A empresa Timing, que muitas pessoas pensam tratar-se de um franchising, foi criada pelo jovem, actualmente com 31 anos, cujo primeiro emprego foi, precisamente, na recepção de uma firma de trabalho temporário.
Com uma vida preenchida, milhares de postos de trabalho criados, uma forte aposta na responsabilidade social, com a ajuda prestada a inúmeras instituições e pessoas individuais na região, Ricardo Mariano rege-se pelo lema “quanto mais a vida me der, mais eu irei partilhar”. E se há uns anos os objectivos não estavam traçados, hoje em dia o empresário sabe bem o que quer.
O POSTAL foi conhecer um pouco mais sobre este farense e conta-lhe tudo na entrevista que pode ler abaixo.
POSTAL (P) – Como é que foi implementar o conceito de trabalho temporário de forma firme e credível na região?
Ricardo Mariano (RM) – A área do trabalho temporário é uma excelente porta de entrada no mercado de trabalho quer para jovens, quer para pessoas mais velhas que perdem os seus empregos e que na lógica do mercado de trabalho são velhas para trabalhar, mas novas para entrar na reforma. Via Timing essas pessoas são recolocadas no mercado de trabalho. Então isso não é tão bonito? Se são vínculos mais flexíveis? Claro que são. Mas a verdade é que muitas das vezes quando o trabalho termina num local, surge oportunidade noutro e é óptimo porque a pessoa vai aprender novas coisas. Os bons profissionais connosco estão sempre a trabalhar.
Portanto respondendo à questão, quando as pessoas têm bom carácter os obstáculos são facilmente ultrapassados. Nós trabalhamos com seriedade e humildade e as pessoas sabem disso.
P – Como é que tem sido o crescimento da Timing nestes dois anos?
RM – Tem sido brutal. Temos uma facturação de uns bons milhões de euros neste momento, com algum trabalho estamos perto de chegar aos dois dígitos e ainda agora isto começou.
O Verão é por excelência a época em que recebemos mais pedidos por parte das entidades empregadoras. Cinquenta por cento do nosso volume de negócios está concentrado entre três, a quatro meses do ano, os restantes cinquenta por cento nos outros oito/nove meses.
P – Quando criou a Timing quais eram as expectativas?
RM – As expectativas vão-se moldando ao longo do tempo. A minha primeira expectativa, que era também um objectivo, era liderar o sector aqui no Algarve, não admitia outra hipótese. Quando nós abrimos a Timing, em Abril de 2015, a minha primeira reunião com todos os colegas deixou claro que no final de 2017 tínhamos de ser os maiores no sector e felizmente é nesse caminho que estamos.
Neste último Verão, durante cerca de 50 dias tivemos diariamente mil pessoas a trabalhar, espalhadas na sua grande maioria por unidades hoteleiras da região e de Lisboa. Portanto isto é notável, mas também é uma grande responsabilidade e eu sinto o peso da responsabilidade, são muitos salários que se pagam e para nós é impensável atrasarmo-nos, pagamos a tempo e horas, é regra de ouro, mas isso pesa nas costas. O Ricardo Mariano não é rico, nem a sua família…
P – Considera que o facto de as pessoas pensarem que a Timing é uma empresa franchisada, é um motivo de sucesso e reconhecimento?
RM – Sem dúvida que antes de ser, há-que parecer. Eu não faço a mínima ideia do que é que vai na cabeça de toda a gente, mas há aqui um ponto que no meu entender é importante, que é prestar um serviço melhor que os outros, inovar e ter uma boa imagem. É óbvio que a imagem conta e nós somos muito fortes na comunicação.
P – Na sua opinião qual é o maior problema da empregabilidade na região?
RM – A sazonalidade sem dúvida. É gritante o número de ofertas de emprego que temos no Verão, a comparar com o resto do ano. Mas as entidades competentes ligadas ao turismo e os próprios protagonistas do sector, os hoteleiros, já estão a trabalhar nisso. O Inverno já não é uma época assim tão crispada, mas a verdade é que a própria meteorologia também não convida tanto, se está a chover os turistas também não aparecem tanto, é normal.
