Magdalena Andersson é a primeira mulher a chefiar um Executivo na Suécia, mas pode juntar a esse o recorde de ser a pessoa que menos tempo ocupou o cargo. Nem oito horas tinham passado desde a sua nomeação pelo Parlamento quando a primeira-ministra designada se demitiu. A tal obrigaram o chumbo da sua proposta de orçamento de Estado e a desintegração da coligação que sustentava o Executivo.
Esta era formada pelo Partido Social Democrata (centro-esquerda, chefiado por Andersson), Partido do Centro, Partido de Esquerda e Partido Verde. A rejeição do orçamento fez com que esta última força política abandonasse a aliança.
“Há uma prática constitucional pela qual um Governo de coligação se demite quando um dos partidos o abandona. Não quero liderar um Governo cuja legitimidade seja questionada”, disse a líder social-democrata, durante uma conferência de imprensa, esta quarta-feira. A sua posse formal estava prevista para sexta-feira.
Na noite deste curtíssimo mandato, Andersson explicou que espera ser reconduzida no cargo. Propõe um Governo 100% social-democrata, sem depender de partidos extremistas. Tem hipóteses, já que os Verdes, mesmo ficando fora do Executivo, estão dispostos a viabilizar a sua renomeação.
ELEIÇÃO PRECÁRIA
Após dias de difíceis negociações, a primeira-ministra foi vítima de um penoso jogo político. Na noite de terça-feira, a economista de 54 anos — até agora ministra das Finanças do seu antecessor, Stefan Löfven — garantira o apoio necessário para chegar ao poder graças a um acordo de última hora com o partido da Esquerda, a quem prometeu aumentar as pensões mais baixas, e os Verdes.
A sua nomeação, a primeira de uma mulher, cem anos depois de as suecas terem obtido o direito ao voto, mereceu uma ovação em pé de várias bancadas parlamentares. A Suécia era o único país escandinavo que nunca tivera uma primeira-ministra. Mas foi uma vitória curta: dos 349 deputados, 174 votaram contra a sua nomeação, 117 a favor e 57 abstiveram-se. Segundo as regras vigentes na Suécia, como os votos contra não eram mais de metade, o seu Governo passou.
No debate do orçamento, porém, o Partido do Centro, insatisfeito com as cedências de Andersson à esquerda, retirou apoio à governante. A consequência imediata foi que o mesmo Parlamento que elegera Andersson pela manhã deixou o orçamento em minoria à tarde. Chumbado o documento, os Verdes abandonaram a coligação.
ORÇAMENTO ALTERNATIVO APROVADO COM EXTREMA-DIREITA
Para cúmulo, os deputados suecos aprovaram a proposta de orçamento da oposição de direita: Partido Moderado (conservador), Democratas Cristãos e Democratas Suecos (formação de extrema-direita). Andersson começou por dizer que aceitava a situação, dispondo-se a executar esse orçamento, mas o Partido da Esquerda considerou inaceitável governar com um orçamento com a marca da extrema-direita.
O presidente do Parlamento, Andreas Norlén, disse ter aceitado a renúncia da primeira-ministra. Iniciará contactos com os líderes dos vários partidos com assento parlamentar na quinta-feira, antes de decidir como proceder.
Andersson chegou ao poder devido à saída de Löfven, que anunciou em agosto último que não se recandidataria a chefe do Partido Social Democrata. A então ministra foi a única candidata à liderança do partido e, uma vez eleita, Löfven demitiu-se no passado dia 10.