do clitóris, serve ainda para proporcionar prazer em muitos outros locais extremamente erógenos para as mulheres.
Não sei porque chamei esta crónica Física para maiores de 18. Erro meu.
Leituras recomendadas:
- https://en.wikipedia.org/wiki/Cosmological_constant, curiosamente a versão portuguesa https://pt.wikipedia.org/wiki/Constante_cosmológica não menciona a discrepância entre valor observado e o previsto pela teoria quântica.