Esta é a minha primeira crónica neste jornal. Apresentemo-nos.
Sou mulher, com idade para ter juízo, estudo comunicação de ciência e vejo a ciência como um dos pináculos do desenvolvimento humano. De tanta coisa má que andamos a fazer neste mundo, fomos também capazes de colectivamente empreender uma viagem em busca da partilha do conhecimento sobre nós próprios e o que nos rodeia. Um cometimento admirável.
Também acredito que, um dia, quando aprovarem o Rendimento Básico Universal, que está para breve, espero, e quando as máquinas fizerem todo o trabalho que não nos apetece fazer, iremos todos estar ocupados a cuidar uns dos outros e do planeta, entretidos a fazer arte e fundamentalmente empenhados a fazer ciência.
E isto sou eu …
Agora é a vossa vez: quem são os leitores de uma coluna de ciência num jornal regional em Portugal? É um estudo que ainda não foi feito. Pelo que sei, parece que Curas-para-o-cancro e seja-o-que-for sobre o Espaço, são os temas científicos mais apreciados pelos portugueses. Poucos jornais nacionais acham suficientemente interessante para os seus leitores mais do que uma pagina de ciência que transcreva as últimas novidades internacionais e uma ou outra notícia nacional retirada de um qualquer press release de entre dezenas que diariamente chegam às redacções. Chora-se o facto de as redacções dos jornais generalistas estarem cada vez mais pequenas. E sobre o perfil do leitor, nada. Não deve haver interesse comercial, imagino.
Apeteceu-me descobrir mais.
Pesquisei e encontrei um projecto, giríssimo, muito interessante e bem documentado, num site Experiment.com, que é uma plataforma crowdfunding de financiamento de projectos de ciência, por pequenas doações do público. Que modernice.
Paige Brown Jarreau e Lance Porter, investigadores da Louisiana State University, angariaram em 2015, 6.030 US dólares, 100% do solicitado e realizaram o estudo “Oh meu Blog de Ciência! Quem lê blogs de ciência e porquê?”, que posteriormente publicaram numa revista científica, revista por pares, Journalism & Mass Communication Quarterly , em Janeiro 2017.
Passando directamente aos finalmentes, esta equipa de investigadores encontrou nos leitores de blogs de ciência, três grupos, que se distinguem pelo seu padrão de comportamento e características demográficas e criaram três perfis de leitores de blogs de ciência, acompanhados de gráficos de leitura fácil e ainda uma infografia. Ora que bem …
Chamaram ao primeiro grupo “One-Way Entertainement Users”, mal traduzido – Malta que só vem aqui para se divertir, que constituem a maioria dos leitores de blogs de ciência. “Mas lá porque esses leitores usam blogs de ciência para entretenimento não significa que eles tenham menos conhecimento sobre ciência”, referem os autores. Na verdade, esse grupo de leitores foi o que maior pontuação obteve num teste geral de conhecimento científico, que vos desafio também a fazerem.
O segundo grupo, também o segundo mais populado desta pesquisa, são os “Unique Information-Seeking Users” ou a Malta que procura informação que a imprensa generalista não publica, constituído por uma grande percentagem de leitores que já seguiram uma carreira científica, por exemplo, cientistas actuais e aposentados.
No terceiro grupo estão os “Super Users” ou Malta da Pesada, que é o grupo mais pequeno, mas curiosamente o mais activo dos três. É o grupo com nível etário mais baixo, fundamentalmente constituído por estudantes e o grupo que mais facilmente partilha conteúdos científicos nas redes sociais.
E estamos apresentados.
Se pertence ao grupo do entretenimento, benvindo ao clube, que nesta crónica vamos conversar de tudo um pouco. Se quiser dar uma ajuda – já que deste lado está uma revolucionária que sofre mas não desiste – pense que um like, uma partilha, mas principalmente um comentário, irá ajudar muito [know thy Facebook].
Se pertence aos especialistas na área, meus amigos, vão encontrar por aqui muita informação picante, seja ela de Sexo ou de Física Quântica, apimentada com Filosofia das Ciências e estudos bem mais recentes do que o Relatório Kinsey.
Para os estudantes, para já, obrigada pelas partilhas, pois não só vão aprender umas coisas de Sexo, que não se aprendem na escola, como, se depender de mim, vos recrutarei para a revolução científica na Física Teórica – os únicos revolucionários que não têm de entrar na clandestinidade, pois revoluções científicas são mandatórias para a evolução das ciências em crise científica, assunto que se estuda na cadeira de Filosofia do 11º ano. Para além disso é a vossa geração que mais irá beneficiar com esta mudança disruptiva e prometo-vos uma carreira científica impar.
No entanto, se chegando ao fim desta crónica continuam curiosos sobre o nome dado a esta coluna de crónicas, continuemos a namorar, porque sexo num primeiro encontro… na verdade não estavam à espera, pois não?