A esmagadora maioria dos professores (91 por cento) considera que nos últimos anos diminuiu o prestígio da sua actividade e 85% entende que o Ministério da Educação não valoriza o trabalho que faz, revela um inquérito hoje divulgado.
No trabalho “As Preocupações e as Motivações dos Professores Portugueses”, desenvolvido pela Fundação Manuel Leão, 32,3% dos docentes define a sua relação com o exercício profissional como “exausta” e “desiludida”.
Percentualmente, as professoras estão mais exaustas e desiludidas (35,9%) do que os professores (25,2%).
O inquérito, lançado em Maio, Junho e Julho, junto de 130 escolas ou agrupamentos, do pré-escolar ao ensino secundário, indica igualmente que para 84% dos professores a sociedade não valoriza o trabalho que faz.
Num universo de 2.910 respostas consideradas válidas,76% dos inquiridos considera que aumentou o controlo sobre o seu trabalho e 80% diz que perdeu, nos últimos anos, autonomia e poder de decisão.
Através de um questionário de resposta fechada, 87% afirma que diminuíram o tempo e as condições que os professores têm para reflectir sobre as suas práticas educativas.
Estudo mostra que 31% dos professores não estão motivados para ensinar
Coordenado por Joaquim Azevedo, ex-secretário de Estado do Ensino e membro do Conselho Nacional de Educação, este estudo mostra que 31% dos professores não estão motivados para ensinar.
Quase todos os inquiridos (94,3%) consideram que aumentou a exigência da prestação pública de contas e 60% considera que os alunos agora “estão mais desmotivados”.
O que causa mais insatisfação aos professores é a falta de reconhecimento profissional (57%), a indisciplina na sala de aula (52%) e a extensão dos programas (30%), de acordo com os resultados contidos no relatório.
O documento refere ainda que 74% dos professores se sentem insatisfeitos com os pais por “não se preocuparem com a educação dos filhos”, enquanto 64% considera que a educação piorou em Portugal na última década.
Os resultados vão ser apresentados numa sessão pública a realizar na sexta-feira, em Vila Nova de Gaia, juntamente com os resultados do programa AVES (Avaliação Externa das Escolas) ao longo dos últimos 10 anos.
O objectivo do inquérito agora realizado foi conhecer o estado de espírito actual dos professores, as suas autorrepresentações, o que os satisfaz e os tem deixado mais insatisfeitos, como valorizam o seu trabalho e a percepção que têm do modo como a sociedade os valoriza no início de mais um ano lectivo.
O questionário foi aplicado em escolas públicas e privadas.
“Os professores do ensino particular têm uma relação positiva com o trabalho docente quase 15 pontos percentuais acima dos professores do ensino público e dizem-se também menos exaustos e desiludidos com a mesma diferença percentual”, dizem os autores do estudo.
São os professores com mais de dez anos de serviço que acusam maior cansaço e desilusão.
“Sinto que devemos procurar ir um pouco mais fundo na análise destes resultados, que se repetem ao longo dos anos, evidenciando uma degradação crescente das condições em que se está a processar o exercício profissional dos professores”, escreve Joaquim Azevedo no comentário final aos dados do inquérito.
(Agência Lusa)