Um projeto luso-espanhol de gestão sustentável de bancos naturais de bivalves, que se iniciou em 2017, tem permitido desenvolver metodologias para a produção e repovoamento daquelas espécies marítimas na Estação Experimental de Moluscicultura de Tavira.
“Tem como objetivo final o desenvolvimento de metodologias que permitam garantir ou promover a gestão sustentada dos bivalves, da pescaria de bivalves”, salientou o coordenador do projeto Venus, Miguel Gaspar, do Instituto Português do Mar e da Atmosfera (IPMA).
Em declarações à agência Lusa, Miguel Gaspar contou que o projeto se divide em várias ações, entre as quais o repovoamento das espécies de pé de burrinho e conquilha no golfo de Cádis.
“Em primeiro lugar, nós desenvolvemos nas nossas instalações, na Estação de Moluscicultura de Tavira, metodologias para produção de larvas de bivalves”, indicou o investigador, adiantando que é desenvolvido um conjunto de tecnologias zootécnicas, que permite “obter larvas de alta qualidade”.
Com um orçamento de 1.303.743,58 euros, o projeto é cofinanciado pelo Fundo Europeu de Desenvolvimento Regional (FEDER), ao abrigo do Programa Interreg V-A Espanha-Portugal (POCTEP) 2014-2020.
Após o processo de produção de larvas de bivalves, o IPMA, com a colaboração da Marinha Portuguesa, aloja um conjunto de bivalves juvenis, até aos cinco milímetros, nas zonas marinhas.
“O que nós fazemos, com a colaboração de várias instituições – e, neste caso, tivemos a colaboração da Marinha Portuguesa – , é espalhar um conjunto de juvenis que produzimos nas nossas instalações em áreas onde outrora havia grande abundância dessas espécies”, acrescentou Miguel Gaspar.
De acordo com o investigador, recentemente o IPMA fez o repovoamento de uma zona perto de Portimão, no distrito de Faro, com cerca de 300 mil bivalves produzidos na Estação Experimental de Moluscicultura de Tavira, no mesmo distrito.
Promovendo a gestão sustentável de bancos naturais de bivalves, o projeto luso-espanhol conta também com a colaboração da Universidade do Algarve (UAlg), que se encontra a desenvolver um conjunto de protocolos de crioconservação de larvas (células conservadas através do congelamento a temperaturas muito baixas, em azoto).
“A parte da criopreservação entra neste ponto de conseguir desenhar ferramentas para preservar o germoplasma de gâmetas [células sexuais] de larvas”, apontou à Lusa a bióloga Elsa Cabrita.
A professora da Universidade do Algarve explicou que após a crioconservação das espécies é necessário reanimá-las para iniciarem a fecundação, desenvolvida em processos de incubação laboratorial.
“A crioconservação é em azoto líquido. […] Depois, o passo seguinte é conseguir reanimar esses organismos, ou essas células. Quando descongelo uma amostra, no caso dos espermatozoides, tenho de assegurar que aqueles espermatozoides são viáveis e, tal como o sémen fresco, vão conseguir fecundar oócitos [células sexuais produzidas nos ovários]”, anotou.
Todavia, a bióloga salientou que a sua equipa deixou de fora conquilha, devido a dificuldades na reprodução em cativeiro.
“No caso das metodologias que nós desenvolvemos, deixámos de fora a conquilha, porque nos pareceu ser um objetivo muito à frente. A conquilha apresentou problemas a nível de reprodução em cativeiro”, frisou.
Sobre a continuidade do projeto depois da data de conclusão, em 31 de dezembro de 2019, Miguel Gaspar referiu à Lusa que o estudo vai continuar por mais um ano, “atendendo à importância dos resultados” obtidos nos últimos dois anos.
Além do IPMA e da Universidade do Algarve, são parceiros desta investigação Instituto Espanhol de Oceanografia e a Universidade de Cádis.
JML // ROC (Lusa)