P – Qual é o maior obstáculo que, tanto os empregadores como os trabalhadores, colocam no momento das suas candidaturas?
RM – A “guerra” constante que nós temos é, por um lado as empresas a exigirem experiência e por outro não existir gente livre com experiência.
O défice de transportes públicos na região também é um imenso obstáculo. Se nós não déssemos transporte a uma parte dos nossos funcionários, sobretudo em sectores onde os salários são mais baixos, não conseguiríamos manter as pessoas a trabalhar.
P – Quais é que são os planos futuros da Timing?
RM – A Timing vai ser este ano a maior empresa de recursos humanos do Algarve. É aquilo em que eu acredito, não tenho a certeza.
P – Considera que um trabalho para a vida toda já não se coaduna com a realidade actual?
RM – Sem dúvida alguma! E hoje mais do que nunca o profissional que não estiver preparado para mudar está fora e vai-se enterrar.
P – Qual é a sua opinião relativamente à emigração?
RM – Isso provoca-me uma tristeza muito grande. Sou quase sempre anti-emigração, porque algumas das vezes as pessoas que emigraram não se esforçaram verdadeiramente para conseguir o trabalho que queriam em Portugal.
Quando uma pessoa emigra e diz que vai à procura de uma vida melhor esquece-se que muitas das vezes a resposta para essa melhoria está dentro e não fora de nós. Claro que há determinadas áreas que obrigam mesmo a esta decisão, mas há muita gente que emigra e que tem a sua oportunidade ao virar da esquina e não do outro lado do mundo.
P – O seu espírito empreendedor e a capacidade que já provou ter para os negócios, nunca o levaram a pensar que poderia ter muito mais sucesso fora de Portugal?
RM – Nem pensar! Eu tenho um escritório na China mas todos os dias me deito numa cama em Faro. Hoje em dia não há desculpa para essa questão. Eu quero continuar a crescer aqui e quero, e estou convencido de que vou conseguir, ser o maior empresário do Algarve antes de completar 40 anos.
P – Há uns anos, quando começou como recepcionista numa empresa de trabalho temporário, era esta a vida que idealizava ter?
RM – Nunca pensei que isto pudesse acontecer. (Risos) As portas foram-se abrindo à conta de esforço e trabalho e eu sou muito grato por isso. Eu não sou nenhum iluminado, não sou melhor que ninguém, trabalho muito, dedico-me bastante, sou muito sério, não engano ninguém e isso alguma coisa deverá contar.
P – Nessa altura o que é que queria para a sua vida?
RM – Queria ter dinheiro para pagar a carta e para ajudar a minha mãe.
P – Considera que a sua experiência de vida lhe dá mais sensibilidade para a questão da falta de emprego?
RM – Eu acho que sim. Eu nunca vivi numa casa de esbanjamento, de dinheiro farto e de trabalhos bons. Eu acredito que isso possa ter influenciado. Se alguém me aparece à frente a dizer que não tem dinheiro eu sei, efectivamente, o que é que isso é. Soube, felizmente hoje em dia já não sei.
Se alguém me diz que vive numa casa que chove lá dentro, eu sei o que isso é, na minha casa chovia.
Se alguém me diz que vive numa casa que tem baratas… a minha casa também tinha baratas. Na casa onde eu vivi quase toda a minha infância chegavam-me a passar baratas, várias vezes, por cima da mesa enquanto eu estava a comer. A minha gata chegou a ir à minha cama oferecer-me um rato. Portanto eu conheço bem o que é não ter nada, ou ter muito pouco. Felizmente nunca me faltou comida, nunca mesmo, de modo nenhum, mas também nunca tive grandes condições. E sabes o que é que eu acho? Ainda bem que não as tive. Desta forma cresci a fazer as coisas por paixão. Nos meus negócios é o coração que está presente, não é a carteira. Se as minhas empresas têm que dar lucro? Claro que têm. Mas isso é o que vem por consequência daquilo que tu fazes, não pode ser o teu foco
P – Vai estagnar pelos negócios que tem actualmente?
RM – Estagnar não faz parte do meu ADN. (Risos) Mas de uma coisa eu tenho a certeza: quanto mais a vida me der, mais eu irei partilhar.