Planear a reforma é uma tarefa que envolve muito mais do que apenas fazer contas ao dinheiro que sobra no final do mês. Encarar a poupança para a aposentação de forma estratégica pode ser um fator determinante para garantir estabilidade financeira nos “anos dourados”. No entanto, muitos se perguntam: quanto devo poupar para a reforma e como faço as contas?
Antes de tudo, é importante compreender que não existe uma resposta única para todos. A quantia ideal de poupança varia conforme fatores como a idade, situação familiar, nível de rendimentos, obrigações fiscais e estilo de vida. O Comparaja destaca os principais aspetos a considerar para quem quer garantir uma reforma tranquila.
1. Análise das despesas correntes
O primeiro passo para definir um plano de poupança é ter uma noção clara das despesas mensais. É comum sobrestimar a capacidade de poupança, o que pode levar a uma sensação ilusória de segurança financeira. Para evitar este erro, aconselha-se a análise das despesas fixas e variáveis nos últimos três a seis meses.
A partir daí, poderá calcular a sua taxa de esforço, ou seja, a percentagem do rendimento que é canalizada para pagar despesas e dívidas. Ao conhecer os seus encargos mensais, fica mais fácil identificar áreas onde é possível cortar gastos, libertando assim mais recursos para a poupança e reforma.
2. Poupar: a base da estabilidade da reforma
Ter um fundo de emergência é essencial para evitar que, em momentos de crise ou imprevistos, tenha de retirar dinheiro da reforma ou vender investimentos, o que pode acarretar perdas financeiras significativas.
A regra de ouro é acumular poupanças que cubram entre três a seis meses das suas despesas fixas. Caso ainda não tenha uma conta poupança, esta deve ser a sua prioridade. Se, por exemplo, as suas despesas mensais são de 1000 euros, o objetivo inicial será poupar entre 3000 e 6000 euros para cobrir eventuais imprevistos.
3. Plano de reforma: quanto e como poupar?
Com as poupanças de emergência garantidas, o próximo passo é canalizar uma parte dos rendimentos para a reforma. Se tem um salário razoável, poderá optar por investir em Planos Poupança Reforma (PPR), produtos financeiros que, além de garantirem um rendimento a longo prazo, oferecem benefícios fiscais.
Por exemplo, na altura do resgate de um PPR, em vez de pagar a taxa de 28% sobre os rendimentos, beneficiará de uma taxa reduzida de 8%, desde que o plano seja resgatado após os 60 anos e tenha decorrido pelo menos cinco anos desde o início das contribuições.
Outro benefício fiscal interessante é a dedução de 20% das contribuições anuais para PPR à colecta de IRS, com um limite máximo de 350 euros por contribuinte. No entanto, é importante sublinhar que, se precisar de aceder aos fundos antes dos 60 anos, só poderá fazê-lo em situações específicas, como desemprego de longa duração, incapacidade permanente ou doença grave.
Os limites anuais de dedução variam conforme a idade: até aos 35 anos, pode deduzir até 400 euros; entre os 35 e os 50, até 350 euros; e, acima dos 50, o máximo são 300 euros.
Imagine o João, um trabalhador solteiro com um ordenado líquido de 1800 euros mensais. As suas despesas fixas rondam os 800 euros, e ele já conseguiu poupar 2500 euros. Para atingir o valor de seis meses de despesas em poupança, o João precisa de juntar mais 2300 euros.
A partir desse ponto, poderá começar a investir na reforma. Como tem 30 anos, o limite anual de dedução de PPR para a sua idade é de 400 euros por mês. Se o João começar a contribuir essa quantia até aos 66 anos (a idade atual de reforma em Portugal), com uma taxa de juro anual de 1,5%, ele terá acumulado 432 mil euros.
Pegamos neste exemplo do Human Resources. Carlos, por outro lado, é casado e tem dois filhos. O seu rendimento líquido mensal é de 2000 euros e as suas despesas fixas, incluindo o crédito à habitação, somam 1200 euros. A sua conta poupança está confortável, com 8000 euros, e o seu PPR já acumulou 50 mil euros.
Aos 50 anos, o limite de dedução para PPR é de 350 euros mensais. Como a reforma está mais próxima, o Carlos poderá optar por um PPR com maior exposição a ações, apostando numa estratégia mais arriscada, mas com a possibilidade de obter rendimentos superiores nos próximos dez anos.
Se, após esse período, Carlos resgatar o PPR e tiver acumulado 35 mil euros, a retenção de imposto será de apenas 8%. No final, depois da retenção, ele receberá 34,200 euros líquidos.
4. E as dívidas?
Não podemos esquecer a importância de gerir dívidas, especialmente aquelas com juros mais elevados, como o crédito automóvel ou os cartões de crédito. Estas devem ser pagas prioritariamente, pois representam encargos financeiros mais pesados a longo prazo. Já o crédito à habitação ou créditos à educação tendem a ter condições mais favoráveis, sendo menos urgentes.
Poupar para a reforma exige disciplina e planeamento. Quanto mais cedo começar a poupar, maior será a margem de manobra para ajustar o seu plano financeiro ao longo do tempo, garantindo uma reforma tranquila.
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