Portugal esgota na terça-feira os recursos disponíveis para este ano, passando a consumir recursos que só deviam ser usados em 2025, indicam dados da organização internacional “Global Footprint Network”.
Disponíveis na página da organização os dados são também divulgados hoje pela associação ambientalista portuguesa Zero, que destaca que se cada pessoa no planeta vivesse como uma pessoa média portuguesa, a humanidade exigiria cerca de 2,9 planetas para sustentar a sua utilização de recursos.
Mas a associação refere também que Portugal atrasou em três semanas o dia em que passa a usar o “cartão de crédito”, visto que no ano passado esgotou os recursos em 07 de maio.
Porém, explica a Zero, o recuo no impacto da pegada ecológica por comparação com 2023 resulta do facto de algumas das variáveis utilizadas para contabilização dos consumos serem relativas a 2020 e nesse ano a pandemia de covid-19 levou a uma paragem generalizada da atividade económica a partir de março.
Se os cálculos implicassem uma situação real, o que acontecia a partir de terça-feira era que a área produtiva disponível para regenerar recursos e absorver resíduos esgotava-se.
A Zero salienta em comunicado que Portugal é já há muitos anos deficitário na capacidade de fornecer os recursos naturais necessários às atividades desenvolvidas (produção e consumo). Mas sublinha uma tendência positiva de uma pequena redução da “dívida ambiental”.
O consumo de alimentos, (30% da pegada global do país) e a mobilidade (18%) estão, assinala a Zero, entre as atividades que mais contribuem para a pegada ecológica de Portugal.
A associação sugere medidas para melhorar a situação, como a aposta numa agricultura que dê preferência a alimentos de qualidade, preservação dos solos, redução da poluição e do uso de água e valorização dos ecossistemas.
E que se aposte mais no teletrabalho eliminando viagens, especialmente de avião, que se invista em estruturas que permitam a utilização dos chamados “transportes suaves”, como a bicicleta, e se regulamente para que os produtos colocados no mercado sejam sustentáveis (qualidade, possibilidade de reparar, de reutilizar e de reciclar).
Cada português pode fazer recuar mais o dia em que se esgotam os recursos se reduzir o consumo de proteína animal (atualmente consome três vezes mais do que era desejável), se privilegiar os transportes coletivos e a mobilidade suave, e se consumir de forma mais circular, tendo menos e de melhor qualidade em vez do comum “usar e deitar fora”.
A Pegada Ecológica avalia as necessidades humanas de recursos renováveis e serviços essenciais e compara-as com a capacidade da Terra para fornecer tais recursos e serviços (biocapacidade).
No cálculo para determinar o dia da sobrecarga do planeta a “Global Footprint Network” colocou a União Europeia a esgotar os recursos que lhe eram destinados em 03 de maio.
Mas o país que primeiro esgotou os recursos foi o Qatar, logo em 11 de fevereiro, seguindo-se o Luxemburgo, no dia 20, os Emirados Árabes Unidos, em 04 de março, e os Estados Unidos, em 14 de março.
Os últimos países a esgotar os seus recursos serão o Equador e a Indonésia, em 24 de novembro, o Iraque em 15 e a Jamaica em 12.
Contabilizando os dados de todos os países a organização calcula o dia em que os recursos do planeta para o ano são gastos, passando a viver de recursos que só deveria usar no próximo ano. Em 2023 esgotaram-se em 02 de agosto.
No próximo dia 05 será anunciada a data em que os recursos da Terra para 2024 se esgotam.
Leia também: Conheça a cidade do Algarve que foi em tempos o centro do mundo