A produção de laranja no Algarve registou um aumento de 15 a 20% na campanha 2020/2021, mas a Associação de Operadores de Citrinos do Algarve (AlgarOrange) teme que as pragas existentes provoquem quebras de 70% num futuro próximo.
O presidente da AlgarOrange, José Oliveira, disse à agência Lusa que a última campanha de citrinos também registou quebras de preço “entre 15 a 20%”, em comparação com o ano de pandemia de covid-19, que tinha beneficiado o setor com um aumento da procura e do valor pago ao produtor, chegando a ser pagos 70 cêntimos por quilograma, quase o dobro do preço praticado um ano antes.
Quanto às exportações da citricultura algarvia, José Oliveira quantificou-as numa “média de 20% da produção”, que no Algarve equivale, “em termos médios, a 70 a 80% da produção nacional” de “cerca de 350.000 toneladas por ano”.
“Os países principais foram França, Espanha e Canadá, mas exportámos também para outros países, como Itália, Alemanha, Holanda, Noruega e Costa Rica”, enumerou o dirigente da associação algarvia.
José Oliveira advertiu, no entanto, que os citricultores algarvios podem vir a atravessar uma situação “bastante difícil” e estão “muito preocupados com o futuro próximo”, por causa de “pragas que estão a ameaçar” os pomares, como a da mosca da fruta ou a “trioza”.
“Os fatores ambientais e de sustentabilidade são para nós importantes, no entanto temos pragas como a mosca da fruta, que não tem nenhum plano integrado, apesar de andarmos a batalhar e a lutar para que haja um plano integrado de combate a esta praga, que causa enormes problemas económicos aos produtores”, afirmou.
Este plano devia contar, segundo o dirigente da associação, com “armadilhas” e “luta biológica, com a largada de machos de mosca da fruta esterilizados”, mas também com “um sistema de monitorização da praga”, para fazer “o combate com fitossanitários na altura devida”, ou com a criação de “um cadastro da citricultura do Algarve”.
A “instalação de uma fábrica de produção de machos estéreis” é outra das medidas proposta pela AlgarOrange, mas “a resposta das entidades oficiais é a de que não há dinheiro e possibilidades de financiamento”, ao contrário do que acontece em países como Espanha, onde os produtores estão “apetrechados com bons planos e boas medidas para combate a esta praga” e “há investimento público ou investimento regional forte” nesta área.
“Outra praga que está a preocupar o setor é a ‘trioza’”, alertou, advertindo que, “se ela entrar e se espalhar no Algarve, ameaça toda a citricultura”, gerando “perdas de produção na ordem dos 70%”, como “aconteceu na Florida”, nos Estados Unidos, onde a “produção de citrinos está de rastos”.
A mesma fonte lembrou que esta praga foi detetada pela primeira vez no Minho e que foi “anunciado um plano nacional de erradicação para evitar que chegasse ao Algarve, que é a grande região de produção de citrinos, mas o facto é que, em setembro de 2021, a praga chegou” e “já está em Aljezur e Vila do Bispo”.
“E, agora, independentemente de serem anunciadas e terem sido feitas algumas largadas de predadores em Aljezur para conter a propagação desta praga, nós constatamos que dificilmente ela ficará contextualizada à região de Aljezur e Vila do Bispo”, lamentou, apelando à tomada de “medidas” e à criação de uma “estratégia” para tentar atrasar ao máximo esta expansão, que está a deixar os produtores “alarmados” e pode ser “catastrófica para a citricultura do Algarve”.
José Oliveira sublinhou ainda que a este problema soma-se também o aumento de custos de produção com combustíveis ou energia, “transversal a toda a economia”, e os preços cada vez mais baratos pagos pelas cadeias de distribuição, que podem deixar os produtores “com a água pelo pescoço”.