Há um ano, o país vivia a fase mais negra da epidemia de covid-19. Morriam mais de 200 pessoas todos os dias vítimas da doença e, a esse número, juntavam-se todos os outros óbitos além da covid. A 20 de janeiro de 2021, no total, morreram 748 pessoas em Portugal, segundo a plataforma de vigilância da mortalidade gerida pela Direção-Geral da Saúde (SICO-eVM). Foi o número mais alto registado num só dia, pelo menos desde 1980, até onde as estatísticas das mortes diárias nos permitem recuar (ver gráfico interativo no final do texto).
Durante 25 dias seguidos, entre 10 de janeiro e 3 de fevereiro de 2021, o número de mortes diárias por todas as causas esteve sempre acima das 600. Foram recordes absolutos porque, nos últimos quarenta anos, esse valor só tinha sido ultrapassado em dois únicos dias, em junho de 1981. Nessa altura, uma onda de calor atingiu todo o país durante mais de um semana, registando-se 44 graus centígrados em Santarém, 43 em Beja e 42 em Lisboa, Setúbal e Coimbra. Morreram 646 pessoas a 14 de junho e 676 no dia seguinte.
Além do mês de junho de 1981, quando se registaram mais de 600 óbitos por duas vezes, foram raros os dias em que houve mais de 500 mortes em Portugal. Segundo dados disponibilizados pelo Instituto Nacional de Estatística (INE), esse valor foi superado quatro vezes: a 2 de janeiro de 2017 (572), 5 de agosto de 2018 (513), 1 de fevereiro de 2020 (502) e 20 de janeiro de 1999 (534). O frio e as infeções respiratórias habituais no inverno explicam os picos de janeiro e fevereiro, enquanto a onda de calor em Portugal e na Europa no verão de 2018 justifica o aumento da mortalidade em agosto.
Janeiro de 2021, um mês negro
A pandemia fez disparar o número de mortes em janeiro de 2021. Entre óbitos covid e não-covid, registaram-se 19.651 mortes em Portugal nesse mês, entre as quais estão cerca de 5800 atribuídas à covid (30%), de acordo com os dados dos boletins da DGS. É um número muito acima da média de 11 mil mortes nos meses de janeiro dos quarenta anos anteriores.
E é preciso recuar até novembro de 1918, quando decorria a segunda vaga da pandemia de gripe pneumónica, para encontrar um mês com mais mortes. Segundo os dados históricos do INE, morreram 47 mil pessoas nesse mês de novembro, às quais se somam 70 mil em outubro e 19 mil em setembro de 1918.
O cenário atual da pandemia de covid-19 está muito distante da realidade vivida em janeiro do ano passado, numa altura em que a vacinação das pessoas mais velhas ainda estava a decorrer. Hoje, apesar de se baterem recordes diários de novas infeções, o número de óbitos é muito mais baixo. Em média, nos últimos sete dias, ocorreram 31 mortes devido à covid, segundo os boletins da DGS. Há um ano, a média era de 175 óbitos por dia.
Com o SARS-CoV-2 a ter menos impacto na mortalidade em Portugal, o número diário de óbitos não tem estado fora do habitual para o mês de janeiro. Segundo os dados do SICO, morreram, em média, 358 pessoas por dia entre 1 e 17 de janeiro, dentro do que aconteceu entre 2009 e 2020.
Mortes diárias desde 1980
(passe o cursor para identificar o ano)
Janeiro
CLICAR AQUI PARA VER: https://datawrapper.dwcdn.net/2vP47/1/
Fevereiro
Março
Abril
Maio
Junho
Julho
Agosto
Setembro
Outubro
Novembro
Dezembro
- Texto: Expresso, jornal parceiro do POSTAL