Apesar de no ano letivo passado ter diminuído de 19,6% para 6,9% o número de crianças que não consumia diariamente fruta ou legumes na escola, ainda há uma percentagem significativa de turmas sem acesso a fruta gratuita na escola.
A conclusão é de um estudo sobre a iniciativa “Heróis da Fruta”, da Associação Portuguesa Contra a Obesidade Infantil (APCOI), realizado em parceria com investigadores do Instituto de Saúde Ambiental (ISAMB) da Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa (FMUL).
Por regiões, Évora foi um dos distritos com maior percentagem de turmas com acesso gratuito a frutas e legumes na escola. Já Bragança Por outro lado, Bragança foi o segundo distrito a reportar ter menor acesso gratuito a fruta e legumes.
“Neste estudo, Évora foi um dos distritos com maior percentagem de turmas com acesso gratuito a frutas e legumes na escola e foi também o distrito em que se observou a maior redução de crianças a não consumir diariamente hortofrutícolas, após a participação no desafio escolar ‘Heróis da Fruta’. Além disso, Évora foi o distrito que registou a maior redução de lanches pouco saudáveis (…). Por outro lado, Bragança foi o segundo distrito a reportar ter menor acesso gratuito a fruta e legumes na escola e foi também o único distrito onde se registou um aumento de crianças a não consumir hortofrutícolas diariamente na escola, no final da intervenção”, destaca Raquel Martins, nutricionista e investigadora do ISAMB/FMUL.
Aumentar o consumo de frutas e legumes na infância é o principal objetivo da iniciativa escolar “Heróis da Fruta”, lançada em 2011 pela APCOI, a quem os resultados surpreenderam sobretudo pelo desconhecimento, por parte das autarquias, da possibilidade de acesso a fundos europeus para garantir esta distribuição de fruta gratuita nas escolas.
“Espanha usa quase 100% destes fundos e Portugal não está a usar a totalidade da verba, muito por desconhecimento da possibilidade deste acesso aos fundos europeus”, disse à Lusa Mário Silva, presidente da APCOI, sublinhando que, além das autarquias, também os agrupamentos escolares podem aceder a estas verbas.
“Por vezes as autarquias podem até não ter capacidade depois para fazer a distribuição e o processo pode ser mais expedito com os agrupamentos, mas é preciso divulgar que eles também podem aceder a estas verbas comunitárias anualmente, através do IFAP [Instituto de Financiamento da Agricultura e Pescas]”, acrescentou.
O responsável sublinhou a importância de combinar estratégias, referindo: “É mais eficaz quando ao mesmo tempo que se motiva as crianças a adotarem estes comportamentos e se distribui [os alimentos]“.
As principais conclusões deste estudo: Faro lidera com 92,9%
O estudo do ISAMB/FMUL analisou, no ano letivo 2021/2022, uma amostra de 16.970 crianças, entre os 2 e os 14 anos de idade, de 845 turmas de 433 estabelecimentos de ensino.
Relativamente à distribuição gratuita de frutas e legumes na escola, quer através do Regime Europeu de Fruta Escolar ou de outro mecanismo de apoio local durante o ano letivo 2021/2022, o estudo concluiu que “a frequência de acesso a nível nacional das turmas inquiridas se situava nos 60,5%“.
Faro foi o distrito onde se verificou a maior percentagem de turmas com acesso a fruta distribuída gratuitamente na escola (92,9%), seguindo-se de Braga (83,0%), Santarém (78,1%), Évora (70,8%) e Viseu (68,0%). As menores percentagens situaram-se em Viana do Castelo (9,1%), Bragança (20,0%) e Portalegre (35,7%).
A equipa de investigadores do ISAMB/FMUL analisou igualmente os efeitos da iniciativa “Heróis da Fruta” no ano letivo 2021/2022 nas alterações de hábitos alimentares dos alunos e concluiu que, globalmente, “após a participação neste projeto, a percentagem de alunos que não consumia diariamente fruta ou legumes na escola diminuiu de 19,6% para 6,9%“.
Após este projeto, em quase todos os distritos e regiões houve igualmente uma redução do consumo diário de lanches escolares pouco saudáveis, à exceção da região da Madeira e do distrito de Portalegre. A região dos Açores foi a que registou a maior diminuição da ingestão de lanches escolares pouco saudáveis.
O presidente da APCOI considera que “estes resultados comprovam uma vez mais os efeitos positivos do método ‘Heróis da Fruta’ no combate à má nutrição, através do aumento do consumo escolar de frutas e legumes e da redução da ingestão de alimentos menos saudáveis nos lanches das crianças que participam nesta iniciativa, comportamentos importantes para a prevenção da obesidade infantil e de outras doenças crónicas como a diabetes”.
Desde 2011 já participaram no desafio escolar “Heróis da Fruta” mais de 580 mil alunos de todos os distritos e regiões de Portugal.
As inscrições para o ano letivo 2022/2023 já estão abertas para todas as turmas de pré-escolar e 1.º ciclo de estabelecimentos públicos ou privados e podem ser feitas até final do ano aqui.
- Texto: SIC Notícias, televisão parceira do POSTAL, com Lusa