Na terça-feira, dia em que anunciava investimentos em Lisboa ainda para este ano, e prometia mais no futuro se ficasse com slots que a TAP não usa, a Ryanair anunciava o fim de um conjunto de voos, em Belfast International e Belfast City, na Irlanda do Norte, cortando a ligação a países da Europa. A notícia é do The Guardian.
Ao Expresso, fonte oficial da Ryanair explicou, tal como já tinha sido dito ao jornal britânico, que a decisão foi tomada pela inexistência de incentivos por danos provocados pela Covid 19, e da ausência por parte do governo britânico de medidas como a suspensão ou redução de impostos cobrados pelo Reino Unido às companhias aéreas.
“Face à recusa do governo do Reino Unido em reduzir ou suspender as taxas aeroportuárias [os chamados APD (air passenger duty)] e a falta de incentivos relacionados com a Covid 19 para os aeroportos de Belfast, este inverno a Ryanair irá cessar as operações em Belfast International e Belfast City Airport a partir do fim do horário de verão, em outubro, e realocar os aviões para outros aeroportos com custos mais baixos no Reino Unido e Europa”, afirmou fonte oficial da Ryanair.
Os voos do Belfast International, avançou o The Guardian, são para seis destinos em Espanha, Itália e Polónia, nomeadamente para Alicante, Málaga, Cracóvia, Gdansk, Varsóvia e Milão. Estes voos vão terminar a 30 de outubro. No Belfast City Airport os voos cancelados serão em Espanha, Portugal e Itália, e destinam-se a Alicante, Barcelona, Faro, Ibiza, Mallorca, Málaga, Milão e Valencia. E estes vão terminar a 12 de setembro.
A suspensão dos voos é para o chamado Inverno IATA. A companhia deverá voltar a voar a partir de Belfast em 2022.
CORTES EM BELFAST, PROMESSAS DE INVESTIMENTO EM LISBOA
Curiosamente, a Ryanair faz o anúncio do fim dos voos nos aeroportos de Belfast no mesmo dia em que o presidente executivo da companhia, Michael O´Leary reafirmou, em Lisboa, que a Ryanair irá investir 300 milhões de dólares (256 milhões de euros) em Portugal – uma grande parte no aluguer de três aeronaves, que diz que irá colocar na operação portuguesa – e criar 300 postos de trabalho diretos. Prometendo que investiria mais 300 ou 400 milhões se a TAP libertasse os slots (faixa horária para aterrar e levantar voo) que tem em Lisboa e não usa.
O´Leary disse que a Ryanair está disponível para ficar com mais 200 slots por semana. “Se estes slots forem libertados poderíamos investir mais, pôr mais aviões em Lisboa, criar mais empregos, ajudar Portugal a crescer e a recuperar da crise da covid-19 de forma mais rápida”, acrescentou o líder da low cost, uma das gigantes europeias.
O´Leary tem sublinhado, e voltou a fazê-lo esta semana, que investe em Portugal com “zero” auxílios de Estado, criticando duramente o governo português por apoios à TAP, que irão ultrapassar os três mil milhões de euros. A Ryanair tem inclusive duas ações contra a TAP no Tribunal da Justiça da União Europeia por ajudas de Estado que considerada “ilegais” e “discriminatórias”.
Questionado, recusou quantificar quanto recebe de apoios e benefícios das autarquias e do turismo português para voar para aeroportos como o do Porto, Faro e regiões autónomas dos Açores. Michael O’Leary não responde de forma precisa, nem dá números exatos. Afirma apenas que são valores “muito baixos”, e pouco significativos.
Numa campanha de promoção dos destinos de três ou quatro milhões de euros, O´Leary admite que a Ryanair recebe apoio das entidades de cada região, cerca de 25% do montante total. Mas o gestor diz que no final a companhia acaba “por investir três vezes mais” do que as entidades públicas.