Tudo depende da evolução da situação pandémica, mas a retoma consistente da atividade turística, nunca acontecerá antes do próximo semestre. Para o presidente do Turismo do Algarve, as empresas vivem em estado de emergência e o impacto é global: hotéis, rent-a-cars, restauração, golfe, marítimo-turísticas, agências de viagem, animção, bares e discotecas.
P – Que análise faz o presidente do Turismo do Algarve da situação do setor, em termos gerais, desde o início da pandemia?
R – O setor do Turismo tem estado a viver praticamente em contexto de “estado de emergência”, com atividade residual ou nula, tendo apenas no passado verão tido alguma expressão, sobretudo devido à procura do mercado interno, o que é manifestamente insuficiente para a oferta instalada. O desgaste acumulado coloca o tecido empresarial na luta pela sobrevivência.
P – Entre os diferentes setores da atividade turística, quais os que mais se estão a ressentir desta crise?
R – O impacto é global, extensível a todos os segmentos da oferta, na medida em que a pandemia ditou uma quebra muito expressiva na procura, com especial ênfase nos mercados externos.
Não obstante, as atividades que se destinam a grupos (ex: guias intérpretes, MI, diferentes modalidades de transporte de turistas…), as atividades encerradas desde o início da pandemia por imperativos legais (ex: bares e discotecas), a oferta particularmente vocacionada para mercados externos (ex: golfe, rent-a-car, animação turística e marítimo-turísticas) e as agências de viagens foram das mais condicionadas, com impactos muito significativos.
Quebra da atividade no alojamento turístico foi muito expressiva: -62,1% das dormidas totais e igual desempenho quanto aos proveitos totais do alojamento
P – Na hotelaria pode quantificar as perdas verificadas até final do ano passado, no que respeita a dormidas e receitas?
R – De acordo com os dados do INE, apesar do Algarve ter sido a região que menos mercado interno perdeu (-23,2% das dormidas de residentes 2020, a par do Alentejo) e de no panorama nacional até ter consolidado a liderança na preferência dos turistas portugueses (28,1% das dormidas de residentes) e estrangeiros (33,2% das dormidas de estrangeiros), a quebra da atividade no alojamento turístico foi ainda assim muito expressiva: -62,1% das dormidas totais e igual desempenho quanto aos proveitos totais do alojamento.
Sabemos que é uma realidade transversal a todo o mundo e até que o Algarve “compara bem” com os seus concorrentes internacionais mais diretos, mas isso não evitou que o ano de 2020 tenha sido o pior ano turístico de que há memória para a região, sobretudo considerando a dimensão da oferta instalada e os postos de trabalho perdidos.
P – E a restauração, que efeitos está a ter a crise na viabilidade da maioria dos estabelecimentos e os reflexos no emprego?
R – A AHRESP informa que 51% das empresas inquiridas se encontra com a atividade totalmente encerrada e 44% afirma já ter efetuado despedimentos desde o início da pandemia. Destas, 19% reduziram em mais de 50% os postos de trabalho a seu cargo. Adicionalmente, 19% das empresas assumem que não vão conseguir manter todos os postos de trabalho até ao final do primeiro trimestre de 2021.
Todos os organismos apontam para que o reinício da atividade não acontecerá antes de meados do 2º trimestre
P – Como vai sair o turismo do Algarve desta crise sanitária? Em termos temporais, faz ideia quando é que se pode pensar no início da recuperação económica?
R – As últimas declarações do Sr. Presidente da República indiciam que apenas após a Páscoa será possível equacionar atividade turística. Até lá o grande desafio para o qual todos estamos convocados é o de conseguirmos debelar definitivamente esta recente vaga pandémica. Não obstante os vários imponderáveis que todos conhecemos quanto à incerteza do impacto de novas estirpes, à data e condições de acordo para regras comuns para viagens no espaço europeu, ou à capacidade da União Europeia em acelerar o plano de vacinação, todos os organismos apontam para que o reinício da atividade não acontecerá antes de meados do 2º trimestre e que a procura terá, à partida, um comportamento progressivo até ao verão.
É expectável que, numa primeira fase, o mercado interno alargado (Portugal e regiões fronteiriças de Espanha) seja a origem da maior parte dos visitantes, mas os sinais que nos chegam das reservas de voos do Reino Unido e também da Alemanha, embora ainda muito tímidos, são reveladores da vontade de alguns europeus em rumarem a sul. Tudo dependerá também da evolução pandémica nos nossos principais mercados emissores de turistas e dos respetivos planos de desconfinamento que vierem a adotar.
Importa salientar que o Algarve, sendo a região de Portugal continental que melhores indicadores epidemiológicos tem apresentado, tem condições para, tão breve quanto possível, receber turistas de diferentes origens.
Para tal, temos que recuperar a perceção de destino seguro nos mercados externos, assegurar ligações aéreas e comunicar a disponibilidade e condições para acolher turistas. Recorde-se que o Turismo do Algarve tem trabalhado desde a primeira hora com a Administração Regional de Saúde, por exemplo para a implementação de protocolos sanitários nas empresas. Fomos das primeiras regiões do mundo a apresentar um Manual de Boas Práticas – Covid e Turismo de Portugal foi igualmente pioneiro no Selo Clean&Safe. Estando garantido que o destino é seguro, importa comunicar essa realidade e gerar motivo de interesse para a visita. Neste sentido, a realização de três grandes eventos no período de meados de abril a início de maio, como o MotoGP, a Fórmula 1 (a confirmar) ou o Portugal Masters em Golfe, são excelentes oportunidades para comunicarmos ao mundo um destino seguro e pronto a receber. Acresce que antecipámos também com as principais companhias aéreas que servem a região a realização de campanhas conjuntas de destino. Por outro lado, o facto de se ter conseguido a manutenção da base da Ryanair em Faro e de se ter assegurado uma nova base da EasyJet (a inaugurar em março), as mais representativas para o Algarve, dá-nos uma vantagem fundamental, numa altura em que todas as companhias aéreas estão a reduzir frotas e tripulações, com as expectáveis consequências ao nível das rotas a estabelecer.
Salienta-se também que todos os estudos de tendência apontam para a preferência dos europeus para no período pós-confinamento procurarem destinos de lazer, em especial destinos de praia.
Algarve vai continuar a ser o principal destino turístico de Portugal
P – Faz sentido pensar a retoma económica do país sem o turismo do Algarve?
R – Não. Como a última crise bem deixou claro, o turismo é o único setor com dimensão e competitividade para nos fazer sair também desta crise. Não existe, infelizmente, outro setor em Portugal com igual expressão ao nível dos principais indicadores económicos (Emprego, PIB e Exportações), ou mesmo outro setor que no curto/ médio prazo possa vir a revelar essa capacidade.
O Algarve é o principal destino turístico do país e estou certo que vai continuar a sê-lo, pelo histórico que temos e pelos vários indicadores de que dispomos. Não obstante, não pode deixar de estar na linha da frente dos desafios da sustentabilidade e de um destino inteligente, razão pela qual estamos a trabalhar em várias ações neste sentido (ex: Observatório de Turismo Sustentável ou programa RIA- Região Inteligente Algarve).