São mais de cinco quilómetros de passeios acessíveis, que foram hoje inaugurados na vila e que transformam São Brás de Alportel num exemplo de políticas urbanísticas no que toca à acessibilidade e mobilidade para pessoas com dificuldades locomotoras e outras.
A inauguração oficial contou com a presença da secretária de Estado para a Inclusão de Pessoas com Deficiência, Sofia Antunes, além do autarca local Vítor Guerreiro e do presidente da Comunidade Intermunicipal do Algarve (AMAL), Jorge Botelho.
Depois de percorrerem algumas centenas de metros pelos passeios intervencionados a placa alusiva à inauguração foi descerrada pelo autarca local e pela membro do Governo em plena avenida principal de São Brás de Alportel.
Como funcionam os passeios acessíveis
Pelo caminho os convidados puderam percorrer os passeios que contam já com uma pista de cerca de 1,5 metros de largura em piso betuminoso (similar ao das estradas) de cor vermelha que, ladeada pela típica calçada portuguesa, confere aos peões um elevado nível de conforto ao mesmo tempo que permite a circulação sem obstáculos aos de utilizadores de cadeiras de rodas e outros meios técnicos de auxílio à locomoção, bem como aos carrinhos de bebé.
As faixas acessíveis podem também ser utilizadas por ciclistas e crianças que se façam deslocar em brinquedos com rodas.
No percurso foi ainda possível atravessar as ruas através das novas passadeiras sobrelevadas que permitem aos peões atravessar as estradas sem terem qualquer desnível, cabendo aos carros cumprir o desnível das faixas de rodagem automóvel.
As passadeiras apresentam ainda relevos nas zonas de aproximação em forma de ‘T’ destinados aos invisuais e amblíopes. Assim ao circularem num passeios os portadores de deficiências visuais podem detectar no piso um relevo transversal em forma de riscas longitudinais que indica a existência de uma passadeira perpendicular ao sentido da marcha.
Ao virarem-se estes peões deparam-se então, na borda dos passeios, com um piso de circunferências em relevo que antecipa a passadeira propriamente dita, assim permitindo uma identificação e aproximação à passadeira em condições de segurança.
A rede de passeios acessíveis integra toda a Circular Norte (2.700 metros), a ligação entre o Parque Desportivo e a Circular Norte a partir da rotunda do Campo Sousa Uva (48 metros), um troço na Avenida da Liberdade (180 metros), a ligação entre o Parque Desportivo e a Avenida da Liberdade (511 metros), e ainda o novo percurso da Entrada Nascente com a ligação à Circular Norte (10.423 metros).
Um esforço de 11 anos em São Brás
A Câmara de São Brás já é uma verdadeira veterana das obras a favor da acessibilidade e mobilidade e da inclusão de pessoas com deficiências e dificuldades motoras.
“São 11 anos, desde 2004”, lembrou a secretária de Estado na sua intervenção inicial, e o trabalho tem sido progressivo, incluindo intervenções na tecido urbano – além da rede acessível agora inaugurada – bem como em edifícios sob tutela da Câmara, como as escolas e o cine-teatro, entre outros.
Destaque também para a criação ao longo dos anos de condições de mobilidade optimizadas no maior evento do concelho, a Feira da Serra, criando um perímetro integralmente acessível a todos nesta iniciativa que junta ano após ano milhares de pessoas no Verão.
“Um trabalho para continuar”, diz Vítor Guerreiro
Para o autarca Vítor Guerreiro, em declarações ao POSTAL, “o trabalho agora inaugurado em termos de acessibilidades é uma demonstração de que a autarquia mantém e reforça a aposta na inclusão de todos os munícipes”.
Aos jornalistas o presidente da Câmara sublinhou que “a inclusão não se faz só no que toca a barreiras arquitectónicas, faz também no trabalho de sensibilização e de inclusão social das pessoas afectadas por deficiências e dificuldades da mais variada ordem”.
“Este é um trabalho para continuar”, referiu, “quer pela sua importância para a população local, quer pelo seu relevo na captação de turismo no nicho do denominado ‘turismo acessível’”, num processo que “também é de conciliação com os condutores que têm agora passadeiras sobrelevadas para transpor e que reduzem a velocidade, quer com os que defendem – e bem – a calçada portuguesa e aos quais temos de fazer compreender que esta não é inconciliável com os percursos acessíveis, mas antes, que a calçada deve conviver com a facilitação da mobilidade”, concluiu.
Secretária de Estado sublinha o combate às dificuldades de um processo que “conhece bem”
Sofia Antunes aproveitou o seu discurso para salientar que “São Brás de Alportel pode e deve ser neste caso um exemplo para a região e para o país em particular para os autarcas”.
O processo de criação de facilidades na acessibilidade “é complexo e cheio de dificuldades”, afirmou, esclarecendo que “acompanhei de perto em anteriores funções a implementação destas políticas urbanísticas na prática e sei as dificuldades por que passamos no caminho” para “um ajuste da realidade às necessidades das pessoas”.
A responsável do Governo sublinha que a necessidade de maior acessibilidade não existe só para quem tem deficiências, mas para todos os que em qualquer momento da sua vida têm mobilidade condicionado por um motivo temporário, para os pais com carrinhos de bebé e para os idosos, que são cada vez mais uma fatia maior da população.
“Quando nos apercebemos das vantagens práticas destes projectos, tomamos consciência da sua importância para todas as pessoas, para a melhoria da qualidade de vida geral e para a economia, nomeadamente ao nível do turismo que é hoje cada vez mais uma realidade que tem nichos de mercado que carecem de respostas adequadas dos espaços urbanos às necessidades de locomoção acessível”, concluiu Sofia Antunes.
Já Jorge Botelho, presidente da AMAL, sublinhou “a necessidade de mudarmos as nossas cidades para adapta-las ao futuro e às necessidades reais dos cidadãos”.
“O conceito de criação de pistas acessíveis corresponde à elevação do patamar de cidadania” e é de destacar a forte cobertura da comunicação social a esta iniciativa em São Brás, criando condições para uma maior sensibilização geral para estas questões”, referiu o também autarca de Tavira.