O ministro da Defesa, João Gomes Cravinho, está hoje a visitar o destacamento militar português na República Centro-Africana (RCA), que efetua uma das missões nacionais externas consideradas mais complexas no plano da segurança.
João Gomes Cravinho está acompanhado pelo chefe do Estado-Maior-General das Forças Armadas, almirante António Silva Ribeiro, numa visita em que inicialmente estava prevista a presença também do primeiro-ministro, António Costa.
António Costa teve de cancelar a sua deslocação na quinta-feira, por se encontrar em isolamento profilático preventivo da covid-19, em Lisboa, na sequência do caso positivo do presidente francês, Emmanuel Macron, com quem o chefe do Governo português esteve na quarta-feira em Paris.
Estão atualmente na República Centro Africana 243 militares portugueses, dos quais 188 integram a Missão Integrada Multidimensional das Nações Unidas para a Estabilização na República Centro-Africana (MINUSCA) e 55 participam na Missão de Treino da União Europeia (UETM), liderada por Portugal até setembro de 2021, pelo brigadeiro general Neves Abreu.
A MINUSCA tem como principais objetivos a proteção das populações civis, em apoio ao processo de paz neste país, enquanto a UETM está dedicada à formação e treino militares.
Em novembro, regressaram a Portugal 149 militares, completando um total de 180, da 7.ª Força Nacional Destacada na República Centro-Africana que, durante oito meses, integrou a missão das Nações Unidas para a estabilização deste país africano.
De acordo com o Ministério da Defesa Nacional, com o regresso destes militares, iniciou-se a presença de uma nova força portuguesa no teatro de operações, desta vez, maioritariamente composta por Tropas Especiais Comandos.
Segundo fonte diplomática, a presença portuguesa na República Centro Africana constitui atualmente “um dos mais importantes envolvimentos nacionais em missões e operações das Nações Unidas” e surgiu na sequência de um pedido de França após o ataque terrorista em Paris em novembro de 2015.
Os militares portugueses, de acordo com o Governo, constituem uma força de reação rápida “num dos mais perigosos e complexos teatros de operações do mundo”, onde se registam com relativa frequência ataques contra civis e emboscadas contra contingentes das Nações Unidas”.
“A força de reação rápida portuguesa tem tido um papel ativo e reconhecido na proteção de civis e na prevenção de possíveis massacres, sendo repetidamente elogiada pela sua atuação”, salienta o executivo.
Em termos de relações bilaterais, o ministro João Gomes Cravinho esteve em Bangui em dezembro do ano passado, onde procedeu à assinatura de um acordo de cooperação no domínio da defesa. No entanto, nos níveis político, cultural e económico, o relacionamento bilateral entre Portugal e a República Centro-Africana é considerado “inexpressivo” pela diplomacia nacional.
Em setembro, o Estado-Maior-General das Forças Armadas divulgou que pelo menos 88 dos 180 militares portugueses da missão estiveram infetados com o novo coronavírus, mas todos os casos não tiveram consequências no plano da saúde.
A República Centro-Africana vive desde 2012 em guerra civil, que foi desencadeada pela revolta armada de uma coligação de grupos de maioria muçulmana (Séléka) e pela reação, também armada, de milícias maioritariamente cristãs (Anti-Balaka).
No plano social e económico, a República Centro Africana é atualmente um dos países mais pobres e com menores níveis de bem-estar social do mundo, tendo uma estrutura institucional e administrativa incipiente.
Ao nível humanitário, as Nações Unidas referem que, em resultado do constante clima de violência e instabilidade, cerca de 2,8 dos quase 5 milhões de habitantes do país necessitam de assistência, estimando-se que existam 684 mil deslocados internos e 620 mil refugiados.