Um professor da Universidade do Algarve (UAlg) tornou-se adepto da cozinha solar há quase uma década e é com a energia do sol que actualmente confecciona na sua casa, em Faro, cerca de 80% das refeições familiares.
Celestino Ruivo, que lecciona no Instituto Superior de Engenharia da UAlg há 20 anos, consegue aproveitar a energia solar para fazer quase tudo – desde sopa a carne, peixe, doces, bolos e até mesmo pão – e em sua casa não existe microondas e praticamente não se cozinha no forno a gás.
“Este tipo de cozinha faz todo o sentido onde temos mais de 300 dias de sol por ano, como é o caso do Algarve”, afirmou à Lusa, sublinhando que é uma forma ecológica de cozinhar e que a comida fica saborosa, para além da vantagem de, no caso dos fornos lentos, poder deixar a comida a cozinhar e ir fazer outras tarefas, sem o risco de a queimar.
No pátio e na açoteia da sua casa tem mais de uma dezena de fornos solares de vários tamanhos e feitios: do tipo parabólica, os mais rápidos, onde uma refeição fica pronta em 20 minutos, e também do tipo caixa ou em painel, os mais lentos, onde os alimentos levam uma média de duas horas até ficarem cozinhados.
“Em nossa casa normalmente não usamos a energia eléctrica para cozinhar, quando não temos a energia solar utilizamos como energia alternativa o gás”, contou, estimando que a família, composta por quatro pessoas, poupe, em média, seis a sete garrafas de gás por ano.
Celestino Ruivo concebeu um forno
Formado em engenharia mecânica e investigador na área do ar condicionado, Celestino Ruivo concebeu um forno tipo funil, em betão, revestido a espelhos, que pode ser feito por qualquer pessoa, desde que tenha o molde, a troco de 20 ou 30 euros, uma vez que a maioria dos materiais usados – cimento, areia, água e silicone -, são relativamente baratos.
“Eu pensei neste modelo até para ser construído em zonas do globo mais desfavorecidas, em que a produção dos fornos possa ser feita localmente, com materiais locais, por pessoas que recebam formação para o fazer”, explicou.
De acordo com o investigador, o forno solar do tipo funil em betão e com espelhos é mais resistente e fácil de limpar do que os tradicionais, pode ficar ao ar livre e apanhar chuva, vento, sol e pó, basta apenas limpá-lo de vez em quando e pô-lo a funcionar.
A condição essencial é mesmo cozinhar em dias de sol, embora também seja possível fazê-lo em dias de céu nublado, desde que haja zonas do céu sem nuvens, bastando, para isso, orientar os fornos na direcção em que melhor reflictam o sol.
Cozinhar com energia solar em apartamentos é mais difícil
Quem vive em apartamentos tem a vida um pouco mais dificultada, mas, mesmo assim, de acordo com Celestino Ruivo, não é totalmente impossível conseguir fazer comida solar.
“Não é em qualquer apartamento, terá que ter uma varanda virada para sul, mas também se pode cozinhar dentro de casa, desde que se tenha um vidro grande em que o sol entre”, explicou, contando que até já cozinhou refeições solares dentro do carro, com um forno portátil.
Celestino Ruivo adverte, porém, para alguns perigos decorrentes da utilização de fornos solares, sobretudo os mais rápidos, como os de tipo parabólica, já que com os fornos tipo caixa, painel e funil o risco de poderem causar um incêndio nas imediações é praticamente inexistente.
“Devemos ter cuidado para não queimar os olhos, não colocando a superfície parabólica de modo a que os raios solares sejam concentrados na nossa vista ou na vista de outras pessoas”, frisou, alertando para a importância de cozinhar em segurança, tal como quando se utilizam fornos eléctricos ou a gás.
(Agência Lusa)