Escrever sobre o sonho Europa é ir à sua génese. O sonho nasce de uma ideia, de uma vontade que almeja determinado benefício/ resultado. E falar da Europa enquanto comunidade e União é ir ao após segunda guerra mundial. A uma Europa destroçada e fragilizada dos destroços de um regime de controlo e de conquista de território. O propósito da União Europeia (UE) foi de preservar e garantir a paz entre os estados membros, de cultivar para que se pudesse estender a cadeia a mais membros para criar um espírito de comunidade e partilha de interesses comuns. E como qualquer sonho traz desafio e caminho a percorrer. Falamos em globalização, consequência da partilha e de fronteiras abertas. E para que o novo se instale algo tem de morrer, para que possa ser criado espaço. Instalar políticas comuns, implica que cada um deixe de olhar para o seu próprio umbigo e tenha de ampliar a sua visão para uma escala mais global.
É necessária uma tempestade, um arrombo, uma deceção para que possamos mergulhar fundo nas feridas abertas e abrir para uma perspetiva maior. É dessa sequência que nasce a UE, da necessidade de criar segurança e colocar o ser humano, as pessoas em primeiro lugar.
Claro que o ser humano tem a tendência para olhar para o seu território e o querer proteger e engradecer. Países são territórios governados por pessoas a querem o melhor para a sua casa. Identidades dentro da Identidade Europa. E vamos mais fundo, dentro de um país há regiões com subidentidades, com determinada geografia, hábitos, costumes, gíria. E dentro de cada país também há segmentações. E cada zona defende o patriotismo do seu território. Mas no fim do dia sentimos a nação, Portugal, o país.
E assim passa também com a Europa, cada país com a sua identidade, a sua diversidade e cultura que cohabita um território maior, o continente. Claro está, que comunicar e pôr em comum é uma tarefa deveras desafiante.
Conseguimos reconhecer hoje várias facilidades que pertencer à União Europeia nos traz, fronteiras abertas, colaboração e parceria entre estados para universidades, empresas. Uma moeda em comum, euro, que torna mais transparente a diferença entre economias e realidade de vida, entre pobreza e riqueza. Não me compete a mim julgar se as medidas tomadas foram as ideais, se favorecem ou desfavorecem. Mas o que é certo é que denunciam de uma forma mais clara e aberta a realidade e funcionamento de cada país.
Atravessamos na atualidade tempos únicos e que nos fazem recordar a génese desta União Europeia, unir esforços e colaborar em tempos de vulnerabilidade, porque juntos tornamo-nos mais fortes numa busca de equilíbrio entre os países mais ricos e os mais pobres. Falamos da pandemia Covid-19 que nos faz recordar do princípio que está acima de tudo, a Vida.
E a doença não escolhe os países mais ricos ou mais pobres, espalha-se como tem de se espalhar. Claro está que quem tiver melhores condições sanitárias e hospitalares tem um privilégio à partida na resposta, mas ainda assim os números revelam que ninguém sai ileso.
Não precisamos pensar Europa para assistirmos ao cenário que está ocorrendo à nossa porta, na nossa aldeia, numa escala mais micro. Assistimos a uma facção extraordinária de solidariedade entre pessoas e a uma facção mais assustada, como reacções de pedir aos vizinhos médicos, enfermeiros e funcionários de supermercado para mudarem de casa neste período a fim de protegerem o respetivo condomínio. Assim é o ser humano, assim somos nós. Que parte escolhemos alimentar é também uma decisão nossa.
Sabemos à partida que quando voltarmos para a rua, o vírus continua aí, que não vamos voltar ao que era antes. Que estamos em cenário completamente novo, sem referências. As medidas de proteção e segurança vão continuar a existir para cuidar a propagação. E que naturalmente as pessoas vão encerrar-se mais nas suas casas, nas suas cidades e país. Há uma recessão na economia, pelo que também menos poder de compra. É um processo natural. Talvez precisemos de regressar mais às nossas origens, de revalorizar o património e a identidade do país, de reaproveitar os nossos recursos naturais e fomentar a agricultura, a produção interna. Reforçar a nossa identidade interna para que possamos ir para fora e partilhar-nos mais.
Estamos numa mudança de paradigma, de valores e de estrutura e para isso temos que deixar morrer o velho. Fazer uma reflexão profunda sobre o que já não nos serve. Sou apologista da comunidade, sim ao sonho de uma civilização mais equitativa e fraterna, sou uma cidadã do planeta terra, somos terráqueos, feitos da mesma matéria.
E talvez a União Europeia precise recordar-se da génese da sua criação, porque por vezes caminhamos e vamos esquecendo o princípio que nos moveu numa primeira fase. É uma prova de fogo esta também que atravessamos, como manter uma comunidade europeia, quando todos estão a fechar fronteiras, a proteger o seu território? E no entanto, temos todos algo em comum, não só a Europa, mas o mundo, todos de alguma forma foram atingidos por este flagelo. Será esse o desafio maior, abrir portas para uma união ainda mais global de interajuda.
Mas isso sou só eu, mais uma sonhadora, como John Lennon, imaginando um mundo sem países, sem religião, sem fome, sem nada por matar ou morrer. Precisamos de muito pouco para viver, e a terra e os recursos naturais provém-nos tudo. A sobreexploração e o consumismo têm estado a matar-nos em doses graduais, e este vírus é também o colapso da forma como temos vindo a viver. Uma chamada a despertar para que possamos reaprender a viver de uma forma mais saudável.
É também um convite a estarmos mais presentes, no aqui e agora. Sem tantas projecções, e a responder às questões práticas que a vida apresenta. Como se pode pensar em enriquecer mais, expandir mercados, quando temos do outro lado do mundo, milhares de pessoas e crianças a morrer de fome e a passar necessidades? Essas são as questões práticas do dia a dia que nos dizem respeito a todos. Espero que esta crise sinceramente nos torne mais humanos, cooperantes e solidários. Agora bateu-nos à porta, a proximidade faz-nos ver que não somos imunes e talvez isso possa aumentar a nossa consciência de responsabilidade global.
Mantenho a minha fé na humanidade e quero acreditar que esta crise nos vai tornar melhores seres humanos, talvez com menos riqueza financeira, mas com mais riqueza de valores e ética, esse é o meu sonho para a Europa e para o mundo.
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