Um relatório publicado esta quinta-feira pela revista científica The Lancet coloca a hipótese do vírus SARS-CoV-2 – que provoca a doença covid-19 – tenha saído de um laboratório norte-americano. O estudo e a revista científica estão a ser altamente criticados pelas conclusões apresentadas.
O artigo, que será apresentado esta sexta-feira, resulta de uma investigação de dois anos realizada por uma comissão criada para identificar lições para o futuro a partir da pandemia de covid-19. A comissão é liderada pelo economista Jeffrey Sachs, uma figura controversa devido às posições sobre a covid-19, tendo chegado a participar no podcast de Robert F. Kennedy Jr. – um dos mais conhecidos anti-vacinas nos Estados Unidos.
No relatório, é referido que se considera “possível” que o vírus SARS-CoV-2 tenha tido origens naturais ou que tenha saído de laboratórios biológicos. Apesar da referência às instalações laboratoriais chineses de Wuhan – declarado epicentro da pandemia –, o artigo refere que “ainda não houve investigadores independentes a investigar” os laboratórios nos Estados Unidos. Afirma ainda que o Instituto norte-americano de Saúde tem “resistido a divulgar detalhes” sobre o trabalho realizado.
Não é a primeira vez que Jeffrey Sachs afirma que o vírus que causa covid-19 teve origem nos Estados Unidos. Anteriormente, numa conferência realizada em Madrid, Espanha, o economista disse estar “bastante convencido” de que o SARS-CoV-2 “veio de um laboratório norte-americano de biotecnologia, não da natureza”, cita o The Telegraph.
Devido à controvérsia à volta de Jeffrey Sachs, a própria revista The Lancet está a ser alvo de fortes críticas por parte da comunidade científica. Especialistas afirmam que as ações anteriores do economista estão a prejudicar a investigação robusta e as recomendações que fazem parte do relatório. Acusam ainda a revista de ter ignorado os pedidos para remover Jeffrey Sachs da comissão.
Para Angela Rasmussen, virologista na Organização canadiana para Vacinas e Doenças Infecciosas, a “aparição de Sachs no podcast de Robert F. Kennedy Jr. mina a seriedade a missão da comissão da The Lancet ao ponto de a negar completamente”, cita o diário britânico. A professora considera que este “pode ser um dos momentos mais vergonhosos da The Lancet”, mostrando-se “bastante chocada quão flagrantemente” o relatório ignora evidências sobre a origem da covid-19.
Também David Robertson, professor no Centro de Investigação de Vírus da Universidade de Glasgow, mostra-se “realmente desapontado por ver que um relatório potencialmente influenciador contribui para mais desinformação num tópico tão importante”, também citado pelo The Telegraph. O especialista reconhece que há “detalhes a perceber no que toca às origens naturais”, referindo, como exemplo, quais as espécies intermédias envolvidas na transmissão. “Mas isso não quer dizer que existe qualquer base para a especulação de que os laboratórios norte-americanos estão envolvidos”, acrescenta.
- Texto: SIC Notícias, televisão parceira do POSTAL