Com 22 anos e mestranda em Ciência Política e Relações Internacionais, Rita Matias é a “benjamim” do órgão de cúpula dirigente do Chega, a direção nacional de 13 elementos, já contabilizando o presidente, André Ventura.
Filha do ex-líder do Partido Pró-Vida/Cidadania e Democracia Cristã (PPV/CDC), Manuel Matias – também militante e assessor parlamentar da recém-formada força política com a qual o seu partido se fundiu em setembro de 2020 -, a jovem “católica praticante” e “conservadora de direita” assumiu a tarefa de tratar das redes sociais do candidato presidencial e do partido nacional-populista.
“Isso é de quem não quer conhecer de facto o que é dito. Um dos nossos princípios é a dignidade da pessoa humana, independentemente da raça, etnia, sexo ou orientação sexual”, disse à agência Lusa, sobre as acusações ao deputado único do partido da extrema-direita parlamentar de ter um discurso racista, xenófobo e até fascista.
“O que nós apontamos são alguns erros e a falta de integração na sociedade de certas comunidades que preferem manter-se na marginalidade, embora beneficiando de subsídios e apoios vários. Não cumprem as regras e as obrigações da vida em sociedade e ainda recebem dinheiro do Estado!?”, insurgiu-se, sem nunca referir a etnia cigana.
O líder e deputado do Chega foi multado por discriminar ciganos, chegou a defender, no início da pandemia, em março de 2020, um plano específico de “abordagem e confinamento” para as comunidades ciganas, e nos debates televisivos tem-nas acusado de viverem “à custa” do RSI.
Em cada ação de campanha – de Serpa a Portimão, de Santarém a Portalegre -, a viatura da caravana do Chega que surge primeiro no horizonte é uma carrinha monovolume de vidros fumados, que transporta a “dirigente digital”, a assessora de imprensa do tribuno na Assembleia da República, Patrícia Carvalho, e outro dirigente e também assessor de imprensa do partido, Ricardo Regalla.
“Armada” de telemóvel e máquina fotográfica, Rita empenha-se em registar todos os pormenores e interações de Ventura com militantes e apoiantes, no meio de uma esmagadora maioria de militantes homens de meia-idade, muitos deles com passado ou carreira nas Forças Armadas ou de segurança, embora haja uma ou outra mulher que aborde “o doutor” para abraços e beijinhos, apesar das máscaras anti-covid-19.
“Faço um bocadinho de tudo. Desde atualizar a agenda, para que os militantes saibam onde vamos estar, até captar vídeos e fotos para o diário de campanha, que tem sempre momentos de maior descontração do André com o povo, uma espécie de bastidores da campanha”, descreveu.
A terceira de sete vogais da direção nacional do Chega nasceu quando chegava ao fim o primeiro de dois Governos do atual secretário-geral das Nações Unidas, o socialista António Guterres, não tendo qualquer memória dos 48 anos de ditadura fascista do Estado Novo, da “Revolução dos Cravos” de 1974, da adesão de Portugal à atual União Europeia ou, sequer, da exposição mundial de 1998, em Lisboa.
O primeiro de cinco “vices” de Ventura, ideólogo e “n.º2” do partido, Diogo Pacheco Amorim, com mais 49 anos (71) do que a também mandatária para a juventude, esteve sempre à margem direita do 25 de Abril, sobretudo no “verão quente” de 1975, e é o “ancião” da direção nacional do Chega.
Amorim pertenceu ao Movimento para a Independência e Reconstrução Nacional (MIRN), dirigido pelo general Kaúlza de Arriaga, e ao Movimento Democrático de Libertação de Portugal (MDLP), influenciado pelo general António Spínola e que promoveu atos de violência contra os partidos de esquerda, sobretudo o PCP, e chegou mesmo a provocar mortes à bomba como as do padre Max e da estudante Maria de Lurdes, em Trás-os-Montes.
Pacheco Amorim, que tem estado ausente da campanha pelos 18 distritos continentais e se ocupa profissionalmente de negócios imobiliários, tem ainda no currículo a chefia do gabinete do grupo parlamentar do CDS-PP, entre 1995 e 1997, durante a liderança de Manuel Monteiro, com o qual transitou depois para a Nova Democracia.
Longe da experiência de vida do antigo jornalista e ex-assessor do então vice-primeiro ministro Freitas do Amaral, no primeiro executivo liderado por Sá Carneiro (Aliança Democrática – PPD, CDS-PP e PPM), Rita Matias mostra-se enérgica e entusiasmada, apesar das “dificuldades” no terreno.
“O maior desafio é este contexto da pandemia que impede uma campanha normal. É um grande desgaste percorrer todo o país, mas gostamos de estar junto das pessoas, nas ruas. Depois há o stress e a pressão de estarmos a ser constantemente perseguidos pelos ativistas antifascistas e pela comunidade cigana”, disse.
Desde o início da campanha, no domingo, o candidato presidencial do Chega tem sido recebido, em cidades como Serpa ou Portalegre, por manifestantes com cartazes antifascistas, muitos de etnia cigana.
Rita, entusiasta adepta do Sporting, ainda não experimentou realmente a sensação de ver os “leões” vencerem o principal campeonato nacional de futebol, uma vez que tinha 19 meses quando o clube de Alvalade se sagrou campeão, em 2000, após uma “seca” de 18 anos, e cerca de três anos e meio na última conquista da I Liga (2002), há quase 19 anos.